Cada estação do ano
lembram-nos de um ou mais cuidados a ter com os cães pelos desafios que nos
coloca, nomeadamente da reinstalação de alguns procedimentos indispensáveis ao
bem-estar dos nossos companheiros de quatro patas, progressivamente mais
afastados do relógio biológico e carentes de adaptação, fenómeno ligado à
ingerência humana na sua selecção. Com o Inverno à porta, as trovoadas logo
chegarão e muitos cães tornar-se-ão depressivos por medo das tempestades e dos
trovões, sofrendo horrores durante a sua duração. Pretendemos com este artigo
explicar quais as razões que induzem a este medo canino e apontar soluções para
o minorar ou ultrapassar.
Parece não restar dúvidas
que os cães são mais susceptíveis a temer as tempestades que outros animais
domésticos, particularmente as trovoadas. A primeira razão provém de serem
seres sociais e de nos entenderem como membros do seu grupo, dividindo connosco
os nossos estados emocionais e por conseguinte a ansiedade. E ficam assim
porque não conseguem compreender que as tempestades são passageiras e têm
um resultado razoavelmente previsível, entendendo cada uma delas como o início
do Armagedão. Para agravar a situação, eles têm uma audição ultra-sensível,
captando quase o o dobro das frequências que os humanos conseguem captar e
ouvindo o quádruplo dos sons que ouvimos.
Por outro lado, eles
conseguem aperceber-se das variações barométricas e compará-las com as quedas
verificadas nas tempestades anteriores, sofrendo assim por antecipação (por
causa disto se diz que os cães são bons meteorologistas, que adivinham o tempo).
E finalmente, porque possuem uma memória afectiva e são animais de forte
lembrança emocional, quando sofrem um incidente traumático nunca mais se
esquecem e relacionam-no com outro igual mal aconteça a sua apresentação,
permanecendo aborrecidos e dependendo da gravidade dos casos até aterrorizados.
O medo da trovoada, que
leva alguns cães a esconderem-se debaixo das camas, mobílias e pernas dos donos
e que é de tal maneira forte que pode desnortear um cão e levá-lo para bem
longe de casa, é o mesmo temor que está por detrás de todos os ruídos súbitos,
como é o caso dos foguetes, dos tiros, do sibilar do vento, do bater de
persianas, janelas, portas, etc.. O problema e a sua gravidade, como facilmente
se antevê, estão ligados aos particulares genético e ambiental dos indivíduos, já
que serão eles a determinar o grau de ansiedade canino diante das trovadas e
doutros ruídos, que poderá chegar ao pânico incontido. Afortunadamente os cães
tendem a acercar-se de nós e a pedir-nos ajuda quando em dificuldade. Se assim
não fosse, dificilmente poderíamos valer-lhes.
As soluções mais comuns
para o problema são quatro: o
enfrentamento; a distracção; a protecção e a administração de medicamentos
(sintéticos ou naturais). A escolha da solução a encontrar deverá
considerar também quatro factores: o particular psicológico dos cães; a sua
idade; o serviço deles esperado e a disponibilidade dos donos. O enfrentamento,
como o próprio nome indica, é uma terapia de exposição directa que consiste no
dono levar o cão para o meio das tempestades até acontecer a sua cessação, para
que o animal se habitue, saiba que elas têm fim e não lhe causam grande mal. É
possível que esta solução não seja muito cómoda para os donos (deseja-se que
não temam a trovoada), mas é a mais indicada para cachorros dominantes e menos
ansiosos, a partir da idade da cópia e destinados a importantes serviços (guarda,
guerra, resgate, salvamento, etc.). Escusado será dizer que o desempenho destes
cães deverá ser testado debaixo destas mesmas situações climatéricas.
Os cães de companhia e os
destinados ao desporto, normalmente mimados e submissos, estão automaticamente
dispensados de soluções como a que citámos anteriormente, que ao serem-lhes aplicadas,
aumentariam ainda mais a sua ansiedade. Assim, a solução passa por distraí-los,
para que se esqueçam da existência das trovoadas e venham a associá-las a algo de
bom ou do seu agrado, pois importa ganhar a sua confiança pelo concurso da
recompensa, prémio que levará de vencida o medo e a ansiedade dele resultante.
Também nada impede que os cães de serviço aprendam a vencer os medos da
tempestade deste modo, muito embora o seu quadro de exigências seja
substancialmente maior.
