Parece-nos que o vocábulo
inglês “odorology” e o seu correspondente francês “odorologie”, ainda não têm
correspondência na língua portuguesa, que provavelmente virá ser “odorologia”
(isto dizemos nós), por se tratar da “ciência dos odores”. Odorologie/odorology
é uma técnica que utiliza cães especialmente treinados para identificar o odor
humano nas investigações policiais, no intuito de determinar se um indivíduo esteve
presente na cena do crime, sendo por isso um complemento forense. Não obstante,
ainda não existe qualquer norma internacional que regule o treino destes cães,
que desde há muito são usados para esse fim, ajudando em muito os
investigadores, apesar da sua certificação não ter sido até agora considerada como
elemento de prova.
No “Centre de Recherche en
Neurosciences de Lyon (CNRS)”, da Universidade Claude Bernard Lyon 1 (França),
investigadores especializados em odores e na sua memorização analisaram os
dados fornecidos pela Divisão da Polícia Técnica e Científica (DTSP, Ecully)
desde 2003 sobre as performances dos cães em tarefas de identificação de odores.
Segundo os resultados que obtiveram, os cães destinados a essa tarefa, depois
de treinados durante 24 meses, foram capazes de identificar o odor do indivíduo
certo em 85% dos casos e nunca o confundiram com outro, conclusões que validam
os procedimentos actualmente em uso e que deverão convencer a comunidade
internacional acerca da fiabilidade deste método.
Durante o treino básico,
os pastores alemães e belgas da polícia (foram estes os testados) aprendem a
combinar dois odores do mesmo indivíduo mediante tarefas cada vez mais
complexas. Até ao términos do seu adestramento específico, os animais farejam
um odor humano de referência e em seguida terão que identificá-lo entre cinco
odores humanos diferentes. Perante o seu acerto e ao deitarem junto do frasco
certo, os cães são recompensados com uma guloseima ou com uma brincadeira do
seu agrado. Os odores humanos usados são recolhidos através dum objecto que uma
pessoa tenha tocado ou directamente do seu odor. Apesar dos 24 meses de treino
serem necessárias para que os animais atinjam performances estáveis e óptimas,
logo a metade do treino (aos 12 meses), os cães já não cometem erros de identificação,
não confundindo o odor de uma pessoa com o de outra. Como o treino propicia o
aumento da sua sensibilidade olfactiva, o seu acerto ronda os 85%. Os 15% de
insucesso verificados não ficaram a dever-se aos cães mas à má qualidade das
amostras. Conclui-se também que os Pastores Alemães obtiveram melhores
prestações que os Belgas por serem mais disciplinados e atentos (outra coisa
não seria de esperar).
Ao concluírem
a sua habilitação, os cães tornam-se capazes de participar em processos
criminais e receberão formação contínua ao longo da vida. Na prática, cada
teste de identificação é confirmado no mínimo por dois cães, cabendo a cada um
dois ensaios bem-sucedidos com o mesmo odor, que lhe é dado a inalar no início
da tarefa ou num dos frascos que o cão irá farejar. Entre 2003 e 2016, estes
cães foram utilizados em 522 casos e ajudaram a resolver 162 deles. Como as
amostras de referência nestes casos tinham sido depositadas algumas horas ou
dias atrás, os pesquisadores pretendem agora que os cães detectem odores mais
antigos, amostras que poderão ser guardadas em locais próprios ao longo dos
anos. O presente estudo é um desafio para as escolas caninas, já que com
relativa facilidade conseguirão habilitar os seus cães nesta área, fazendo dela
um jogo e complemento, trabalho descontraído ao seu alcance e muito do seu
agrado.
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