Nas actuais sociedades
ocidentais reina o descrédito e o abandono em relação aos distintos credos,
desinteresse que primeiro abrangeu as igrejas históricas e que se estende agora
à esmagadora maioria das suas dissidentes. Ser missionário não está fácil, testemunhos
ninguém os quer, de pregações anda o mundo farto e fazer prosélitos só por
permuta. Desperto desde muito cedo para os missionários e para a realidade
missionária, sempre sigo com atenção qualquer novidade neste campo, apesar não
pretender ser convertido ou converter alguém. Por conta da curiosidade, não
raramente acabo por ser vítima de toda a sorte de arautos e pregadores na via
pública, gente que parece saber mais de mim que eu próprio e que parece preocupar-se
apenas com a minha morte. Mas deixemos por agora a “pregação”.
Para espanto meu e quando
menos esperava, deparei-me com uma estratégia missionária nunca vista: duas
idosas “Testemunhas de Jeová” a entregarem literatura com um cãozinho à trela
em pleno jardim! Ainda corri até casa como um desalmado para de trocar de
telemóvel e fotografá-las. Infelizmente já não cheguei a tempo, o dia aquecia e
a hora do almoço aproximava-se, mas fica a promessa: “ainda hei-de fisgá-las!”.
É evidente que os transeuntes paravam enternecidos pela desprotecção do pequeno
cão e não tanto pela pregação das duas senhoras. Ao deparar-me com aquela cena
lembrei-me logo da conhecida frase “se a montanha não vai a Maomé, vai Maomé à
montanha”, conclusão que se julga ter resultado de uma conversa havida entre este
“profeta” e Deus relativa à mobilidade do Monte Safa e que bem se pode aplicar à
circunstância, já que nesta área não diferem os credos, valendo-se todos de
tudo para alcançarem novos adeptos, como foi o caso desta “pregacão”!
Os cães nunca se viram embrulhados
em tanta trapalhada como agora, pois rezam-lhes missas de protecção, tornam-nos
terapeutas, recebem heranças, são adorados como deuses (alguns são tratados
como diabos), entendidos como filhos, marca de status, causa de denúncia, coima
e prisão, motivo de concórdia, discórdia, aproximação, de união e de separação.
E por tanto lado têm andado que fui dar com um deles como indutor à pregação,
calculo que não será o último (não tenho dúvidas que os franciscanos irão tirar
também dividendos disto). Quanto às pregações que por aí oiço, já estou farto
de ouvir falar de morte, condenação e castigo, de ouvir pregar para a vida que
há-de vir e de não se ensinar a viver o amor nesta, como se o que mais importasse
fosse cada um safar-se como puder! Não estará já na altura de se estender e viver a paz antes da hora da morte? Infelizmente, contra este rosário de penas,
maldições, raios e coriscos ainda não temos cães, nem mesmo de amuleto!
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