Em primeiro lugar importa
quebrar um mito e restabelecer a verdade: nem todos os cães que foram enviados
para o Vietname eram de raça pura (com pedigree), muitos eram híbridos e outros
não pertenciam a qualquer raça definida. Assim aconteceu no Vietname, continuou
a suceder nas guerras seguintes e sucede nas actuais.
Foi enviado para o
Vietname e para a Tailândia um contingente de 4.000 cães militares, 350
morreram em acção, muitos foram feridos e menos de 200 regressaram aos Estados
Unidos. Alguns que permaneceram na Indochina foram ainda transferidos para o
exército e polícia sul-vietnamitas. Apesar do reconhecido mérito das suas
missões, grande número deles foi considerado “equipamento” e deixado para trás
aquando da saída apressada dos americanos, não lhe sendo guardado grande futuro
pelos vietcongs. O número de handlers militares abatidos alcançou os 263
homens.
Os primeiros cães a serem
enviados para a Indochina foram fornecidos por militares britânicos, que os
treinaram na Malásia graças ao contributo de um corpo de elite da Força Aérea Neozelandesa.
As equipas de batedores eram normalmente constituídas por cinco soldados (5) e
dois Labradores(2). Na frente ia um observador visual e um binómio, seguido
depois por outro, a seguir vinha o operador de rádio e finalmente o líder do
grupo. Equipas deste tipo não esperavam por emboscadas, perseguiam o inimigo
logo após a sua retirada para a selva. Por causa da importância do seu serviço,
o Exército do Vietname do Norte oferecia uma recompensa especial a quem
abatesse um cão ou o seu tratador.
Calcula-se que a prestação
dos binómios cinotécnicos militares naquela Guerra tenha poupado cerca de
10.000 nomes à parede do Memorial dos Veteranos do Vietname, número que os
handlers sobreviventes consideram bem inferior ao dos soldados a quem valeram e
pouparam a vida.
Diz quem lá a andou, e
estamos a citar Richard Cunningham, um tratador de cães-sentinela que combateu
no Vietname e depois no Departamento de Polícia de Nova Iorque como
investigador de fraude, que o uso dos cães naquela Guerra conseguia muitas
vezes anular os ataques de surpresa dos vietnamitas e que 90% dos mortos
americanos nunca chegou a ver cara-a-cara os seus inimigos, quem disparou a
bala ou o foguete que os eliminou, pormenores que transformaram aqueles animais
em soldados de elite.
Os binómios destinados ao
serviço de sentinela e à segurança de unidades instaladas ou destacadas no
terreno trabalhavam 12 diárias, podendo também ser destacados para acompanharem
colunas ou patrulhas durante o dia, quando incorporados em unidades tácticas de
infantaria.
O adestramento militar norte-americano
em solo pátrio começou na Base Aérea de Lackland, no Texas. Os cães,
provenientes especialmente de doações, eram primeiro sujeitos a um exame físico
rigoroso e testados depois para aquilatar do seu potencial psicológico. Os cães
mais agressivos eram por norma destinados à unidade de sentinelas. Os cães
pastores menos agressivos mas altamente inteligentes eram treinados como
escuteiros devido à sua excelente máquina sensorial, por serem capazes de
localizar silenciosamente armadilhas e inimigos, localizando os últimos até
1000 metros de distância. Como não podia deixar de ser os Labradores rumavam
imediatamente à unidade destinada a rastreadores.
Homens e cães passavam por
3 fases de instrução: obediência/ordem-unida, treino de pistagem e de ataque. Todos
os cães foram treinados para obedecer a comandos verbais e não-verbais, foram
identificados como sendo altamente inteligentes e capacitados, tendo todos um
número de 4 dígitos tatuado na sua orelha esquerda. Diz quem frequentou aqueles
cursos, o que para nós não constitui qualquer novidade, que quem estava a
aprender eram os homens e não os cães. Quanto a recompensas, aqueles animais
trabalhavam somente pela aprovação e pelo elogio dos seus companheiros e
tratadores. Em simultâneo, detectavam claramente a diferença de odores
existente entre americanos e vietcongs.
Uma das grandes vantagens
que os cães apresentavam no terreno era a detecção de fios de um só e estreito
filamento, quase invisível a olho nu e geralmente associado a uma granada, que
os norte-vietnamitas usavam para travar ou denunciar as evoluções da infantaria
americana, causando-lhe assim elevado número de baixas. Também havia pelo Vietname
cães não militares e dos aldeões, animais que devido à fome e à sua ingenuidade,
acabam por seguir as colunas militares americanas que os adoptavam, morrendo a
salvar as suas vidas por caírem nas diferentes armadilhas.
A Guerra do Vietname
continua a ser uma história de difícil digestão para os Estados Unidos,
particular que não invalida o excelente serviço que os seus cães militares
prestaram e não traz de volta as vidas que por lá se perderam. Ali os homens
foram para a guerra e levaram os cães consigo, oxalá acabem com todas e para
sempre. Caso não consigam livrar-se delas, o que a ninguém espantará, deixem pelo
menos os cães em paz: dentro de casa!
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