Este Domingo, depois de
vir da Feira do Animal, pensei como seria difícil para alguém adoptar um cão
surdo por mais belo que fosse, porque raros são aqueles que chegam a adoptar
cães com algum defeito congénito, doença crónica, incapacidade, deficiência ou
amputação. Ao invés e por princípio, ao pensar num cão para levar para casa,
todos pensamos num bonitinho, perfeito e escorreito, que se adapte facilmente ao
nosso lar e cujo feitio se case com o nosso. Mas será um cão surdo um amigo de
difícil interacção e um problema insolúvel? Nós dizemos que não, que nada está perdido
e vamos já explicar porquê.
Apesar de subsistirem
algumas raças de cães brancos que dificilmente gerarão um cão surdo, a maior
incidência de surdez canina acontece entre os cães de cor branca, sendo por
isso mais comum nas raças onde essa cor se faz presente, aumentando ao ritmo em
que se multiplicam, o que não significa que raças e indivíduos doutras
pigmentações não possam ser atingidos por esta deficiência (quando desejar
adquirir um cão branco, certifique-se primeiro se não é surdo). Como se calcula,
para se interagir com um cão surdo, não podemos valer-nos da linguagem verbal
mas nada impede que usemos a gestual e alcancemos assim a interacção procurada.
No nosso caso,
independentemente dos cães serem ou não surdos, sempre nos temos valido da
linguagem gestual tanto para reforço da verbal como para substituí-la, porque
há momentos em que a verbal perde a sua operacionalidade e outros em que não
deve ser utilizada, constatação que herdámos da nossa formação militar e do
tempo que levamos a formar cães de guarda. Os genuínos e bem preparados cães de
guerra, sentinelas ou detectores de explosivos, deverão obedecer com igual
prontidão quer às ordens quer à sinalética dos seus tratadores, conforme foi
solicitado aos cães enviados para o Vietname e a quem dedicámos um artigo
anterior.
Num cenário de guerra, debaixo
de intenso bombardeio, homens e cães ensurdecem-se, a comunicação verbal torna-se
inaudível e só a sinalética poderá valer à salvaguarda e missões dos binómios
militares. Em patrulhas ou infiltrações em território inimigo, onde importa não
denunciar a presença, surpreender e não ser surpreendido, a linguagem gestual
havida entre homens e cães é o melhor e o mais recomendável dos canais de
comunicação.
Também quando importa fazer retroceder os cães, o uso da linguagem
gestual pode ser imprescindível, particularmente quando a nossa voz não os
alcança ou quando não convém que sejamos ouvidos. Nesta matéria, o que é
verdade para o cão de guerra é-o também para o de guarda.
Pelo que atrás dissemos,
nada impede que um cão surdo possa ser correctamente adestrado através da
linguagem gestual. Mais do que poder, é mesmo obrigatório, porque a desvantagem
presente no animal, diminui-lhe a qualidade de vida, sujeita-o a um sem número
de percalços e coloca constantemente a sua salvaguarda em risco. O facto de um cão
ser surdo não implica que por causa disso tenha menor capacidade de
aprendizagem, já que não deixará de ser igualmente curioso. O que geralmente
acontece é que os cães surdos são geralmente mais retraídos e inibidos e jamais
deixarão de sê-lo se nunca conseguirmos comunicar com eles e lhe decifrarmos o
mundo à sua volta.
Se é verdade que a melhor
ajuda para um cão surdo é outro normal que lhe sirva de guia e amparo, também é
verdade que só o ensino da linguagem gestual é muito pouco para um cão surdo,
porque a sua vulnerabilidade aumenta drasticamente quando isolado, o que
equivale a dizer que em paralelo com a linguagem gestual, o uso e melhoria do
seu olfacto têm que suceder, para que saiba o que o rodeia e identifique o que
dele se acerca. Este pormenor, que serve de reforço à relação binomial, irá
obrigar os donos a regras menos flexíveis e com carácter permanente, visando o
bem-estar e salvaguarda do animal que sempre deverá saber com o que conta.
Ensinar
um cão surdo é um desafio sempre ganho graças ao amor e à paciência, desafio
que nunca rejeitámos e que também nunca perdemos, porque ao contrário de outros, sempre entendemos a
linguagem gestual como uma das mais preciosas ferramentas do adestramento.
As pessoas de tendências
bipolares, menos pensadas, demasiado ostensivas e por demais distraídas não
deverão abraçar esta tarefa porque é-lhes contranatural. Felizmente não há
muitos cães surdos e quanto menos houver melhor! Não é que não tenham solução, só
que há menos gente disposta a valer-lhes, como se um mal nunca viesse só. Não
hesite, contacte-nos se o seu cão for surdo e pretender receber ajuda.
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