Ontem,
na cidade francesa de Passage, na região administrativa da Nouvelle-Aquitaine,
no Departamento de Lot-et-Garonne, um Bull Terrier atacou um cachorro
Beauceron. Desesperadas, as três senhoras que acompanhavam o cachorro, uma mãe,
a filha desta e uma amiga, ao tentarem protegê-lo, foram todas mordidas. A mãe,
que sofreu feridas num pulso e numa coxa, ficou dois dias dispensada do
trabalhar por incapacidade temporária de trabalho (ITT) e as outras duas
senhoras apenas um dia. O cachorro, com uma pata partida, teve que receber
tratamento médico-veterinário. O dono do Bull Terrier comprometeu-se a pagar
todas as despesas relativas ao tratamento das senhoras e do desafortunado
cachorro.
Em
todas as raças caninas existem bons e maus exemplares, dependendo esta
classificação do fim que cada um quiser dar aos cães. Quem não quer arranjar um
problema sério com um Bull Terrier e ver-se envolvido em trabalhos
desnecessários, não o compra às escuras (através da Internet), vai conhecer os
pais do cachorro e inteirar-se o mais possível sobre a sua família directa e linha
de criação. Deverá iniciar a sua procura pelos criadores que concorrem aos
shows de conformação (beleza), a quem não convém ter animais belicosos ou
agressivos, o que só por si não é uma garantia absoluta, porque os cães são
indivíduos e diferem uns dos outros, mesmo que sejam irmãos de ninhada.
O Bull
Terrier, quando valente e predisposto a atacar, quer seja macho ou fêmea e
independentemente do dimorfismo existente na raça, que é menor do que o
verificado na maioria das restantes, tem entre outras particularidades, a
faculdade de usar o seu corpo como bala, dotando-o de uma força de derrube
fantástica, de procurar imediatamente a cara ou o pescoço dos seus opositores e
de ser praticamente indiferente aos castigos que lhe são infligidos. Para além
disto, ele troca facilmente de alvos, de animais para pessoas e vice-versa, o
que o torna num “varredor” por excelência, levando na sua frente tudo o que se
atravessar no seu caminho, que foi exatamente o que aconteceu em Passage.
Inesperadamente para quem o desconhece, os seus ataques são inatos e
instintivos, dispensando por isso qualquer condicionamento prévio. Assim, a
capacidade laboral deste cão para os distintos serviços é esmagadoramente
genética e quase nada adquirida, pelo que importa acertar na compra.
É possível alcançar com ele altos índices de obediência, mas nunca absolutos, a menos que venha a ser castrado. Porque é um cão que resiste à memória mecânica e encanta-se pela afectiva, amuando naturalmente quando contrariado, aborrecimento de breve passagem perante uma acção do seu agrado. Tendencialmente marca e nunca se esquece daqueles que o provocam ou desafiam, vindo a rondá-los dissimuladamente à espera que surja uma oportunidade para cair-lhes em cima. E fá-lo de forma tão dissimulada que até chega a lamber e a abanar a cauda para aqueles que pretende vir a capturar. No entanto, nunca esquece um amigo e com facilidade fará equipa com ele.
Quem vem das tradicionais raças alemãs de “esquerdo-direito”, seleccionadas para um adestramento célere por via da memória mecânica, acaba por não se entender a princípio com este cão inglês, que faz tudo a partir da brincadeira e da experiência feliz, que prefere correr a ficar parado, perseguir ao invés de andar alinhado. E quando há engenho para lhe satisfazer as vontades, este cão parece desfigurar-se, revelando-se um atleta pouco visto e com uma vontade indómita. Por tudo isto e para o bem de todos, um Bull Terrier amigo é aquele que sai à rua atrelado e com o açaime posto.
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