Mesmo para aqueles que não
acreditam em Fátima, como é o meu caso, poucos ficam indiferentes às multidões
que atrai, à sua unidade “litúrgica” e mensagem emocional. Não faltam incrédulos, iconoclastas e ateus nesta
mega manifestação do culto mariano, gente que se serve dele para objectivos
estranhos à religião mas tangentes aos interesses de cada um - financeiros, políticos
e sociais, que não dispensam o populismo e os banhos de multidão para agarrarem
influência, poder e fortuna, propósitos que servem em primeira instância à própria igreja católica portuguesa, hábil desde sempre em virar de pernas para o ar os
bolsos de cada inocente peregrino, mercê da crendice que obviamente não lhe
interessa extirpar do povo e que cada vez mais o afasta da figura de Cristo e
da Redenção que alcançou para todos.
A actual direcção do
Santuário não pode perder o comboio e tem que fazer contas à vida, cativar
outros e novos peregrinos, porque a morte está a rondar os mais idosos e a
idolatria tem que estender-se às nossas gerações, clientela que por norma é
mais exigente e menos crédula. Dando seguimento a essa estratégia económica,
desta vez fomos surpreendidos com projecções do Papa nas paredes da Basílica,
para além da participação do Coro e da Orquestra da Fundação Gulbenkian,
enriquecimento cultural e estético que não é gratuito e muito menos inocente,
já que o tesouro precisa de mais e maiores donativos.
Quanto à teologia, continua
a assistir-se à trapalhada do costume, porque ela não pode ser contrária a quem
a sustenta ou levar ao apertar do cinto de quem vive dela. Todos sabemos pelos
Evangelhos que temos apenas um intercessor diante de Deus: Cristo, que mediante
o seu sacrifício vicário garantiu a Vida Eterna para toda a Humanidade. Ali em
Fátima o que interessa vender é incerteza da Salvação, arranjar um
intermediário para chegar ao Filho de Deus, “uma Senhora de Luz” que se agrada
de negócios, faça milagres por encomenda, obrigue a sacrifícios e se compraza
com um cofre cheio. Contra isto não há Papa que resista, sendo melhor seguir a
tendência do que denunciá-la, vender umas quantas moeditas relativas ao Centenário
das Aparições do que ficar a chuchar no dedo.
Com teólogos destes, o
Papa está a pregar em saco roto e dificilmente conseguirá devolver ao povo a
Boa Nova do Evangelho durante o seu episcopado. Estou convencido e espero estar
redondamente enganado, que mais depressa o matarão do que darão ouvidos ao
Evangelho! E digo isto porquê? Porque assim procederam com Cristo, muito embora
um e outro tenham pouco em comum, a menos que os extremos se toquem.
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