terça-feira, 26 de abril de 2016

AS MINHAS ROSEIRAS E A CANICULTURA

Eu adoro roseiras e tenho várias, se não fosse criador de cães, teria sido botânico, porque o amor pelas plantas parece-me transmitido por via genética, pois tinha uma tia que falava com elas e sou capaz de jurar que era ouvida. Cultivar rosas e criar cães são actividades mais próximas do que à partida se julga, porque ambas necessitam de saber, experiência, sensibilidade, dedicação, observação, trabalho e progresso. Ainda que a obtenção de cada uma delas sirva diferentes propósitos, em ambas está presente o impulso humano inato que o liga à criação, ao querer compreender, à descoberta das leis naturais, ao desejo de transformar a natureza e de lhe dar um cunho pessoal, pormenores que podem estar ligados ao facto de sermos finitos, de não querermos ser esquecidos e de procurarmos a imortalidade, porque quando andamos entretidos, não pensamos que amanhã já não estaremos por cá.
Assim como a primeira preocupação para quem quer produzir rosas é a escolha do local apropriado, que deve ser ensoleirado e arejado, também a criação de cães deverá considerar o local onde iremos fazer o canil, tendo em atenção a sua orientação relativa ao movimento da terra, os ventos dominantes no local, a temperatura média anual e o seu teor de humidade, indícios claros para harmonizar a raça que desejamos criar com o ecossistema que temos à disposição, porque os cães, por mais domesticados que sejam e por maior que seja a sua adaptação, sempre se regularão e fortalecerão pelo relógio biológico. Diante destes pormenores cada raça irá exigir ecossistemas próprios para ao seu bem-estar, consoante a sua morfologia, grau de actividade, tipo de pelagem, etc. Como não é prático debruçar-nos sobre as exigências de todas, debruçar-nos-emos sobre as mais comuns, servindo-nos como exemplo do caso do Cão de Pastor Alemão, que suporta temperaturas mais baixas, teores de humidade mais elevados e que não apresenta dificuldades nos climas temperados marítimos como o nosso (mais explicações poderão ser encontradas nos textos deste blogue “O Canil” e “A Casota do Cão”).
Na escolha das roseiras somos obrigados a aquilatar do seu bom estado, pois deverão apresentar-se viçosas, com caules vigorosos, bem revestidas de folhas, isentas de doenças e parasitas. Idêntico cuidado deveremos ter na escolha dos cachorros, que deverão encontrar-se lustrosos, bem nutridos, activos, saudáveis, desparasitados, vacinados, dentro do peso e tamanho para a sua idade, isentos das doenças mais comuns na sua raça, apresentar um carácter equilibrado e bons impulsos herdados para a função que deles esperamos, porque doutro modo irão transmitir à sua descendência as mazelas de que são portadores, gerando assim produtos desprezíveis. Se as roseiras se dão em qualquer tipo de terreno, também os cães crescem e sobrevivem com qualquer dieta, mas se o solo indicado para as roseiras deverá ter um pH neutro e ser rico em húmus para a obtenção de rosas bem formadas e duradouras, também os cachorros exigem pensos diários com 30% de proteína e 20% de gordura para crescerem saudáveis e virem a desempenhar cabalmente e sem dificuldade as incumbências de que serão alvo, já que homens, cães e roseiras vivem do que comem.
As roseiras exigem tratamentos fitossanitários sistemáticos, que vão desde a eliminação de parasitas até ao arranque de ervas daninhas, os cães exigem desparasitações regulares, cuidados sanitários preventivos, limpeza e exercício diários, atenção, carinho, sociabilização, instrução e regra, porquanto são seres vivos.
As semelhanças entre o cultivo de roseiras e a criação de cães não se esgotam aqui, pelo que estamos à disposição dos nossos leitores que se queiram dedicar à canicultura, quer adiantando-lhes conselhos quer dissipando-lhes dúvidas, dando-lhes desde já os nossos parabéns por essa decisão mas alertando-os para o facto da venda de cães ser uma prestação de serviço, pois criar cães não deverá ser uma tômbola mas uma actividade planeada com metas e objectivos predeterminados.   

Sem comentários:

Enviar um comentário