quarta-feira, 21 de novembro de 2018

HIROAKI MATSUNAMI E O NARIZ ARTIFICIAL

HIROAKI MATSUNAMI, professor de genética molecular e microbiologia na DUKE SCHOOL OF MEDICINE, da Universidade norte-americana com o mesmo nome, um verdadeiro expert na organização do sistema olfactivo e nos seus receptores em mamíferos, subsidiário reconhecido dos galardoados com o Prémio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 2004, Linda Buck e Richard Axel, também editor académico para as revistas PLoS One e PeerJ, surgiu no início deste mês como autor sénior de um trabalho publicado na revista NATURE COMMUNICATIONS a dizer que já foram dados os primeiros passos para a construção de um “nariz artificial” feito de células vivas de ratos, que poderá vir a substituir os cães que farejam narcóticos, explosivos e pessoas desaparecidas nos Estados Unidos. Os autores deste trabalho desenvolveram um protótipo baseado em receptores de odor a partir de genes de pequenos ratos que respondem a odores, incluindo os de cocaína e explosivos. Apesar destes receptores terem sido já identificados na década de 90, subsistem obstáculos técnicos significativos que têm impedido a sua produção e o monitoramento da sua actividade para que possam ser usados num dispositivo artificial. Os “narizes” agora existentes usam vários compostos químicos para detectar odores em células-tronco receptoras, dispositivos que ainda não são tão bons quanto os cães treinados, apesar de estarem a ser desenvolvidos para os substituírem, porque os animais têm altos custos e cansam-se.
A ideia de Matsunami é desenvolver um dispositivo semelhante ao dos animais através de receptores vivos e reais, o que ainda ninguém conseguiu, mas que, segundo diz, o presente estudo está a mover-se nessa direcção. "Os genomas de humanos, cães e ratos contêm cerca de 20.000 genes com instruções para criar proteínas que cheiram, sentem, movimentam e fazem tudo o que nosso corpo faz. Cerca de 5 por cento dos genes dos ratos foram identificados como instruções para produzir receptores de odor, os humanos, ao invés, usam apenas cerca de 2% de seus genes para produzir receptores de odor. Esses animais investem muitos recursos para esse fim. Os ratos são muito bons a detectar odores, nós simplesmente não os usamos para detectar explosivos na vida real, porque existem alguns problemas práticos para se fazer isso." – disse ainda este professor de genética molecular. O primeiro passo do estudo foi identificar os melhores receptores de odor para responder a odores como os da canábis ou da cocaína, criando os pesquisadores um meio líquido preparado com moléculas que poderiam iluminar-se de reacções. Seguidamente copiaram cerca de 80% dos receptores de odor dos ratos e misturaram esses receptores com sete substâncias químicas odoríferas no meio. Eles mediram a luminescência resultante e escolheram os receptores de odor de melhor desempenho para a segunda parte do estudo, que monitorou a activação do receptor em tempo real.
Pesquisas anteriores já haviam feito isso ao expor receptores selecionados a substâncias químicas odoríferas num líquido. Mas existem várias diferenças entre a placa de Petri e o nariz, porque raramente submergimos os nossos narizes em banhos líquidos de produtos químicos odoríferos. Em vez disso, os nossos narizes detectam cheiros de perfumes ou fedores a flutuar no ar, apesar de cheios de muco. Na segunda metade do estudo, apoiado pelo National Institute of Health Grant DC014423 e DC016224 e pelo Projecto Real Nose do Projecto de Investigação Avançada de Defesa, Matsunami e os seus colegas de investigação, tentaram imitar o modo de como usamos os nossos narizes expondo odores, vapores e alguns enzimas, detectando dois distintos vapores de odor, o que há partida prova que o dispositivo utilizado poderá vir a ser usado. Os pesquisadores testaram também vários enzimas que podem ser encontrados no muco para ver como eles ajudaram ou impediram reacções. Esse processo é mais fiel à realidade do que as moléculas de vapor que interagem directamente com os receptores de odor, apesar do muco ser uma fronteira desconhecida para a compreensão da nossa forma de cheirarmos. O assunto é apaixonante e terá seguramente novos e prontos desenvolvimentos. Se o “nariz artificial” for alcançado haverá mais descanso para os cães, que até lá continuarão a ser solicitados como detectores das mais variadas substâncias.

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