PREÂMBULO: Sempre serão as expectativas dos donos a
determinar qual o tipo de ensino a ministrar aos seus cães, quando tal for
possível, escolha que terá implicações no futuro comportamento e desempenho dos
animais, cabendo unicamente aos adestradores aconselhar os donos, ajudá-los a
alcançar os seus objectivos e capacitar os cães sem colocar em risco o seu
bem-estar.
No
adestramento, como de resto em muitas coisas na vida, não há verdades absolutas,
porque aquilo que se despreza em determinada disciplina cinotécnica pode vir a
revelar-se de extrema utilidade noutra. Para melhor compreensão do que acabamos
de afirmar, lançamos a seguinte questão: os
donos deverão consentir que os cães pulem sobre eles ou não? Antes de
respondermos à pergunta, importa explicar porque agem os cães assim e como
evitar que o façam. Este comportamento tem a sua origem no implorar da comida
pelos cachorros, que quando a mãe volta da caçada, lambem a sua boca para que
ela regurgite a comida e possam saciar-se. Com o tempo, este comportamento
tornar-se-á num ritual de saudação entre os cães e estes tenderão a
cumprimentar os donos assim, pulando sobre eles.
Para
impedir que os cães saltem ou pulem sobre os donos, dever-se-á redireccionar esse
comportamento mal ele se manifeste, só permitindo os donos ser cumprimentados pelos
cães quando estes estiverem com as quatro patas no chão (deixarem de se
empoleirar), o que implica em não reagir ao pular, não olhar directamente para
os cães, não lhes tocar, acariciar ou estender-lhes os braços, porque os
animais poderão entender qualquer uma destas reacções como uma aceitação desse
comportamento. Perante a persistência dos animais, o melhor que há a fazer é
ignorá-los, afastar-se deles e rumar a outro lugar. A alteração deste
comportamento é mais célere nos cachorros, porque os pulos constantes são para
eles demasiado cansativos.
Mas
mesmo assim, caso voltem a pular sobre os donos, importa recuar três passos,
acção que os animais entenderão como uma rejeição do seu comportamento. O que é
válido para os cachorros é igualmente válido para os cães adultos, que com o
auxílio da trela depressa abandonarão este comportamento. Curiosamente, quando os
cães pulam eufóricos sobre os donos, rapidamente passam a perseguir carteiros,
ciclistas e corredores. Por norma, quando isso acontece e perante a aproximação
destes indivíduos, aconselha-se distrair os animais e dar-lhes guloseimas, o
que é óptimo para os cães de companhia, mas sê-lo-á para os destinados à
segurança? Não deverão eles saltar sobre os seus opositores e derrubá-los?
Para compensar os cães cujos donos são do tipo “não saltes para cima de mim”, “não me toques”, “não me sujes” e “não me aleijes”, mas que mesmo assim desejam-nos para sua segurança, ensinamos-lhes e muito insistimos no APC, que outra coisa não é que um conjunto de saltos ordenados sobre os donos, que visa a perca de receios dos animais e o seu encorajamento para acções futuras. Sim, os cães devem saltar sobre os donos, mas só quando estes lhes ordenarem, porque doutro modo temerão tocar-lhes e procederão de igual modo com os possíveis meliantes, desprezando golpes que poderiam dar-lhes vantagem no confronto directo.
E
quanto à perseguição de carteiros, ciclistas e corredores? Como há muito
sabemos dessa possibilidade e já constatámos o problema, sempre associamos os
ciclistas e as bicicletas ao trabalho, transformando-os em obstáculos a vencer
e não em inimigos a perseguir, razão mais do que suficiente para que deixem de
persegui-los. Por outro lado, sempre pedimos aos corredores que connosco se
cruzam que conduzam por alguns momentos os nossos cães à trela, para que os
animais consigam entendê-los como membros do grupo escolar e não como intrusos.
Com a insistência nestas acções e noutras participações, os corredores poderão
correr à vontade sem temer que algum dos nossos cães lhes rompa os fundilhos ou
queira aquilatar da sua velocidade ou resistência. O problema dos carteiros
tanto pode ser resolvido pela sociabilização como pelo isolamento do animal, o
que irá impedi-lo de sinalizar este
funcionário.
Os cães deverão pular ou empoleirar-se sobre os donos? Na maioria dos casos não, muitas vezes por razões ligadas até à própria salvaguarda da integridade física dos donos, mas alguns poderão fazê-lo debaixo de ordem explícita nesse sentido, o que aumentará a sua audácia e perícia nas acções defensivas. Ao invés, todos aqueles donos que evitam a todo o custo que os seus cães saltem para eles, não lhes dando autorização para isso, poderão estar a aumentar-lhes os receios e a condicionar-lhes de sobremaneira a sua prestação e salvaguarda.
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