domingo, 15 de novembro de 2020

DEIXAR PULAR OU NÃO, EIS A QUESTÃO!

 

PREÂMBULO: Sempre serão as expectativas dos donos a determinar qual o tipo de ensino a ministrar aos seus cães, quando tal for possível, escolha que terá implicações no futuro comportamento e desempenho dos animais, cabendo unicamente aos adestradores aconselhar os donos, ajudá-los a alcançar os seus objectivos e capacitar os cães sem colocar em risco o seu bem-estar.

No adestramento, como de resto em muitas coisas na vida, não há verdades absolutas, porque aquilo que se despreza em determinada disciplina cinotécnica pode vir a revelar-se de extrema utilidade noutra. Para melhor compreensão do que acabamos de afirmar, lançamos a seguinte questão: os donos deverão consentir que os cães pulem sobre eles ou não? Antes de respondermos à pergunta, importa explicar porque agem os cães assim e como evitar que o façam. Este comportamento tem a sua origem no implorar da comida pelos cachorros, que quando a mãe volta da caçada, lambem a sua boca para que ela regurgite a comida e possam saciar-se. Com o tempo, este comportamento tornar-se-á num ritual de saudação entre os cães e estes tenderão a cumprimentar os donos assim, pulando sobre eles.

Para impedir que os cães saltem ou pulem sobre os donos, dever-se-á redireccionar esse comportamento mal ele se manifeste, só permitindo os donos ser cumprimentados pelos cães quando estes estiverem com as quatro patas no chão (deixarem de se empoleirar), o que implica em não reagir ao pular, não olhar directamente para os cães, não lhes tocar, acariciar ou estender-lhes os braços, porque os animais poderão entender qualquer uma destas reacções como uma aceitação desse comportamento. Perante a persistência dos animais, o melhor que há a fazer é ignorá-los, afastar-se deles e rumar a outro lugar. A alteração deste comportamento é mais célere nos cachorros, porque os pulos constantes são para eles demasiado cansativos. 

Mas mesmo assim, caso voltem a pular sobre os donos, importa recuar três passos, acção que os animais entenderão como uma rejeição do seu comportamento. O que é válido para os cachorros é igualmente válido para os cães adultos, que com o auxílio da trela depressa abandonarão este comportamento. Curiosamente, quando os cães pulam eufóricos sobre os donos, rapidamente passam a perseguir carteiros, ciclistas e corredores. Por norma, quando isso acontece e perante a aproximação destes indivíduos, aconselha-se distrair os animais e dar-lhes guloseimas, o que é óptimo para os cães de companhia, mas sê-lo-á para os destinados à segurança? Não deverão eles saltar sobre os seus opositores e derrubá-los?

Para compensar os cães cujos donos são do tipo “não saltes para cima de mim”, “não me toques”, “não me sujes” e “não me aleijes”, mas que mesmo assim desejam-nos para sua segurança, ensinamos-lhes e muito insistimos no APC, que outra coisa não é que um conjunto de saltos ordenados sobre os donos, que visa a perca de receios dos animais e o seu encorajamento para acções futuras. Sim, os cães devem saltar sobre os donos, mas só quando estes lhes ordenarem, porque doutro modo temerão tocar-lhes e procederão de igual modo com os possíveis meliantes, desprezando golpes que poderiam dar-lhes vantagem no confronto directo.

E quanto à perseguição de carteiros, ciclistas e corredores? Como há muito sabemos dessa possibilidade e já constatámos o problema, sempre associamos os ciclistas e as bicicletas ao trabalho, transformando-os em obstáculos a vencer e não em inimigos a perseguir, razão mais do que suficiente para que deixem de persegui-los. Por outro lado, sempre pedimos aos corredores que connosco se cruzam que conduzam por alguns momentos os nossos cães à trela, para que os animais consigam entendê-los como membros do grupo escolar e não como intrusos. Com a insistência nestas acções e noutras participações, os corredores poderão correr à vontade sem temer que algum dos nossos cães lhes rompa os fundilhos ou queira aquilatar da sua velocidade ou resistência. O problema dos carteiros tanto pode ser resolvido pela sociabilização como pelo isolamento do animal, o que irá  impedi-lo de sinalizar este funcionário.

Os cães deverão pular ou empoleirar-se sobre os donos? Na maioria dos casos não, muitas vezes por razões ligadas até à própria salvaguarda da integridade física dos donos, mas alguns poderão fazê-lo debaixo de ordem explícita nesse sentido, o que aumentará a sua audácia e perícia nas acções defensivas. Ao invés, todos aqueles donos que evitam a todo o custo que os seus cães saltem para eles, não lhes dando autorização para isso, poderão estar a aumentar-lhes os receios e a condicionar-lhes de sobremaneira a sua prestação e salvaguarda.

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