sexta-feira, 1 de abril de 2016

VOLKOSOBY: A ÚLTIMA INOVAÇÃO CANINA RUSSA

Este artigo foi-nos sugerido por um amigo e companheiro das lides caninas, pelo Jorge Martins, cinófilo, criador de cães e cinotécnico. O assunto interessou-nos porque já enveredámos pelo caminho dos russos, produzindo híbridos de Lobo Ibérico com Pastor Alemão, facto de que demos notícia em vários textos, nomeadamente em “ O SONHO DO LUPINO PORTUGUÊS”, editado em 18/08/2015, onde realçámos as mais-valias de determinadas subvariedades do Lobo Cinzento para a cinotécnia, mais precisamente a do Lobo Ibérico. De acordo com o que nos fazem chegar e não faltam textos na Internet acerca do assunto, os russos conseguiram juntar a extraordinária máquina sensorial e instintiva dos lobos à cumplicidade visível nos cães, ao produzirem híbridos a partir de uma loba da região do Mar Cáspio, cuja variedade, sendo uma subvariedades do lobo cinzento, é conhecida por Lobo Caucasiano, Lobo das Estepes ou por “Canis lupus campestres”, conforme a designou o cientista russo Ivan Dwigubski em 1804.
E se é verdade aquilo que nos fazem saber, estes híbridos têm a força e o tamanho dos lobos somada à interacção e obediência presentes nos cães de trabalho, méritos assinaláveis quando comparados com outros híbridos, criados com os mesmos propósitos e para idênticas funções e serviços.
Volkosoby é o adjectivo/substantivo russo para cão-lobo e o seu tamanho é ligeiramente menor que o encontrado no lobo euro-asiático. Esta nova raça teve o seu início no primeiro ano do Novo Milénio (2000) e deve a sua existência e sucesso aos investigadores do Instituto Perm das Forças Armadas Internas Russas. É seleccionada e produzida como auxiliar dos guardas fronteiriços, particularmente junto às fronteiras com a Mongólia e a China, prestando-se a vários serviços que vão deste a detecção de minas, drogas e álcool até à protecção de perímetros e oleodutos. Cada posto fronteiriço tem em média 4 cães destes ao seu dispor, que foram criados e aprovados para uso militar (cães de guerra), sendo considerados como “armas estratégicas”.
O Volkosoby apresenta duas características que o definem: o seu pelo fino, cuja tonalidade lhe garante a camuflagem nos desertos do Cazaquistão e da Mongólia, e o seu comportamento ao iniciar das tarefas, que ao invés de ladrar, estala fortemente os dentes como indício de prontidão. Apesar do seu uso restritivo, este cão pode ser alugado para serviços de segurança que não comportem missões de carácter militar devido à sua forte presença dissuasora, visível no modo como fixa pessoas e outros objectivos, olhar que denota um superior impulso ao conhecimento, substancialmente menos observado noutros híbridos idênticos, como é o caso do Cão-Lobo Checo.
Depois da obtenção do Terrier Negro Russo e do uso de ratos para a detecção de drogas e explosivos, o recurso bem-sucedido a canídeos selvagens para melhorar as actuais raças caninas tem vindo a aumentar no maior país do mundo, cite-se como exemplo os Cães de Sulimov, descendentes directos do Chacal e que são cada vez mais utilizados nos aeroportos russos, dos quais também já demos notícia. Quem está na cinotecnia e não quer perder os seus avanços, é obrigado a informar-se sobre esta actividade na Federação Russa, porque ali e desde há muito, contrariamente ao que se passa no Ocidente, onde sempre superabundaram cães de companhia e de luxo, “os fiéis amigos” são maioritariamente animais de trabalho, herança reforçada pelo engenho e pragmatismo russos e também pela imposição do extinto regime soviético, que se estendeu às nações anexadas para a Cortina de Ferro, responsável pela selecção de excelentes cães de trabalho naqueles países, ainda que usados maioritariamente para fins militares ou repressivos.
Estamos a lembrar-nos, por exemplo, dos Pastores Alemães da extinta RDA (DDR), dos oriundos da ex-Checoslováquia e dos provenientes da Rússia depois do colapso do comunismo, hoje praticamente absorvidos por outras linhas de menor qualidade. Dizemos isto sem qualquer simpatia pelo bolchevismo ou por qualquer tipo de ditadura, seja ela do proletariado ou não, porque sendo livres, não nos agrada a “carneirada”.
Em Portugal, segundo se diz e ouve, proliferam nos cães de trabalho os oriundos de “linhas checas”, o que não corresponde exactamente à verdade, porque a maioria deles já apresenta grande infusão de sangue austríaco e de outros cães ocidentais, quer tenham vindo directamente da República Checa ou não, facto comprovado pela morfologia, porte e comportamento dos cães que nos foram dados a observar, onde a presença das modernas linhas estéticas é por demais evidente. Retornando ao Volkosoby, um verdadeiro avanço para a cinotecnia, importa estar atento para a sua evolução e para o aparecimento doutras raças laborais no leste europeu, porque doutro modo seremos mais uma vez consumidores de cães alheios e obrigados a recomeçar tudo a partir do nada, fado que sempre nos tem acompanhado. E como uma coisa leva à outra, pergunta-se: porque continua o Podengo Português desaproveitado? Até quando continuaremos a seguir a política que diz ser “a galinha da minha vizinha melhor do que a minha”, agora que temos os investigadores que nunca tivemos? Volkosoby? Sim, temos cão!

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