Por casualidade,
quando nos encontrávamos à procura de novidades na Internet, dando especial
atenção ao que se passa nos PALOP’S em matéria de canicultura e cinotecnia
(Angola vai de vento em popa, oxalá a crise económica não comprometa o trabalho
já realizado), descobrimos Orlando Tivane, um moçambicano que se dedica ao
adestramento e que tem uma história de vida que nos sensibilizou, porque tinha
tudo para não ser ninguém e desbravou um lugar ao sol, sendo hoje um homem
respeitado, com algum sucesso e empenhado em valer aos outros. Aos 10 anos de
idade viu-se obrigado a sair de casa, forçado pelos desentendimentos dos seus
pais, pela miséria e pela Guerra Civil que a todos fustigava. Acabou como
tantos outros miúdos da sua idade nas ruas de Maputo, a arrumar carros, a
lavá-los e a carregar os cestos das vendedoras para o Mercado Central,
servindo-lhe os vãos de escada e os bancos de jardim como leito.
Em 1990, incluído num
grupo de 35 crianças, foi recolhido por uma equipa da “Cidadela das Crianças”
pertencente à ADPP, uma ONG criada em 1982 que actualmente implementa mais de
60 projectos em todas as províncias do país, empregando mais de 3.000
trabalhadores e beneficiando mais de 2 milhões de moçambicanos anualmente,
apostada na Educação, Saúde, Agricultura e Energias Renováveis, centrando-se na
melhoria da educação básica através da Formação de Professores, melhoria da
segurança alimentar e dos meios de subsistência nas zonas rurais através dos
Clubes de Agricultores e da melhoria da saúde da comunidade através do Programa
TCE de prevenção do HIV/SIDA, que abraçou a missão de promover o desenvolvimento
social e económico equitativo do povo moçambicano e em particular daqueles que
estão numa posição mais vulnerável - as crianças, os órfãos e os pobres rurais,
especialmente as mulheres e raparigas - a fim de garantir que possam participar
em igualdade de condições para o desenvolvimento do seu país e desfrutar dos
seus direitos humanos ao máximo (estamos a citar).
Encantado por se terem
lembrado dele, viu com muita alegria a sua integração na “Cidadela das Crianças”,
porque queria estudar e ali teria acesso à educação. Aos 12 anos, por ser um
miúdo sensato e cumpridor, foi incumbido pela Directora daquela instituição para
ser o aluno interno responsável pela Machamba, pela criação de gado, cabritos,
porcos, galinhas patos e coelhos, encargo que aceitou de bom grado e que
aumentou ao cuidar dos dois Pastores Alemães do Director, ocasião que lhe despertou
o amor pelos cães e a paixão pelo adestramento, sentimento e emoção que nunca
mais o largaram e que o transformaram no reputado adestrador que é hoje, sendo em
simultâneo mais um caso de sucesso daquela instituição. Acabou por criar um
método próprio de adestramento, chamando-lhe “agility training”, juntando à
disciplina de obediência a prática de obstáculos, o que muito tem agradado aos
proprietários dos cães. Trabalha das 05H30 até às 19H00, clientes não lhe
faltam, já ensinou outros a seguir-lhe as pisadas e tem também um hotel para
cães, desenvolvendo em paralelo exibições que revertem a favor dos mais
vulneráveis e desfavorecidos. Tem hoje 37 anos e uma família numerosa.
Encantar-nos-ia conhecê-lo
pessoalmente, saber mais acerca do seu trabalho e expectativas, porque
respeitamos o seu esforço e congratulamo-nos com o seu sucesso, pondo-nos desde
já à sua disposição para o que lhe aprouver. Parabéns Orlando, segue em frente!
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