Segundo notícia que nos
chega de BESANÇON, comuna
francesa situada no Departamento do Doubs, na Região de Borgonha, os caracóis
estão a ser utilizados como ferramentas (biomarcadores) para medir a poluição e
a qualidade do meio ambiente, segundo um experimento com estes gastrópodes
levado a cabo pelo LABORATÓRIO
DO CNRS DA UNIVERSIDADE DE FRANCHE-COMTÉ, da responsabilidade da
pesquisadora ANNETE
DE VAUFLEURY desde 1990, sob os auspícios do seu colega
ecotoxicólogo FRÉDÉRIC
GIMBERT.
Os caracóis porquê? Por
causa da sua capacidade de armazenar informações nos seus tecidos, já que o
caracol se encontra localizado na interface entre o solo, as plantas e o ar,
comendo solo e vegetação, para além de ter um pulmão onde poderão ser
encontradas partículas. A partir daí os cientistas poderão encontrar diferentes
fontes de contaminação durante as análises, porque ele é também capaz de
concentrar substâncias no seu corpo, particularmente na sua glande digestiva.
Quanto mais o animal vive, maior será a acumulação das substâncias que
concentrará nos seus tecidos, partículas praticamente indetectáveis nos solos
por serem muito pequenas, o que torna o caracol um bioindicador por excelência,
porque reflecte a qualidade do ambiente em que vive.
Como tudo se processa? Os ovos
são fornecidos pelos criadores e os estes gastrópodes são criados no “berçário”
do laboratório. Quando atingem o estágio sub-adulto, a partir dos 2 meses de
vida, os caracóis passam um ou dois meses no solo, numa gaiola cilíndrica de
aço inoxidável. Por norma existem 3 gaiolas por parcela, com 10 ou 15 caracóis
lá dentro, não mais, porque todos eles ~em que comer. Durante esse período de
tempo, os gastrópodes colectam e concentram directamente as substâncias
presentes no solo, nas plantas e na atmosfera, exactamente como o fariam quando
entregues a si próprios. Depois são levadas amostras regulares para testes em
laboratório, extraídas, segundo dizem, de acordo com os sistemas mais éticos
possíveis, por meio de amostras não letais, equivalentes a tirar amostras de
sangue.
O que se procura? A grosso
modo, a poluição a que os humanos podem estar expostos. Na análise das
substâncias tanto se pode pesquisar tudo como saber com antecedência o que
procurar, como aconteceu num trabalho realizado em Nord-Pas-de-Calais, no local
de Metaleurope, com o problema de chumbo e zinco, segundo conta Frédéric
Gimbert. "Na
Alsácia, trabalhamos em parcelas de vinhedos com pesticidas, através de um
sistema especial de gaiolas que permitiam a passagem do produtor de vinho”,
disse ainda o mesmo ecotoxicólogo. Por vezes surgem algumas surpresas: "Em
alguns cantos, no meio da floresta de Vosges, os indicadores de risco são mais
elevados do que em Metaleurope, devido à presença de antigos resíduos de
mineração que ali tiveram lugar durante a Idade Média", completa o mesmo
pesquisador.
Quais são os objectivos deste trabalho? Existem
vários. No laboratório, os pesquisadores podem testar a toxicidade de
diferentes moléculas observando e quantificando os impactos no crescimento e/ou
inibição na reprodução do caracol e, por consequência, potencialmente nos seres
vivos como um todo. Este experimento, ao padronizar o uso dos caracóis como
biomarcadores, está simultaneamente a desenvolver uma ferramenta útil e de
fácil reprodutibilidade para a avaliação do risco ambiental relacionado com a
contaminação dos ecossistemas terrestres.
Perdi a vontade de comer biomarcadores (caracóis)
há muito tempo, desde que fiquei a saber que no Verão chegavam (continuam a
chegar) diariamente vários camiões TIR de Marrocos carregados de caracóis para
consumo em Portugal. Eu sei lá o que lhes dão os marroquinos a comer, onde os
apanham e em que condições aqui chegam? A mim já me basta morrer de sede no
Souk de Marraquexe, por saber da má qualidade da água ali e da falta de higiene
nas suas esplanadas, onde as nossas mãos chegam a ficar coladas aos tampos das
mesas. E ainda há por cá quem coma caracóis integralmente – com a caca e tudo!
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