Se
as suspeitas que recaem sobre Luis Filipe Vieira, actual presidente do Benfica,
vierem a ser confirmadas, tal não dignificará o futebol, mas sim a justiça
portuguesa, que a julgar pelo que se ouve por aí, também anda a precisar de
algumas vitórias. Sempre ouvi dizer que “a política corrompe” e tenho assistido
à debandada de políticos para o futebol, que tanto podem ocupar cargos
governamentais, permanecer nas bancadas do hemiciclo de São Bento, ser
paineleiros (1), como dirigir clubes desportivos. Julgo que
isto não tem nada a ver com a procura do poder, com o populismo e com a caça ao voto.
Pelas
mútuas acusações que tornam públicas, os maiores clubes de futebol portugueses,
quiçá à imitação de outros lá fora, parecem irremediavelmente enredados numa
imensa teia de corrupção que envolve vários crimes, havendo quem acuse alguns
de pagamento de luvas, suborno, coação, branqueamento de capitais e lavagem de
dinheiro, o que não me causa qualquer espanto atendendo ao facto do futebol ser
um negócio global que engloba infindos milhões de euros ou de dólares. E se
isto tudo for verdade, estamos perante uma das maiores máfias de todos os
tempos, diante de um polvo à escala global, que parece já identificado e que poderá
eventualmente ter na ponta mais frágil de um dos seus tentáculos, periclitando
ao sabor das correntes, dois ou três clubes nacionais (os chamados grandes),
por norma endividados ou próximos da linha de água, o que torna a dimensão de
Luis Filipe Vieira pouco interessante.
Tenho
por certo, face ao que tenho observado, lido e ouvido, diante da morosidade da
justiça e dos repetidos recursos, que quanto maior for o número de envolvidos
num processo, menor será o número de condenações, apesar de sempre se arranjar
um ou dois culpados, mais para dignificar a justiça e não provocar a ira
popular, do que por outro motivo qualquer, particularmente quando os envolvidos
são gente graúda e os montantes em causa são astronómicos. Na hipótese remota
de Luis Filipe Vieira vir a ser condenado, apesar de lhe faltar retórica e
eloquência, mas sobrando-lhe muita lata, ainda poderá dizer-se inocente e
dominado por alto espírito patriótico, porque ao alcançar vitórias menos
lícitas para o Benfica, que é o maior clube português, fê-lo a pensar na Nação,
em dar-lhe um novo ímpeto, maior esperança e redobrada alegria! É-me
indiferente se Vieira for condenado ou não, não lhe fiz nenhuma denúncia
anónima nem faço menção de o fazer, mas não dispenso o combate à corrupção que
não se esgota no futebol e que poderá inclusive endividar várias gerações de
portugueses. Há quem diga que tudo isto é resultado do pecado original, logo
próprio da natureza humana, mas se é, que venha a Redenção!
(1)Plural de tratamento jocoso dado a um indivíduo que faz parte de um painel ou de um grupo de pessoas que debatem publicamente determinados assuntos, neste caso futebol nas televisões.
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