terça-feira, 10 de novembro de 2020

NÓS POR CÁ: AS SUSPEITAS SOBRE LUIS FILIPE VIEIRA

 

Se as suspeitas que recaem sobre Luis Filipe Vieira, actual presidente do Benfica, vierem a ser confirmadas, tal não dignificará o futebol, mas sim a justiça portuguesa, que a julgar pelo que se ouve por aí, também anda a precisar de algumas vitórias. Sempre ouvi dizer que “a política corrompe” e tenho assistido à debandada de políticos para o futebol, que tanto podem ocupar cargos governamentais, permanecer nas bancadas do hemiciclo de São Bento, ser paineleiros (1), como dirigir clubes desportivos. Julgo que isto não tem nada a ver com a procura do poder, com o populismo e com a caça ao voto.

Pelas mútuas acusações que tornam públicas, os maiores clubes de futebol portugueses, quiçá à imitação de outros lá fora, parecem irremediavelmente enredados numa imensa teia de corrupção que envolve vários crimes, havendo quem acuse alguns de pagamento de luvas, suborno, coação, branqueamento de capitais e lavagem de dinheiro, o que não me causa qualquer espanto atendendo ao facto do futebol ser um negócio global que engloba infindos milhões de euros ou de dólares. E se isto tudo for verdade, estamos perante uma das maiores máfias de todos os tempos, diante de um polvo à escala global, que parece já identificado e que poderá eventualmente ter na ponta mais frágil de um dos seus tentáculos, periclitando ao sabor das correntes, dois ou três clubes nacionais (os chamados grandes), por norma endividados ou próximos da linha de água, o que torna a dimensão de Luis Filipe Vieira pouco interessante.

Tenho por certo, face ao que tenho observado, lido e ouvido, diante da morosidade da justiça e dos repetidos recursos, que quanto maior for o número de envolvidos num processo, menor será o número de condenações, apesar de sempre se arranjar um ou dois culpados, mais para dignificar a justiça e não provocar a ira popular, do que por outro motivo qualquer, particularmente quando os envolvidos são gente graúda e os montantes em causa são astronómicos. Na hipótese remota de Luis Filipe Vieira vir a ser condenado, apesar de lhe faltar retórica e eloquência, mas sobrando-lhe muita lata, ainda poderá dizer-se inocente e dominado por alto espírito patriótico, porque ao alcançar vitórias menos lícitas para o Benfica, que é o maior clube português, fê-lo a pensar na Nação, em dar-lhe um novo ímpeto, maior esperança e redobrada alegria! É-me indiferente se Vieira for condenado ou não, não lhe fiz nenhuma denúncia anónima nem faço menção de o fazer, mas não dispenso o combate à corrupção que não se esgota no futebol e que poderá inclusive endividar várias gerações de portugueses. Há quem diga que tudo isto é resultado do pecado original, logo próprio da natureza humana, mas se é, que venha a Redenção!

(1)Plural de tratamento jocoso dado a um indivíduo que faz parte de um painel ou de um grupo de pessoas que debatem publicamente determinados assuntos, neste caso futebol nas televisões.

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