terça-feira, 13 de novembro de 2018

A MAIORIA DAS DENTADAS CANINAS NÃO SÃO INTENCIONAIS E PODEM SER EVITADAS

Apesar de existirem por toda a parte cães de aspecto famélico que têm como missão capturar homens, que comem rações precárias e que são engodados em função do enterrar dos seus dentes, tanto no treino como no desempenho das suas missões, no que lembram lobos esfaimados, afortunadamente o seu número é muito reduzido e raramente deles tomamos conhecimento. Não obstante, qualquer mordiscadela, dentada acidental ou não intencional, mesmo que deferida pelo nosso cão ou por outro que conhecemos bem, é por norma entendida como parte de um ataque canino inequívoco, coisa que jamais aconteceria se os cães não tivessem dentes! Estes “ataques” acidentais, em número bastante superior aos intencionais, mais resultam da ignorância dos homens do que da genética dos animais, a mesma ignorância que é responsável pela detenção e morte de muitos cães diariamente, que sendo histórica e associada à cobardia, ainda perpetua uma sentença que estamos cansados de ouvir – “Se o meu cão me morder ou a alguém dos meus, mato-o logo!”, deliberação que os cinófobos logo aclamam e aplaudem de pé.
Nestas andanças de ”menino para cá e menina para lá”, modo citadino, antropomórfico e paradigmático com que muitos tratam agora os cães, endereçando-lhes uma filiação alheia que não compreendem, nunca houve tanta ignorância relativa a estes animais, porque as modas pegam de estaca, o vulgo resiste em informar-se e nem tão pouco tem a experiência das gerações anteriores, as oriundas do mundo rural, que dividiam as suas vidas e tarefas “mano-a-mano” com os cães e outros animais. Sem o contributo dos conhecimentos erudito e empírico necessários, os ataques caninos inusitados aumentam diária e assustadoramente à sombra de donos que, outrora encantados, acabam profundamente surpresos e chocados. Esta situação é de um contra-senso incomensurável diante do fácil acesso que temos hoje à informação, debilidade que a antropologia, a psicologia e até a teologia explicam, cada qual a seu modo, servindo-lhes a filosofia de permeio, ainda que seja a soberana política a mandar, porque só ela consegue alcançar o apoio popular através de medidas aparentemente favoráveis às massas.    
Continua a não fazer parte dos planos do comum proprietário canino, nem mesmo “a longo prazo”, comprar um livrinho ou dois sobre comportamento animal, porque a sua subjectividade não abrange tanto e anda por demais ocupado em encontrar predicados que tornam o seu cão único, particularmente aqueles que mal interpreta e que tanto lhe podem ser fatais como causar vítimas dentro e fora de casa. Graças à mesma “agudeza de espírito”, que não gera outra coisa a não ser estranheza, há por aí muita gente que compra primeiro o cão e que só depois se informa sobre a raça, também indivíduos que isentam os seus cães de regras e que vivem em função daquelas que são impostas pelos animais. Como resultado desta ignorância e despreparo, que tanto exalta “encantadores”, idosos e crianças acabam por ser as vítimas preferenciais dos cães, porque são apelativas, estão sempre à mão e oferecem pouca resistência. Ambos acabam por estar no local e hora errados sem saber por que razão e muitas crianças acabam no hospital com prognóstico reservado por terem participado em “inocentes” brincadeiras com cães. Quem é que ainda não viu pais a “empurrar” crianças para cima de cães desconhecidos e aparentemente mansos?
Na actual concepção das coisas, os cães são todos mansos e adoráveis, jamais territoriais e possessivos, umas angelicais criaturas que só são más por causa dos donos e dos maus-tratos que receberam, como se não fossem caçadores (predadores) e no leque dos seus impulsos herdados não constassem os referentes à defesa, à luta e ao poder. Quem assim pensa e age, sujeita-se e sujeita os seus a um sem número de arremetidas caninas, provocando involuntariamente o descontrolo dos animais, indução que poderá levá-los a cobrar o preço de tal despropósito, sem que previamente tenham demonstrado alguma predisposição para isso (os cães também são surpreendidos). Estas patéticas induções, quando repetidas amiúde, ao operar a sua potenciação, são força mais do que suficiente para transformar um cordeiro num leão, um simples cachorrinho num cão rude, violento e anti-social, que se julga maior que o seu tamanho real. Não estará na hora de cada um levar o seu cão a uma escola e treiná-lo ali convenientemente, ao invés de ensinar-lhe truques circenses e outras macacadas?
Hoje, mais do que nunca, considerando o grande número de cães existente, o alto grau de ignorância presente em muitos donos e o exagerado montante dos ataques caninos, o treino deverá ser orientado para os dois - donos e cães, obrigando os primeiros a aulas teóricas para facilitar o seu desempenho binomial, subsidiar a sua defesa e o bem-estar alheio. Para além disto e de igual importância, ao procedermos assim, estamos a evitar que muitos cães morram desnecessariamente, como se fossem bestas irrecuperáveis, malévolas e sanguinárias, o que na verdade não são. Sim, a maioria dos ataques caninos acontece por provocação humana, graças à ignorância que nada antevê e que em simultâneo ignora o resultado das suas acções. Sim, mais uma vez: podemos reduzir o número dos ataques caninos ao educar os donos, já que a maior parte deles é circunstancial e não intencional, o que nos obriga a reaprender a caminhar lado a lado com os cães.

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