quinta-feira, 31 de março de 2016

OS CACHORROS DE TUMAT

Tumat é uma aldeia russa perdida, ignota, e exageradamente gélida no extremo nordeste daquele País, na Sibéria Oriental, a 2.900 milhas de Moscovo e a 80 milhas do Mar de Laptev que faz fronteira com o Oceano Árctico, assente sobre o pergissolo (mistura de terra, gelo e rochas permanentemente congelados) e cujos nativos são maioritariamente de origem mongol (asiática), chamados de paleossiberianos e de crença animista. Doravante Tumat passará a ser conhecida pela comunidade científica graças à descoberta de dois cachorros da idade do gelo nos seus arredores, animais que remontam à 12.460 anos atrás, encontrados em bom estado de conservação (com pelo, pele e órgãos internos) e que aparentam ter morrido com 3 meses de idade. Segundo se crê, pertencerão à mesma ninhada. A descoberta acidental do primeiro cachorro, que ocorreu em 2011, coube a uns caçadores locais ao tropeçarem nele. O segundo cachorro, agora encontrado, deve-se ao esforço duma equipa de cientistas do Museu do Mamute e do Instituto de Ecologia Aplicada do Norte, chefiada por Sergei Fedorov, que supervisionou a remoção do cérebro daquele animal, em excelente estado de conservação, que irá ser comparado com o dos cães modernos e lobos. 
A descoberta destes cachorros é um verdadeiro achado e é raríssima, porque os cães nesse estágio de desenvolvimento apresentam ossos muito finos e crânios delicados, o que torna quase impossível encontrá-los. Desconhece-se se teriam sido selvagens ou já domesticados, resposta que irá ser dada pela reconstrução do seu genoma, tarefa que demorará sensivelmente um ano. Como ainda não foram descobertas as linhagens de lobos por detrás da origem dos cães, é possível que os “Cachorros de Tumat” contribuam para esse esclarecimento e adiantem quem se aproximou de quem, se foram os homens que roubaram os filhotes dos lobos ou se foram estes que se aproximaram dos humanos por necessidade de comida Uma verdade podemos ter como certa, apesar de intrigante: os cães já eram o melhor amigo do homem antes deste se tornar sedentário e agricultor!
Ao abrir o estômago do segundo cachorro, a equipa ficou estupefacta porque, ao invés de vestígios de carne, encontrou nele galhos e ervas, o que de imediato levantou uma questão: seriam eles carnívoros ou não, será que foram obrigados a comer erva por ficarem isolados e estarem a morrer à fome? Breve a resposta será dada, já que o tecido mole irá dar muito mais informações do que as obtidas através de fósseis comuns (ossos e dentes). Ficamos a aguardar ansiosamente novos desenvolvimentos, porque o tema interessa a todos os que se dedicam aos cães. A propósito, quando se descobrirá o animal de transição do macaco para o homem, o elo de ligação que há mais dum século tem toldado a cabeça de muitos? À parte da curiosidade, a mim pouco me adianta, porque não posso receber sangue de chimpanzé e nem tão pouco posso ser clonado. Será que há uns mais macacos do que outros? Fiquemos com o slogan da Benetton: “Todos diferentes, todos iguais” ou como canta o Rui Veloso: “Muito mais é o que nos une, que aquilo que nos separa”. Unidos em torno dos cães, voltaremos a dar notícia dos avanços científicos que lhes dizem respeito. 

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