segunda-feira, 11 de abril de 2016

ENSINAR UM CÃO MAIS VELHO

Por pressão dos donos, sempre ensinámos obediência a cães de todas as idades, apesar de o fazermos contrariados a animais com seis ou mais anos, por entendermos estar a violentá-los, sabendo que se agarram desesperadamente a velhos hábitos, com os quais sempre se deram bem, e que aprendem mais lentamente por menor flexibilidade cognitiva, ainda que o seu raciocínio lógico melhore com a idade pelo concurso da experiência e a sua memória a longo prazo seja pouco afectada. Mas se lhes ensinamos obediência debaixo da coacção dos donos, nunca nos permitimos adestrá-los para guarda ou obrigá-los a exercícios físicos para os quais nunca foram preparados, mesmo quando a sua disponibilidade e desenvoltura eram evidentes, por temermos traumas e lesões, que a acontecerem seriam de difícil recuperação, podendo tornar-se crónicos e atentar contra o seu bem-estar.
Diante destas dificuldades e perante estes riscos, sabendo que os cães tornam-se melhores caçadores com a idade, não os querendo bloquear e ajudá-los, sempre nos valemos da pistagem como subsídio para a obediência, opção que se revelou válida por ser do seu agrado, deles e doutros, independentemente da sua idade, mesmo dos mais irascíveis, desatentos ou compulsivos, para quem esta prática é a mais indicada como terapia, fortalecendo e ratificando por via instintiva a cumplicidade procurada.
Para além disso, considerando o respeito que é devido aos animais e o aproveitamento das suas mais-valias, torna-se obrigatório conhecer os hábitos dos cães mais velhos anteriores ao treino, estudo que possibilitará a transição gradativa desses hábitos para a função requerida, garantindo o acerto das estratégias e o sucesso das metas e objectivos a traçar. Se procedermos doutro modo, corremos o risco de ruptura, de lhes criarmos aversão pelo treino devido à sua artificialidade, coisa fácil de acontecer quando desconsideramos o histórico de cada cão, omissão que tornará quase impossível a sua reconversão e correcção (descodificação). Em simultâneo, há que inquirir acerca do pormenor da sua instalação e rotinas domésticas, aconselhando a sua alteração, caso sejam manifestamente inadequadas à parceria exigida, diante do desfasamento temporal entre o treino e os momentos de inactividade, que devem ambos contribuir para a adaptação dos animais.
Se é de todo aconselhável que sejam os donos a educar os seus próprios cães, ainda que debaixo da supervisão de um profissional, tratando-se dos cães seniores o conselho passa a obrigação pela necessidade de identificação dos animais, porque com maior dificuldade responderão afirmativamente às solicitações de estranhos, que não os viram crescer e que de algum modo atentam contra o seu modo de vida pela troca de hábitos. Dispensar-se-ão eventualmente os donos, numa primeira fase, cuja paciência esteja em falta, com grandes dificuldades na aquisição dos procedimentos correctos e os carentes de afecto e de autoridade, deméritos bastantes para inicialmente operarem a educação dos seus companheiros. No entanto, logo que possível e quanto antes, deverão abraçar o seu encargo.
Por tudo o que foi dito, a educação dos cães mais velhos encontra-se sujeita a alguma demora, até porque não pode e não deve ser feita à pressa, porque estamos perante um caso típico de reeducação e como tal, com um cronograma pedagógico mais extenso, delonga que deverá evitar qualquer tipo de saturação e confrontação, que a existirem, ao provocarem resistência, só atrasariam e comprometeriam o adestramento destes cães, cuja inaptidão não é da sua responsabilidade como convém lembrar.
Com tempo e com o empenho dos donos, conhecendo o histórico dos animais e os seus hábitos, alterando algumas rotinas domésticas que obstam à sua melhor adaptação e valendo-nos da pistagem para fomentar a parceria, num quadro de tolerância e respeito pelos cães, que jamais dispensará a experiência positiva, podemos educar satisfatoriamente qualquer cão de qualquer idade, seniores inclusive, que são naturalmente mais observadores e menos dados a explosões. Nada é mais grato do que educar um cão mais velho, dar-lhe uma nova investidura e identidade, apesar de não ser fácil e exigir tempo e saber. Ensinar cachorros não é difícil, ensinar cães velhos é uma arte que só o amor faculta. 

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