HIROAKI
MATSUNAMI, professor de genética molecular e microbiologia na DUKE SCHOOL OF MEDICINE,
da Universidade norte-americana com o mesmo nome, um verdadeiro expert na
organização do sistema olfactivo e nos seus receptores em mamíferos, subsidiário
reconhecido dos galardoados com o Prémio Nobel de Fisiologia ou Medicina de
2004, Linda Buck e Richard Axel, também editor académico para as revistas PLoS
One e PeerJ, surgiu no início deste mês como autor sénior de um trabalho
publicado na revista NATURE
COMMUNICATIONS a dizer que já foram dados os primeiros
passos para a construção de um “nariz artificial” feito de células vivas de
ratos, que poderá vir a substituir os cães que farejam narcóticos, explosivos e
pessoas desaparecidas nos Estados Unidos. Os autores deste trabalho
desenvolveram um protótipo baseado em receptores de odor a partir de genes de
pequenos ratos que respondem a odores, incluindo os de cocaína e explosivos.
Apesar destes receptores terem sido já identificados na década de 90, subsistem
obstáculos técnicos significativos que têm impedido a sua produção e o
monitoramento da sua actividade para que possam ser usados num dispositivo
artificial. Os “narizes” agora existentes usam vários compostos químicos para
detectar odores em células-tronco receptoras, dispositivos que ainda não são tão
bons quanto os cães treinados, apesar de estarem a ser desenvolvidos para os substituírem,
porque os animais têm altos custos e cansam-se.
A ideia de Matsunami é
desenvolver um dispositivo semelhante ao dos animais através de receptores vivos e
reais, o que ainda ninguém conseguiu, mas que, segundo diz, o presente estudo está
a mover-se nessa direcção. "Os genomas de humanos, cães e ratos contêm cerca
de 20.000 genes com instruções para criar proteínas que cheiram, sentem,
movimentam e fazem tudo o que nosso corpo faz. Cerca de 5 por cento dos genes
dos ratos foram identificados como instruções para produzir receptores de odor,
os humanos, ao invés, usam apenas cerca de 2% de seus genes para produzir
receptores de odor. Esses animais investem muitos recursos para esse fim. Os
ratos são muito bons a detectar odores, nós simplesmente não os usamos para detectar
explosivos na vida real, porque existem alguns problemas práticos para se fazer
isso." – disse ainda este professor de genética molecular. O primeiro
passo do estudo foi identificar os melhores receptores de odor para responder a
odores como os da canábis ou da cocaína, criando os pesquisadores um meio
líquido preparado com moléculas que poderiam iluminar-se de reacções. Seguidamente
copiaram cerca de 80% dos receptores de odor dos ratos e misturaram esses
receptores com sete substâncias químicas odoríferas no meio. Eles mediram a
luminescência resultante e escolheram os receptores de odor de melhor
desempenho para a segunda parte do estudo, que monitorou a activação do receptor
em tempo real.
Pesquisas anteriores já
haviam feito isso ao expor receptores selecionados a substâncias químicas
odoríferas num líquido. Mas existem várias diferenças entre a placa de Petri e
o nariz, porque raramente submergimos os nossos narizes em banhos líquidos de
produtos químicos odoríferos. Em vez disso, os nossos narizes detectam cheiros
de perfumes ou fedores a flutuar no ar, apesar de cheios de muco. Na segunda
metade do estudo, apoiado pelo National Institute of Health Grant DC014423 e
DC016224 e pelo Projecto Real Nose do Projecto de Investigação Avançada de
Defesa, Matsunami e os seus colegas de investigação, tentaram imitar o modo de
como usamos os nossos narizes expondo odores, vapores e alguns enzimas, detectando
dois distintos vapores de odor, o que há partida prova que o dispositivo
utilizado poderá vir a ser usado. Os pesquisadores testaram também vários
enzimas que podem ser encontrados no muco para ver como eles ajudaram ou
impediram reacções. Esse processo é mais fiel à realidade do que as moléculas
de vapor que interagem directamente com os receptores de odor, apesar do muco
ser uma fronteira desconhecida para a compreensão da nossa forma de cheirarmos.
O assunto é apaixonante e terá seguramente novos e prontos desenvolvimentos. Se
o “nariz artificial” for alcançado haverá mais descanso para os cães, que até lá continuarão
a ser solicitados como detectores das mais variadas substâncias.
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