Recebemos de um leitor o
seguinte email: “Bom dia, tenho um cão pastor alemão a fazer 4 meses que está com o problema
dos jarretes de vaca. A veterinária e o criador aconselharam exercícios de
caminhada e de obstáculos em casa. Que mais sugestões têm para este tipo de
problema? É uma situação irreversível ou poderá ser corrigida com os exercícios
que referi? Obrigado”.
Caro leitor, à partida não
há razão para alarmes atendendo à tenra idade do cachorro. O problema será mais
sério se o desaprumo estiver presente num ou nos dois progenitores. Se o
cachorro for de linha laboral o “jarrete de vaca” tende a desaparecer com o
crescimento, se for de linha estética tende a perpetuar-se, isto se nada for
feito em contrário. Para além destes aspectos, o problema poderá estar ligado
ao peso do cachorro e à sua morfologia, ao facto de ser demasiado leve ou
pesado para a idade e também a um deficit de envergadura em relação à altura. A
ausência sistemática de andar e correr sobre pisos térreos pode concorrer
também para o fenómeno, um vez que os membros traseiros tendem a equilibrar os
dianteiros para não sobrecarregá-los nas travagens e mudanças de direcção feitas
pelos 2º e 3º movimentos naturais (marcha e galope), pois é comum o “jarrete de
vaca” ser acompanhado doutros desaprumos nos membros anteriores, nomeadamente
de peito estreito ou invertido, mão atiradas para fora e abatimento de
metacarpos.
O que lhe foi aconselhado
pela veterinária e pelo criador está em parte certo, porque fazer obstáculos em
casa, devido ao risco de escorregar, só iria agravar o problema do cachorro.
Quanto às caminhadas e aos obstáculos, estamos somente de acordo na
generalidade, porque não nos adiantou quais as distâncias a percorrer e o tipo
de obstáculos recomendados. Assim, adiantamos aquilo que a nosso ver poderá
resolver o problema, sem colocar em risco a saúde e a integridade física do
cachorro, considerando que se encontra na “Idade da Cópia” e está louco para
aprender, num estágio da sua vida onde a plasticidade cognitiva é acompanhada
pela física. As caminhadas diárias, para além das ligadas à prévia satisfação
das necessidades fisiológicas do cachorro, deverão ser feitas em marcha
atrelada e não a passo, numa extensão de 3 Km e em duas etapas, num percurso de
ida e volta com 1.500m (750m para lá, 750m para cá), que deverá ser feito manhã
e à noite. Ao chegar aos 5 meses de idade, porque o problema ainda deverá
persistir, a distância diária a percorrer deverá ser de 5.000 metros, caminhada
diária que deverá manter até aos 8 anos de idade do animal, caso venha a ser
saudável.
Os obstáculos que
contribuem significativamente para a melhoria do desaprumo são todos os
consensuais que obrigam a subir e que dispensam a descida, que poderão ser
naturais ou convencionais (próprios das pistas de obstáculos); o Extensor de
Solo (ver texto “MÃOS
DIVERGENTES (ATIRADAS PARA FORA): UM TREMENDO HANDICAP”
de 11/10/2016); a transposição progressiva de verticais consecutivas de 10, 20,
30, 40 e 50 cm de altura; pequenos saltos em extensão de 75cm; a prática da
natação, tendo o cuidado de verificar que a temperatura da água não se encontra
abaixo dos 15 graus celsius (o melhor é recorrer a uma piscina aquecida) e
caminhar e correr sobre pisos térreos. Como se depreende, é de todo conveniente
que estes exercícios sejam monitorados por algum treinador conceituado, pelo
que aconselhamos a vossa inscrição numa escola canina, considerando também o
particular etário do animal. A actual situação do cachorro não é irreversível e
poderá vir a ser corrigida, muito embora a sua prole, caso a venha a ter, não
beneficie dos benefícios que o trabalho lhe consertou. Obrigado pelo contacto.
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