Por pressão dos donos, sempre
ensinámos obediência a cães de todas as idades, apesar de o fazermos
contrariados a animais com seis ou mais anos, por entendermos estar a violentá-los,
sabendo que se agarram desesperadamente a velhos hábitos, com os quais sempre
se deram bem, e que aprendem mais lentamente por menor flexibilidade cognitiva,
ainda que o seu raciocínio lógico melhore com a idade pelo concurso da
experiência e a sua memória a longo prazo seja pouco afectada. Mas se lhes
ensinamos obediência debaixo da coacção dos donos, nunca nos permitimos adestrá-los
para guarda ou obrigá-los a exercícios físicos para os quais nunca foram
preparados, mesmo quando a sua disponibilidade e desenvoltura eram evidentes,
por temermos traumas e lesões, que a acontecerem seriam de difícil recuperação,
podendo tornar-se crónicos e atentar contra o seu bem-estar.
Diante destas dificuldades
e perante estes riscos, sabendo que os cães tornam-se melhores caçadores com a
idade, não os querendo bloquear e ajudá-los, sempre nos valemos da pistagem
como subsídio para a obediência, opção que se revelou válida por ser do seu
agrado, deles e doutros, independentemente da sua idade, mesmo dos mais irascíveis, desatentos ou compulsivos, para quem esta prática é a mais indicada
como terapia, fortalecendo e ratificando por via instintiva a cumplicidade
procurada.
Para além disso,
considerando o respeito que é devido aos animais e o aproveitamento das suas
mais-valias, torna-se obrigatório conhecer os hábitos dos cães mais velhos
anteriores ao treino, estudo que possibilitará a transição gradativa desses
hábitos para a função requerida, garantindo o acerto das estratégias e o
sucesso das metas e objectivos a traçar. Se procedermos doutro modo, corremos o
risco de ruptura, de lhes criarmos aversão pelo treino devido à sua artificialidade,
coisa fácil de acontecer quando desconsideramos o histórico de cada cão,
omissão que tornará quase impossível a sua reconversão e correcção
(descodificação). Em simultâneo, há que inquirir acerca do pormenor da sua
instalação e rotinas domésticas, aconselhando a sua alteração, caso sejam
manifestamente inadequadas à parceria exigida, diante do desfasamento temporal entre
o treino e os momentos de inactividade, que devem ambos contribuir para a
adaptação dos animais.
Se é de todo aconselhável
que sejam os donos a educar os seus próprios cães, ainda que debaixo da supervisão
de um profissional, tratando-se dos cães seniores o conselho passa a obrigação
pela necessidade de identificação dos animais, porque com maior dificuldade
responderão afirmativamente às solicitações de estranhos, que não os viram
crescer e que de algum modo atentam contra o seu modo de vida pela troca de
hábitos. Dispensar-se-ão eventualmente os donos, numa primeira fase, cuja
paciência esteja em falta, com grandes dificuldades na aquisição dos
procedimentos correctos e os carentes de afecto e de autoridade, deméritos
bastantes para inicialmente operarem a educação dos seus companheiros. No
entanto, logo que possível e quanto antes, deverão abraçar o seu encargo.
Por tudo o que foi dito, a
educação dos cães mais velhos encontra-se sujeita a alguma demora, até porque
não pode e não deve ser feita à pressa, porque estamos perante um caso típico
de reeducação e como tal, com um cronograma pedagógico mais extenso, delonga
que deverá evitar qualquer tipo de saturação e confrontação, que a existirem, ao
provocarem resistência, só atrasariam e comprometeriam o adestramento destes
cães, cuja inaptidão não é da sua responsabilidade como convém lembrar.
Com tempo e com o empenho
dos donos, conhecendo o histórico dos animais e os seus hábitos, alterando
algumas rotinas domésticas que obstam à sua melhor adaptação e valendo-nos da
pistagem para fomentar a parceria, num quadro de tolerância e respeito pelos
cães, que jamais dispensará a experiência positiva, podemos educar
satisfatoriamente qualquer cão de qualquer idade, seniores inclusive, que são naturalmente
mais observadores e menos dados a explosões. Nada é mais grato do que educar um
cão mais velho, dar-lhe uma nova investidura e identidade, apesar de não ser
fácil e exigir tempo e saber. Ensinar cachorros não é difícil, ensinar cães
velhos é uma arte que só o amor faculta.
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