Um amigo nosso mandou-nos
um email da autoria de David Martelo, pessoa que desconhecemos mas que suspeitamos
ser militar, cujo conteúdo vamos agora transcrever integralmente: “Durante a
Convenção do Bloco de Esquerda, o deputado Pedro Filipe Soares iniciou a sua intervenção
com o seguinte vocativo: “Camaradas e Camarados”. A expressão causou algum espanto
e não poucos sorrisos, mas não demorou muito tempo a percebermos que, para além
de se não tratar de um lapso, estávamos no limiar de um novo cenário
civilizacional. Em artigo publicado no jornal Público de 20 de Novembro, Pedro
Filipe Soares justifica a originalidade da expressão argumentando que “o modelo
patriarcal e machista de sociedade modela os idiomas”.
Depois das consolidadas
críticas ao “politicamente correcto”, está aberta a caça ao “gramaticalmente
correcto”. Habituados aos termos camarada e camaradagem, é altura de os
militares se irem preparando para as necessárias mudanças no dispositivo. Assim
– começando pelo princípio – passará a haver recrutas e recrutos, soldados e
soldadas. Não se riam! Na instrução, as recrutas armar-se-ão de espingarda e os
recrutos de espingardo. A primeira poderá ter baioneta calada e o segundo
baioneto calado. Elas terão uma mochila e eles um mochilo. Eles segurarão os
calços com um cinto e elas segurarão as calças com uma cinta. Na cabeça usarão
boina ou boino.
Quando
forem para o campo, os recrutos montarão bivaco e as recrutas montarão bivaca.
No quartel, as recrutas dormirão numa caserna e os recrutos num caserno. Eles
irão comer ao refeitório e elas à refeitória. Para começar o dia, haverá dois
toques: o de alvorada e o de alvorado. Há noite, do mesmo modo, haverá toque de
silêncio e de silência. Nas patentes, também haverá identificação do género:
caba/cabo; sargenta/sargento; tenenta/tenento; capitoa/capitão; majora/major;
coronela/coronel, etc. Nas unidades haverá um comandante ou comandanta; o
primeiro deve ser competente e inteligente e a segunda competenta e
inteligenta. Se se portarem bem, as recrutas poderão ir de licença e os
recrutos de licenço. No final da instrução, haverá juramenta de bandeira e
juramento de bandeiro. Todos desfilarão garbosamente, eles com o passo certo e
elas com a passa certa. Uff!"
Por este andar, agora
dizemos nós, um indivíduo ver-se-á obrigado a pedir desculpas por ter nascido
homem e ser heterossexual. Futuramente ficará sujeito a uma taxa adicional ou a
um imposto extraordinário? Não me admirava nada!
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