Com a chegada do Outono,
Lisboa e os seus arrabaldes enchem-se de feiras, talvez seja melhor chamar-lhes
dormitórios que arrabaldes, porque os concelhos à volta da Capital funcionam na
maioria dos casos como dormitórios para quem nela trabalha. Subsistem feiras
mais e menos antigas, algumas de cariz fortemente etnográfico e quase todas
resultantes da mistura entre o sacro e profano, como é apanágio dos saloios que
nisso copiaram os restantes portugueses. Em muitas delas o saudosismo, o
revivalismo e o marialvismo doam-lhes um colorido único, um encanto atemporal
que transporta os seus visitantes para tempos que não viveram mas que gostariam
de ter vivido. Em quase todas elas, para além do artesanato e de toda a sorte
de bugigangas, “os comes e bebes” tomam lugar de destaque, porque muitos
portugueses vivem quase exclusivamente para comer. Ir às feiras tem o seu quê
de cultural e entranha-se, de tal maneira que se vai até à Feira das Mercês
para comer umas entremeadas ou à Feira da Luz à procura de farturas.
Uma das mais recentes e
que parece ter vindo para ficar é a Feira do Animal, que todos os anos se
realiza no Jardim Vasco da Gama em Belém, no fim-de-semana mais próximo do dia
4 de Outubro de cada ano, dia em que se celebra o Dia Mundial do Animal e que
coincide com o Dia de São Francisco de Assis, tido pelos católicos como santo
padroeiro dos animais. Naquele rectângulo relvado, com medidas de campo de
futebol, limitado a norte pela Rua Vieira Portuense, a sul pela Av.ª Marginal,
a este pelo Jardim Afonso de Albuquerque e a oeste pela Praça do Império,
dezenas de barracas coloridas, cravejadas de cães, de gatos e de acessórios
para animais de companhia, parecem dar-nos as boas-vindas a um mundo diferente,
bem próximo do dos sonhos, se o houver.
Ali não há venda de
animais, todos são para adopção e muitos são ali adoptados. Estão presentes
várias as associações que se dedicam à sua recolha, as marcas mais conhecidas
de acessórios e de comida para pets são presença obrigatória e promovem os seus
produtos, várias companhias cinotécnicas policiais e militares não faltam,
exibindo-se antes ou depois de uma habitual escola civil. Ali a vacinação
anti-rábica e a colocação do microchip são gratuitos, todos os jogos de
pontaria, de sorte e azar dão prémios e prémios ali não faltam, já que
dificilmente alguém sairá dali de mãos a abanar sem um miminho para levar ao
seu animal de estimação. Quem também não costuma faltar é um frade franciscano,
que vestido a rigor com o seu parco hábito, vai abençoando os cães um a um num
recinto desportivo dispensado para o efeito.
Pode dizer-se que por cima
dos salgueiros, dos choupos e das várias árvores exóticas que adornam aquele
jardim, duas coisas pairam no ar: o amor pelos animais e a alegria das
crianças. O amor pelos animais vê-se nos olhos e nos gestos das gentes, a
alegria das crianças é tal que a todos contagia e inebria. Por estranho que
pareça, a nós não nos parece porque estamos fartos de ver, há ali cães mais
bonitos, mais saudáveis e prestáveis que muitos com pedigree.
Para
o próximo Outono, caso queira confirmar o que dissemos e experimentar o que
descrevemos, já sabe: vá até Belém e visite a Feira do Animal, verá que não se
vai arrepender e poderá ajudar quem agradece a sua ajuda. Fica o convite. E se
porventura quiser juntar o útil ao agradável, pode ainda aproveitar para almoçar
num dos restaurantes da Rua Vieira Portuense (não são caros) e ir depois aos
Pastéis de Belém, local de romaria obrigatório para quem se desloca àquelas
paragens.
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