quarta-feira, 4 de outubro de 2017

VASOPRESSINA E AGRESSIVIDADE CANINA

Segundo uma pesquisa recente dirigida e tornada pública na revista “Frontiers in Psychology” por Evan McLean, um antropólogo evolucionário e psicólogo comparativo da Universidade de Arizona/US, o comportamento agressivo canino pode dever-se em parte à acção de determinadas hormonas para além da testosterona. Apostada em saber mais sobre as agressões caninas e os mecanismos biológicos que as viabilizam, esta equipa estudou particularmente o papel das hormonas ocitocina e vasopressina.
Sobre a ocitocina, também conhecida como a “hormona do amor”, as suas funções e benefícios já nos debruçámos pormenorizadamente em edições anteriores e sobre a vasopressina, também conhecida por “arginina vasopressina (AVP)”, “argipressina” ou “hormona antidiurética” (em inglês ADH, antidiuretic hormone), importa dizer que é uma hormona comum a homens e cães, que a libertam em casos de desidratação e queda da tensão arterial, obrigando os rins a conservarem a água no corpo pela concentração e redução da urina. Chama-se de “Vasopressina” por aumentar a pressão sanguínea e induzir a uma moderada vasoconstrição sobre os vasos sanguíneos de menor dimensão provenientes das ramificações arteriais, actuando em simultâneo no nefrónio facilitando-lhe a abertura dos canais da água (modelo e representação da estrutura química da vasopressina abaixo).
Ao analisar específica e detalhadamente estas duas hormonas, por vezes designadas por "yin e yang" pela sua oposição funcional, MacLean e os seus colaboradores descobriram que elas podem desempenhar um papel deveras importante na formação do comportamento social dos cachorros, o que se reveste de especial importância para a compreensão das razões biológicas por detrás das agressões caninas visando intervenções capazes, uma vez que anualmente e só nos Estados Unidos, milhares de pessoas são hospitalizadas devido a ataques de cães (crianças não são excepção), muitos são atacados por outros e a agressividade é a primeira das causas para o abandono ali destes animais nos abrigos.
Estes investigadores testaram para o efeito dois grupos de cães com comportamentos distintos, um agressivo e outro não-agressivo, medindo os níveis hormonais de ambos antes da interacção pretendida. Os cães que reagiram agressivamente apresentaram níveis mais elevados de vasopressina total nos seus sistemas, sugerindo uma ligação entre o aumento dessa hormona e a agressão. Por outro lado, os observadores não observaram um aumento da ocitocina em qualquer dos grupos. Todavia, ao comparar aqueles cães com outros de assistência, criados especificamente para não terem comportamentos agressivos, os investigadores constataram que os últimos apresentavam níveis mais altos de ocitocina, níveis perfeitamente consistentes com o seu fenótipo comportamental, o que reforça a ideia desta hormona poder contribuir como inibidora da agressão canina.
Estas constatações tornam possíveis novas terapias para combater a agressividade presente nos cães , muitas delas já aplicadas com sucesso em humanos com índices mais altos de vasopressina, afectados pelo autismo, pela esquizofrenia e também pelo stress pós-traumático, tudo graças à regulação do sistema da ocitocina e que importará numa melhor resposta comportamental. Uma das maneiras, talvez a mais fácil, de aumentar os níveis de ocitocina e diminuir a vasopressina em cães é a resultante das suas interacções amigáveis com os humanos, efeitos e benefícios bidireccionais de idêntica resposta hormonal (ambos ficam a ganhar).
Como complemento adiantamos que os níveis elevados de vasopressina, tanto em pessoas como em cães, têm como reflexos negativos os seguintes factores: maior sensibilidade à dor, aumento da agressividade, da ansiedade e depressões várias. Em contraposição e como benefícios, a vasopressina apresenta, quando dentro dos níveis julgados convenientes, as seguintes vantagens: melhoria de memória, do ritmo (ciclo) circadiano e controlo da secreção da hormona adrenocorticotrófica (por consequência do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal), o que é deveras importante para combater alergias, a artrite reumatóide e alguns tipos de cancro. A vasopressina será a “hormona da agressividade”? Não o será totalmente mas não restam dúvidas que muito contribui para ela! 

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