quinta-feira, 5 de novembro de 2020

MANHA E INTELIGÊNCIA

 

Os cães não param de surpreender-nos, quando pensamos que já vimos de tudo, surge um novo que nos deixa boquiabertos pela sua manha ou inteligência e nunca foi fácil lidar com cães inteligentes, porque sempre tendem a arruinar os planos dos donos, a resistir-lhes, a fazerem-se desentendidos e por vezes até doentes, para não fazerem aquilo que lhes é pedido. A capacidade de aprendizagem de um cão é genética, advém do impulso herdado ao conhecimento, mas a manha não, é de origem ambiental e adquirida através da coabitação com o grupo humano ao redor do animal, particularmente com aqueles que lidam mais de perto com ele. Donos inexperientes e cães inteligentes são a melhor das combinações para transformar os últimos nuns manhosos por excelência, algo que eventualmente poderá estar ainda relacionado com uma envergonhada liderança humana e com um forte impulso ao poder canino. Uma coisa é certa: os cães manhosos alimentam-se dos erros dos donos!

Por causa da hierarquia que sustenta o seu viver social, os cães saudáveis são competitivos e espreitam sempre uma oportunidade para a sua promoção, não vendo por isso com bons olhos a sua subordinação e quando num grupo humano só há um e é merecedor de todos os cuidados, acaba por tentar pôr todos ao seu serviço, mostrando-se por vezes um reizinho mal-humorado, que detesta ser incomodado e que espera que lhe façam todas as vontades. Quando a postura doméstica dos donos é diferente da escolar, subvertem o cumprimento das ordens, não operam reparos, confundem os comandos ou usam de vários para o mesmo movimento ou figura, é mais do que certo que o cão não cumprirá à primeira tudo aquilo que não apetecer fazer, salivando, fazendo-se de surdo, mostrando-se apático ou ofendido, para além de reparar em tudo à sua volta, menos no dono.

Quando as coisas chegam a este ponto, os donos ficam a falar para as paredes e os cães a olhar para o boneco, os primeiros esgotam-se indevidamente a repetir aos ordens e os últimos parecem para ausentes, desconhecê-las ou ter-lhes uma profunda aversão. Para salvar o código e instalar os comandos que o constituem, irá ser necessário um comando que suscite dos animais a atenção desejada, a usar antes da ordem propriamente dita, para que o cão atente para o seu condutor e cumpra-a. Quando é que deixaremos de proceder assim? No nosso caso, que somos adeptos e usamos em paralelo a linguagem gestual com a verbal, quando o cão cumpre imediatamente e só ao gesto todas as ordens, o comando da chamada (1) de atenção torna-se dispensável, supérfluo – já não faz falta a ninguém!

(1)Comando que poderá ser compensatório, lúdico ou persuasivo, dependendo isso do particular psicológico de cada cão e da natureza da ordem a cumprir.

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