Este artigo foi-nos
sugerido por um amigo e companheiro das lides caninas, pelo Jorge Martins,
cinófilo, criador de cães e cinotécnico. O assunto interessou-nos porque já
enveredámos pelo caminho dos russos, produzindo híbridos de Lobo Ibérico com Pastor
Alemão, facto de que demos notícia em vários textos, nomeadamente em “ O SONHO
DO LUPINO PORTUGUÊS”, editado em 18/08/2015, onde realçámos as mais-valias de
determinadas subvariedades do Lobo Cinzento para a cinotécnia, mais
precisamente a do Lobo Ibérico. De acordo com o que nos fazem chegar e não
faltam textos na Internet acerca do assunto, os russos conseguiram juntar a
extraordinária máquina sensorial e instintiva dos lobos à cumplicidade visível
nos cães, ao produzirem híbridos a partir de uma loba da região do Mar Cáspio,
cuja variedade, sendo uma subvariedades do lobo cinzento, é conhecida por Lobo
Caucasiano, Lobo das Estepes ou por “Canis lupus campestres”, conforme a
designou o cientista russo Ivan Dwigubski em 1804.
E se é verdade aquilo que
nos fazem saber, estes híbridos têm a força e o tamanho dos lobos somada à
interacção e obediência presentes nos cães de trabalho, méritos assinaláveis
quando comparados com outros híbridos, criados com os mesmos propósitos e para
idênticas funções e serviços.
Volkosoby é o
adjectivo/substantivo russo para cão-lobo e o seu tamanho é ligeiramente menor
que o encontrado no lobo euro-asiático. Esta nova raça teve o seu início no
primeiro ano do Novo Milénio (2000) e deve a sua existência e sucesso aos
investigadores do Instituto Perm das Forças Armadas Internas Russas. É
seleccionada e produzida como auxiliar dos guardas fronteiriços, particularmente
junto às fronteiras com a Mongólia e a China, prestando-se a vários serviços
que vão deste a detecção de minas, drogas e álcool até à protecção de
perímetros e oleodutos. Cada posto fronteiriço tem em média 4 cães destes ao
seu dispor, que foram criados e aprovados para uso militar (cães de guerra),
sendo considerados como “armas estratégicas”.
O Volkosoby apresenta duas
características que o definem: o seu pelo fino, cuja tonalidade lhe garante a camuflagem
nos desertos do Cazaquistão e da Mongólia, e o seu comportamento ao iniciar das
tarefas, que ao invés de ladrar, estala fortemente os dentes como indício de
prontidão. Apesar do seu uso restritivo, este cão pode ser alugado para
serviços de segurança que não comportem missões de carácter militar devido à
sua forte presença dissuasora, visível no modo como fixa pessoas e outros
objectivos, olhar que denota um superior impulso ao conhecimento,
substancialmente menos observado noutros híbridos idênticos, como é o caso do
Cão-Lobo Checo.
Depois da obtenção do
Terrier Negro Russo e do uso de ratos para a detecção de drogas e explosivos, o
recurso bem-sucedido a canídeos selvagens para melhorar as actuais raças
caninas tem vindo a aumentar no maior país do mundo, cite-se como exemplo os
Cães de Sulimov, descendentes directos do Chacal e que são cada vez mais utilizados
nos aeroportos russos, dos quais também já demos notícia. Quem está na
cinotecnia e não quer perder os seus avanços, é obrigado a informar-se sobre
esta actividade na Federação Russa, porque ali e desde há muito, contrariamente
ao que se passa no Ocidente, onde sempre superabundaram cães de companhia e de
luxo, “os fiéis amigos” são maioritariamente animais de trabalho, herança
reforçada pelo engenho e pragmatismo russos e também pela imposição do extinto
regime soviético, que se estendeu às nações anexadas para a Cortina de Ferro,
responsável pela selecção de excelentes cães de trabalho naqueles países, ainda
que usados maioritariamente para fins militares ou repressivos.
Estamos a lembrar-nos, por
exemplo, dos Pastores Alemães da extinta RDA (DDR), dos oriundos da
ex-Checoslováquia e dos provenientes da Rússia depois do colapso do comunismo,
hoje praticamente absorvidos por outras linhas de menor qualidade. Dizemos isto
sem qualquer simpatia pelo bolchevismo ou por qualquer tipo de ditadura, seja
ela do proletariado ou não, porque sendo livres, não nos agrada a “carneirada”.
Em Portugal, segundo se
diz e ouve, proliferam nos cães de trabalho os oriundos de “linhas checas”, o
que não corresponde exactamente à verdade, porque a maioria deles já apresenta
grande infusão de sangue austríaco e de outros cães ocidentais, quer tenham
vindo directamente da República Checa ou não, facto comprovado pela morfologia,
porte e comportamento dos cães que nos foram dados a observar, onde a presença
das modernas linhas estéticas é por demais evidente. Retornando ao Volkosoby,
um verdadeiro avanço para a cinotecnia, importa estar atento para a sua evolução
e para o aparecimento doutras raças laborais no leste europeu, porque doutro
modo seremos mais uma vez consumidores de cães alheios e obrigados a recomeçar
tudo a partir do nada, fado que sempre nos tem acompanhado. E como uma coisa
leva à outra, pergunta-se: porque continua o Podengo Português desaproveitado?
Até quando continuaremos a seguir a política que diz ser “a galinha da minha vizinha
melhor do que a minha”, agora que temos os investigadores que nunca tivemos?
Volkosoby? Sim, temos cão!
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