Tumat é uma aldeia russa
perdida, ignota, e exageradamente gélida no extremo nordeste daquele País, na
Sibéria Oriental, a 2.900 milhas de Moscovo e a 80 milhas do Mar de Laptev que
faz fronteira com o Oceano Árctico, assente sobre o pergissolo (mistura de
terra, gelo e rochas permanentemente congelados) e cujos nativos são
maioritariamente de origem mongol (asiática), chamados de paleossiberianos e de
crença animista. Doravante Tumat passará a ser conhecida pela comunidade
científica graças à descoberta de dois cachorros da idade do gelo nos seus
arredores, animais que remontam à 12.460 anos atrás, encontrados em bom estado
de conservação (com pelo, pele e órgãos internos) e que aparentam ter morrido
com 3 meses de idade. Segundo se crê, pertencerão à mesma ninhada. A descoberta
acidental do primeiro cachorro, que ocorreu em 2011, coube a uns caçadores
locais ao tropeçarem nele. O segundo cachorro, agora encontrado, deve-se ao
esforço duma equipa de cientistas do Museu do Mamute e do Instituto de Ecologia
Aplicada do Norte, chefiada por Sergei Fedorov, que supervisionou a remoção do
cérebro daquele animal, em excelente estado de conservação, que irá ser
comparado com o dos cães modernos e lobos.
A descoberta destes
cachorros é um verdadeiro achado e é raríssima, porque os cães nesse estágio de
desenvolvimento apresentam ossos muito finos e crânios delicados, o que torna
quase impossível encontrá-los. Desconhece-se se teriam sido selvagens ou já
domesticados, resposta que irá ser dada pela reconstrução do seu genoma, tarefa
que demorará sensivelmente um ano. Como ainda não foram descobertas as
linhagens de lobos por detrás da origem dos cães, é possível que os “Cachorros
de Tumat” contribuam para esse esclarecimento e adiantem quem se aproximou de
quem, se foram os homens que roubaram os filhotes dos lobos ou se foram estes
que se aproximaram dos humanos por necessidade de comida Uma verdade podemos
ter como certa, apesar de intrigante: os cães já eram o melhor amigo do homem
antes deste se tornar sedentário e agricultor!
Ao abrir o estômago do
segundo cachorro, a equipa ficou estupefacta porque, ao invés de vestígios de
carne, encontrou nele galhos e ervas, o que de imediato levantou uma questão:
seriam eles carnívoros ou não, será que foram obrigados a comer erva por ficarem
isolados e estarem a morrer à fome? Breve a resposta será dada, já que o tecido
mole irá dar muito mais informações do que as obtidas através de fósseis comuns
(ossos e dentes). Ficamos a aguardar ansiosamente novos desenvolvimentos,
porque o tema interessa a todos os que se dedicam aos cães. A propósito, quando
se descobrirá o animal de transição do macaco para o homem, o elo de ligação
que há mais dum século tem toldado a cabeça de muitos? À parte da curiosidade,
a mim pouco me adianta, porque não posso receber sangue de chimpanzé e nem tão
pouco posso ser clonado. Será que há uns mais macacos do que outros? Fiquemos
com o slogan da Benetton: “Todos diferentes, todos iguais” ou como canta o Rui Veloso: “Muito mais é o que nos une, que aquilo que nos separa”. Unidos em
torno dos cães, voltaremos a dar notícia dos avanços científicos que lhes dizem respeito.
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