quinta-feira, 5 de outubro de 2017

ALGUNS FACTOS SOBRE OS CÃES ENVIADOS PARA A GUERRA DO VIETNAME (1955 – 1975)

Em primeiro lugar importa quebrar um mito e restabelecer a verdade: nem todos os cães que foram enviados para o Vietname eram de raça pura (com pedigree), muitos eram híbridos e outros não pertenciam a qualquer raça definida. Assim aconteceu no Vietname, continuou a suceder nas guerras seguintes e sucede nas actuais.
Foi enviado para o Vietname e para a Tailândia um contingente de 4.000 cães militares, 350 morreram em acção, muitos foram feridos e menos de 200 regressaram aos Estados Unidos. Alguns que permaneceram na Indochina foram ainda transferidos para o exército e polícia sul-vietnamitas. Apesar do reconhecido mérito das suas missões, grande número deles foi considerado “equipamento” e deixado para trás aquando da saída apressada dos americanos, não lhe sendo guardado grande futuro pelos vietcongs. O número de handlers militares abatidos alcançou os 263 homens.
Os primeiros cães a serem enviados para a Indochina foram fornecidos por militares britânicos, que os treinaram na Malásia graças ao contributo de um corpo de elite da Força Aérea Neozelandesa. As equipas de batedores eram normalmente constituídas por cinco soldados (5) e dois Labradores(2). Na frente ia um observador visual e um binómio, seguido depois por outro, a seguir vinha o operador de rádio e finalmente o líder do grupo. Equipas deste tipo não esperavam por emboscadas, perseguiam o inimigo logo após a sua retirada para a selva. Por causa da importância do seu serviço, o Exército do Vietname do Norte oferecia uma recompensa especial a quem abatesse um cão ou o seu tratador.
Calcula-se que a prestação dos binómios cinotécnicos militares naquela Guerra tenha poupado cerca de 10.000 nomes à parede do Memorial dos Veteranos do Vietname, número que os handlers sobreviventes consideram bem inferior ao dos soldados a quem valeram e pouparam a vida.
Diz quem lá a andou, e estamos a citar Richard Cunningham, um tratador de cães-sentinela que combateu no Vietname e depois no Departamento de Polícia de Nova Iorque como investigador de fraude, que o uso dos cães naquela Guerra conseguia muitas vezes anular os ataques de surpresa dos vietnamitas e que 90% dos mortos americanos nunca chegou a ver cara-a-cara os seus inimigos, quem disparou a bala ou o foguete que os eliminou, pormenores que transformaram aqueles animais em soldados de elite.
Os binómios destinados ao serviço de sentinela e à segurança de unidades instaladas ou destacadas no terreno trabalhavam 12 diárias, podendo também ser destacados para acompanharem colunas ou patrulhas durante o dia, quando incorporados em unidades tácticas de infantaria.
O adestramento militar norte-americano em solo pátrio começou na Base Aérea de Lackland, no Texas. Os cães, provenientes especialmente de doações, eram primeiro sujeitos a um exame físico rigoroso e testados depois para aquilatar do seu potencial psicológico. Os cães mais agressivos eram por norma destinados à unidade de sentinelas. Os cães pastores menos agressivos mas altamente inteligentes eram treinados como escuteiros devido à sua excelente máquina sensorial, por serem capazes de localizar silenciosamente armadilhas e inimigos, localizando os últimos até 1000 metros de distância. Como não podia deixar de ser os Labradores rumavam imediatamente à unidade destinada a rastreadores.
Homens e cães passavam por 3 fases de instrução: obediência/ordem-unida, treino de pistagem e de ataque. Todos os cães foram treinados para obedecer a comandos verbais e não-verbais, foram identificados como sendo altamente inteligentes e capacitados, tendo todos um número de 4 dígitos tatuado na sua orelha esquerda. Diz quem frequentou aqueles cursos, o que para nós não constitui qualquer novidade, que quem estava a aprender eram os homens e não os cães. Quanto a recompensas, aqueles animais trabalhavam somente pela aprovação e pelo elogio dos seus companheiros e tratadores. Em simultâneo, detectavam claramente a diferença de odores existente entre americanos e vietcongs.
Uma das grandes vantagens que os cães apresentavam no terreno era a detecção de fios de um só e estreito filamento, quase invisível a olho nu e geralmente associado a uma granada, que os norte-vietnamitas usavam para travar ou denunciar as evoluções da infantaria americana, causando-lhe assim elevado número de baixas. Também havia pelo Vietname cães não militares e dos aldeões, animais que devido à fome e à sua ingenuidade, acabam por seguir as colunas militares americanas que os adoptavam, morrendo a salvar as suas vidas por caírem nas diferentes armadilhas.
A Guerra do Vietname continua a ser uma história de difícil digestão para os Estados Unidos, particular que não invalida o excelente serviço que os seus cães militares prestaram e não traz de volta as vidas que por lá se perderam. Ali os homens foram para a guerra e levaram os cães consigo, oxalá acabem com todas e para sempre. Caso não consigam livrar-se delas, o que a ninguém espantará, deixem pelo menos os cães em paz: dentro de casa! 

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