domingo, 10 de abril de 2016

FIM-DE-SEMANA NO ALENTEJO SEM CÃES

Por mais vezes que vá ao Alentejo nunca deixo de me sentir lá estranho. Ao olhar para aquela terra e prà aquela gente, sinto-me desenraizado – um estrangeiro, porque a terra parece ecoar mistério e o povo estar ausente, numa simbiose que os torna diferentes, perdidos na história talvez para sempre. Naquela paisagem imensa, repetitiva e dolente, onde me perderia facilmente, florescem agora as roseiras bravas, os malmequeres amarelos e a termocilha, os pássaros dão-lhe o som de fundo, o gado não se incomoda, as cegonhas já fizeram os seus ninhos e a espaços encontramos alguém a colher espargos silvestres, que não são muitos e têm muita procura.
Inevitavelmente fui parar a um Monte Alentejano, a casa de uns amigos que criam porco preto e que por casualidade tinham capturado um javali. Das duas espécies se fez o almoço, que começou com uma sopa de espinafres e cenoura, reforçada por batata, feijão e chouriço (comi dois pratos e não perdi o apetite para a carne e para o vinho). Como os donos da casa adoram bicharada, por debaixo dos chaparros têm patos, galinhas, gansos e perus, para além de um Cão de Fila de S. Miguel, que ali se sente como peixe na água, apesar de ter apanhado uma valente dentada de um porco na sua réstia de vida, o que pouco lhe importou, vendo a sua ferida cicatrizada com açúcar há falta de melhor. Porcos pretos, alemães e cruzados de javali não têm muitos: apenas 100.
Terminada a refeição, fomos dar uma volta de Jeep por hectares infindos, sobre estradas de areia, rodeados de azinheiras e sobreiros, pesada monotonia que me fez adormecer no caminho de volta. Ao anoitecer regressei a casa, trazendo na bagagem toucinho salgado e chouriços de carne de porco preto, manjares que só me farão bem, por estar substancialmente mais magro e de nunca ter perdido o apetite. O Alentejo ficou para trás mas eu hei-de lá voltar, pois quero desvendar os seus segredos e confraternizar com a sua gente, que me parece única, enigmática e sofredora, jamais vazia ou desatenta. Nem só de cães vive um adestrador!

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