quarta-feira, 25 de outubro de 2017

A FALAR É QUE A GENTE SE ENTENDE

Não tenho dúvidas que é a falar que as pessoas se entendem, que a existência de um diálogo franco e aberto é tão válido para as famílias como para o mundo (António Guterres pede o mesmo nas Nações Unidas). E se isto é verdade para os homens é-o também para a relação que pretendem manter com os seus cães. Mas para que se entendem a falar é preciso que alcancem uma linguagem comum ou um código linguístico que lhes garanta o diálogo, necessidade que não dispensa a mútua aprendizagem e que torna um centro de adestramento canino numa escola de línguas. E quando homens e cães alcançam finalmente o entendimento recíproco, os primeiros vêem os seus desejos cumpridos e os últimos as suas necessidades satisfeitas. Vamos a um exemplo concreto.
Recentemente caiu-nos em braços um cão com 4 anos de idade, extremamente nervoso e medroso, incapaz de se aproximar naturalmente de pessoas e cães, dificuldade que nos disseram resultante de duas coisas: de ter sido agredido por outro cão na rua e por preferir ficar em casa, o que equivale a dizer que ficou traumatizado, não foi sociabilizado e viu o seu trauma agravado, condições que apontam claramente para o comodismo e irresponsabilidade dos seus donos. Cientes da gravidade do seu problema e apostados no bem-estar do desafortunado cão, optámos pela sua recuperação faseada e sem pressas.
Primeiro, para que se sentisse confortável na rua e com os seus companheiros de classe (condutores e cães), convidámo-lo a seguir exclusivamente um binómio particular, constituído por uma senhora de brandos gestos e por um pequeno cão desinibido, que devido ao seu comportamento e tamanho transmitiu-lhe a segurança necessária para ser conduzido atrelado sem maiores percalços. A serenidade da voz e a postura da condutora do cãozinho ainda mais reforçaram a sua confiança, porque até ali temia gestos bruscos e gente que falasse mais alto. E com isto, o cão que não andava nem para a frente nem para trás e que sempre queria fugir para casa, recuperou a alegria de andar ao ar livre e em contacto com a natureza (obrigado Isabel e Sebastião!).
No meio destas caminhadas a quatro, primeiro em círculos pequenos com poucas pessoas à volta e depois em círculos maiores e com mais gente, foi solicitado à dona do cão afectado a instalação do comando basilar de obediência – o “junto”, para além doutros que possibilitassem a futura integração do animal na classe, o que veio a acontecer surpreendentemente duas semanas depois. Com o medo dos outros cães ultrapassado, com o temor das pessoas vencido e com os comandos assimilados, é hoje possível ver o cão outrora traumatizado no meio da classe seguro e feliz, inclusive na “troca de condutores”, ocasião em que todos os cães andam de mão-em-mão, porque conhece os comandos, sabe ao que vai e não se assusta: já conseguimos falar com ele e somos entendidos!
Os comandos que ensinamos a um cão, a cujo somatório chamamos código, são a linguagem rudimentar que irá facilitar a melhor comunicação interespécies. Com os cães e com os homens é a falar que nos entendemos! Nesta circunstância particular, em que importava recuperar um cão inadaptado, devido ao acompanhamento a que a sua dona se viu obrigada, também ela melhorou os seus índices atléticos, ganhou força e ficou a respirar melhor. Também o pequeno cão que serviu de mestre e guia ficou a ganhar com esta experiência, porque sendo naturalmente barulhento e irritadiço, pelo exemplo do seu formando ficou mais calmo e paciente (há momentos em que o melhor exemplo para um cão é outro cão!).
O que é que os donos vêm primeiro aprender para as escolas caninas? Vêm aprender a falar com os seus cães! Alguém tem dúvidas? Diante do que dissemos e fizemos saber, só as tem quem as quer! 

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