A solução da distracção só
funciona quando o nível de stress canino não é muito elevado e assenta em jogos
interactivos, na distribuição de comida, no acender de televisões, rádios e
luzes extras que façam distrair o cão e disfarçar-lhe os efeitos de relâmpagos
e trovões (clarão e ruído). A estratégia passa por dar aos cães aquilo que eles
mais gostam, para que associem a tempestade a algo bom e deixem assim de temê-la.
Dois veterinários americanos (Foster e Smith) adiantam no site “Peteducation.com” que os Collies, os
Pastores Alemães, os Beagles e os Basset Hounds encontram-se mais sujeitos a
desenvolver fobias de ruído e que os cães a braços com a ansiedade da separação
são mais propensos a desenvolvê-las.
Quando as terapias da
exposição e da distracção não funcionam, somos obrigados a enveredar pela de
protecção, comummente aplicada a animais mais submissos e instáveis, tantas
vezes hipersensíveis à radiação electromagnética causada pelos raios. O que há
a fazer é criar um lugar seguro para os cães, uma caixa ou um armário, algum
espaço interior onde se sintam seguros e confortáveis, literalmente um “abrigo”
em caso de tempestade, que deverá ser revestido duplamente de papel de alumínio
pesado para evitar a acção das ondas electromagnéticas, ter
painéis de isolamento acústico e revestimentos pesados para as janelas para que
os animais não vejam a tempestade. Esse pequeno abrigo deverá ter sempre a
porta aberta e conter no seu interior água, comida, guloseimas e brinquedos.
Caso a tempestade aconteça consigo presente, deverá acender as luzes da sala
onde o abrigo se encontra, diminuindo assim a intensidade dos relâmpagos.
E se nada disto surtir
efeito e o seu cão continuar demasiado sensível às trovoadas e por demais
ansioso diante da sua apresentação, só os fármacos receitados pelo seu
veterinário assistente poderão valer-lhe. A tendência actual é para o aumento
dos medicamentos naturais (homeopáticos) em detrimento dos sintéticos,
considerando as contra- indicações dos últimos que são geralmente de difícil
desmame. Nos casos de ansiedade mais graves, há ainda quem acaricie os cães e
lhes aplique o “thundercap” enquanto as tempestades duram (literalmente uma
venda conforme podemos ver na foto a seguir).
Quem geralmente opta pela
distracção como estratégia para vencer a ansiedade das trovoadas no seu cão, costuma
também artilhá-lo com uma “thundershirt”, um colete que se diz ter
sido projectado para reduzir a ansiedade nos cães, muito embora a sua eficácia seja
mais relativa que absoluta. Não obstante, este colete tornou-se viral entre os
proprietários caninos, que o usam maioritariamente para dar combate à ansiedade
da separação presente nos seus cães. Por outro lado, assim como quem não quer a
coisa, também porque o seguro morreu de velho, há quem equipe e treine o seu
cão de guarda com o “thundershirt”, porque o medo por
detrás das trovoadas é o mesmo que é responsável pela fobia aos foguetes,
petardos, disparos e outros ruídos, tanto altos como ultra-sónicos.
E por falar em
ultra-sónicos, não nos podemos esquecer do “Dazer”, um minúsculo
aparelho de bolso, comummente usado pelos larápios e que tem “arrumado” muitos
cães, deixando as casas dos seus proprietários de portas escancaradas. O aparelho
foi criado inicialmente com o propósito de controlar o ladrar dos cães,
objectivo cuja eficácia não atingiu os 100% como seria desejável. Acabou por
fazer parte do arsenal de assaltantes, tanto para calar os cães como para afastá-los dos seus deveres. Para combater a ansiedade provocada pelo “Dazer”
ou se vai pela exposição directa ou pela distracção que possibilita a indiferença
ao aparelho. Relembramos aqui que levar de vencida o “Dazer” é tarefa
obrigatória para qualquer cão de guarda.
Como os nossos leitores já
devem ter percebido, treinar um cão de guarda debaixo de trovoada é
fundamental, porque assim se vencem muitas ansiedades e medos caninos,
fragilidades e temores que comprometem o desempenho dos cães de guarda. Dar combate
ao “Dazer”
é também recapitular sempre que possível os ataques a alvos imóveis
(compreende-se porquê). Como o Inverno não tarda à porta, vamos ter muito que
fazer!
Sem comentários:
Enviar um comentário