No meio desse comboio
humano de miseráveis que se estende das Honduras até à fronteira do México com
os Estados Unidos, calculado em 7.000 pessoas, viaja um jovem hondurenho que se
faz acompanhar por um Pitbull, animal agora baptizado por “Bolillo”, depois que
entrou em terras mexicanas, nome dum pão tradicional mexicano de baixo custo
feito com farinha branca de trigo, que é exactamente a única coisa que lhe dão
depois de ter cruzado o Rio Suchiate e ter vencido mais de 1.000 km. O nome “Bolillo
é também uma maneira depreciativa dos latino-americanos se referirem aos
americanos caucasianos, que segundo eles são também brancos e sem sabor.
O dono do cão é um jovem
hondurenho que se chama Adalberto López, natural de San Pedro Sula, nas
Honduras, que se faz acompanhar de todos os documentos oficiais relativos à sua
pessoa e ao cão, um jovem envergonhado e optimista que acredita que a sua árdua
jornada será coroada de sucesso e, se porventura vier a morrer, morrerá com o
seu grande amigo ao lado (oxalá tal profecia não se cumpra). Entretanto, o cão transformou-se
num especialista a saltar e a andar em trailers e camiões de carga, animal que
o dono diz aceitar carícias de estranhos, ser completamente inofensivo e ter
sido educado para tratar bem as pessoas.
Diante desta situação, se
um guarda fronteiriço americano vier a atirar sobre este binómio migrante, quem
alvejará de imediato? Quem terá melhor aceitação nos Estados Unidos, o dono ou
o cão? Há coisas que não se coadunam com a minha cultura judaico-cristã e de tal
maneira me confundem, que vejo a realidade e julgo-a ficção. Queira Deus que
ambos cheguem sãos e salvos aos States e encontrem o sonho americano que
procuram, forçados pela miséria, pela violência e pela fome. E se porventura
não os deixarem passar, que ao menos lhes poupem as vidas e não os separem. Eu
quero que este drama humano tenha um final feliz, pois importo-me com a pessoa
do Adalberto hondurenho e com o seu fiel companheiro de jornada, vidas desesperadamente
obrigadas a lutar pela sobrevivência - eu sempre quero ter notícias dos dois!
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