Eu adoro roseiras e
tenho várias, se não fosse criador de cães, teria sido botânico, porque o amor
pelas plantas parece-me transmitido por via genética, pois tinha uma tia que
falava com elas e sou capaz de jurar que era ouvida. Cultivar rosas e criar
cães são actividades mais próximas do que à partida se julga, porque ambas
necessitam de saber, experiência, sensibilidade, dedicação, observação,
trabalho e progresso. Ainda que a obtenção de cada uma delas sirva diferentes
propósitos, em ambas está presente o impulso humano inato que o liga à criação,
ao querer compreender, à descoberta das leis naturais, ao desejo de transformar
a natureza e de lhe dar um cunho pessoal, pormenores que podem estar ligados ao
facto de sermos finitos, de não querermos ser esquecidos e de procurarmos a
imortalidade, porque quando andamos entretidos, não pensamos que amanhã já não
estaremos por cá.
Assim como a
primeira preocupação para quem quer produzir rosas é a escolha do local
apropriado, que deve ser ensoleirado e arejado, também a criação de cães deverá
considerar o local onde iremos fazer o canil, tendo em atenção a sua orientação
relativa ao movimento da terra, os ventos dominantes no local, a temperatura
média anual e o seu teor de humidade, indícios claros para harmonizar a raça
que desejamos criar com o ecossistema que temos à disposição, porque os cães,
por mais domesticados que sejam e por maior que seja a sua adaptação, sempre se
regularão e fortalecerão pelo relógio biológico. Diante destes pormenores cada
raça irá exigir ecossistemas próprios para ao seu bem-estar, consoante a sua
morfologia, grau de actividade, tipo de pelagem, etc. Como não é prático debruçar-nos
sobre as exigências de todas, debruçar-nos-emos sobre as mais comuns,
servindo-nos como exemplo do caso do Cão de Pastor Alemão, que suporta
temperaturas mais baixas, teores de humidade mais elevados e que não apresenta
dificuldades nos climas temperados marítimos como o nosso (mais explicações
poderão ser encontradas nos textos deste blogue “O Canil” e “A Casota do Cão”).
Na escolha das
roseiras somos obrigados a aquilatar do seu bom estado, pois deverão apresentar-se
viçosas, com caules vigorosos, bem revestidas de folhas, isentas de doenças e
parasitas. Idêntico cuidado deveremos ter na escolha dos cachorros, que deverão
encontrar-se lustrosos, bem nutridos, activos, saudáveis, desparasitados, vacinados,
dentro do peso e tamanho para a sua idade, isentos das doenças mais comuns na
sua raça, apresentar um carácter equilibrado e bons impulsos herdados para a
função que deles esperamos, porque doutro modo irão transmitir à sua
descendência as mazelas de que são portadores, gerando assim produtos
desprezíveis. Se as roseiras se dão em qualquer tipo de terreno, também os cães
crescem e sobrevivem com qualquer dieta, mas se o solo indicado para as
roseiras deverá ter um pH neutro e ser rico em húmus para a obtenção de rosas
bem formadas e duradouras, também os cachorros exigem pensos diários com 30% de
proteína e 20% de gordura para crescerem saudáveis e virem a desempenhar
cabalmente e sem dificuldade as incumbências de que serão alvo, já que homens,
cães e roseiras vivem do que comem.
As roseiras exigem
tratamentos fitossanitários sistemáticos, que vão desde a eliminação de
parasitas até ao arranque de ervas daninhas, os cães exigem desparasitações
regulares, cuidados sanitários preventivos, limpeza e exercício diários, atenção,
carinho, sociabilização, instrução e regra, porquanto são seres vivos.
As semelhanças
entre o cultivo de roseiras e a criação de cães não se esgotam aqui, pelo que
estamos à disposição dos nossos leitores que se queiram dedicar à canicultura, quer
adiantando-lhes conselhos quer dissipando-lhes dúvidas, dando-lhes desde já os nossos
parabéns por essa decisão mas alertando-os para o facto da venda de cães ser
uma prestação de serviço, pois criar cães não deverá ser uma tômbola mas uma
actividade planeada com metas e objectivos predeterminados.
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