quarta-feira, 7 de novembro de 2018

O MISTÉRIO DE COLLE DES MÉES

É noticiado nos jornais franceses on-line de hoje, que têm uma secção dedicada a animais, como é o caso do LA PROVENCE e do 20 MINUTES, que nos ALPES-DE-HAUTE-PROVENCE, num lugar chamado “COLLE DES MÉES”, um LOBO ATACOU CERCA DE 50 OVELHAS, matando 6, ferindo 3 e devorando parcialmente 40 cordeiros, pertencentes a um rebanho de 700 animais, propriedade de um tal JULIEN POLO-RIVA, homem de 32 anos e há 4 ovinicultor.
As ovelhas encontravam-se num parque fotovoltaico cercado e os ataques aconteceram pela primeira vez na noite da passada Sexta-feira e no Sábado, apesar do ovinicultor ter um cão guardador de rebanhos (patou) junto das ovelhas na primeira noite e dois na segunda. Não há notícia que algum dois cães ficasse ferido, o que muito se estranha, como se estranha o número de animais despedaçados na sua presença.
Teria uma alcateia de lobos operado tal carnificina, agora que o seu número cresce por toda a Europa e o descontentamento dos ovinicultores franceses, austríacos e alemães faz-se sentir? É possível que sim, mas as evidências parecem dizer o contrário e apontar para cães híbridos de lobo, afinal tão comuns em território italiano, logo ali ao lado. E dizemos isto porquê? Porque houve brincadeira a mais para tão pouco carregamento, demasiado à vontade para tamanha afronta, o que não é típico dos lobos, que matam, carregam e desaparecem com as suas presas, não permanecendo no local do crime, ainda que possam lá voltar movidos pela fome.
Para um abate tão grande, a ser uma recém-formada alcateia de lobos, o que tudo indica atendendo à novidade do território, os animais teriam que ser muitos e ter nascido em Março, porque os novos elementos só participam nas caçadas por volta dos 8 meses de idade. Os 40 cordeiros despedaçados, número exagerado abates para uma alcateia comum, demonstraram que os predadores ao invés de participaram de uma estratégia comum, antes competiram entre si, acção imprópria que atenta contra o viver social lupino, assente numa ferrenha hierarquia.
Caso o disparate tenha sido da responsabilidade de cães-lobos, que é uma hipótese a não descartar, compreende-se tanto a inacção como a salvaguarda da integridade física dos cães patou. Os prejuízos perpetrados por cães-lobo dificilmente serão objecto de indeminização, contrariamente ao que sucede com os decorrentes do lobo, animal que tradicionalmente “tem as costas largas”. Para haver certezas há que vigiar e colocar no terreno câmeras de videovigilância durante a noite. Por enquanto tudo não passa de um mistério e é gratuito atribuir a responsabilidade aos lobos.
Apesar dos ditos WOLFHOUNDS estarem na moda e de haver nos ESTADOS UNIDOS para cima de 25.000 e na Alemanha mais de um milhar, tendência generalizada que leva à adopção de animais exóticos como se fossem de companhia, que obviamente inclui os híbridos de lobo, convém dizer que estes animais não são animais de estimação apenas com uma dose extra de vida selvagem e que quem os tem anda louco para se livrar deles. JEFF WAGNER da MISSION WOLF, santuário remoto de lobos e cães-lobo perto de WESTCLIFFE, no Colorado/USA, que alberga cerca de 40 animais, estima que 8 em 10 wolfhounds destinados à caça são abatidos no seu primeiro ano de vida.
Como os cães-lobo são difíceis de manter, convém que cada um se dê bem com eles e saiba o suficiente sobre, cães, lobos e domesticação. O particular destes híbridos, que pertencem simultaneamente a dois mundos e ao mesmo tempo a nenhum, pode inviabilizar o seu retorno à vida selvagem e dificultar a sua adaptação aos lares humanos. Por outro lado e a somar a isto, os híbridos do mesmo sexo tendem a comportar-se agressivamente, “não tendo também a disposição incondicional que leva à cooperação com os humanos”, parecer de MICHAEL EICHHORN (na foto seguinte), conceituado adestrador alemão, nascido em 1961, que trabalhou durante muito tempo com cães problemáticos e na ESTAÇÃO TRUMLER, participando em vários cursos de adestramento no COAPE, em Inglaterra e acabando por fundar a ESCOLA CANINA PFALZ em 1994.
Ainda que as variedades de lobo existentes no mundo sejam diversas em muitos aspectos e os indivíduos da mesma espécie difiram também entre si, os cães-lobos não são e não podem ser indicados para toda a gente, porque exigem a dedicação e o conhecimento capazes de suavizar a sua inadaptação. Eu já criei wolfhounds e sei o quanto exigem e os cuidados a que obrigam.

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