Jamais me esquecerei deste
pregão enquanto por cá andar, usado por vendedores ambulantes cuja mercadoria,
diziam, ser própria para meninos e meninas, geralmente algum tipo de vestuário,
acessório ou brinquedo de baixo custo e de qualidade pouco recomendável, que
apregoavam nas feiras a céu aberto. Também não me esqueço duma trapaça que
ocorreu aquando da minha puberdade, quando os filhos de gente abastada, meus
colegas de liceu, “inexplicavelmente” e contrariamente à sua genética,
ultrapassaram todos 1.85 cm de altura (hoje medem o mesmo, são pouco saudáveis e
é raro aquele que pesa menos de 120 kg). Havia naquele tempo, só o vim saber
alguns anos mais tarde e a título de confidência, um médico em Lisboa que dava
umas injecções a meninos e meninas para que eles crescessem mais, clínico que
nisso trabalha em segredo e que se fazia pagar muito bem em função dos
resultados obtidos. Nenhum dos seus pacientes sabe ainda hoje o que lhe foi
injectado (provavelmente hormonas de crescimento), mas lá que funcionou,
funcionou! Segundo ouvi dizer, parece que o médico milagreiro já foi desta para
melhor, resta saber a quem teria deixado o seu chorudo pecúlio, já que filhos
não tinha e se tinha mulher, nunca foi vista.
Já tínhamos contado esta
história neste blogue, possivelmente como abordagem ao mesmo assunto: a aplicação
de esteróides anabolizantes nos cães, prática entre nós felizmente pouco usual,
requerida por alguns criadores a quem lhes valer e substâncias entendidas no
seu conjunto como “cocktail milagroso”, milagres com resultados mais
estrondosos quando aplicados antes da maturidade sexual dos cachorros (compreende-se
porquê). A solução procurada por estes criadores assenta sobre uma razão económica,
porque quanto menos gastarem nas ninhadas mais ganham na sua venda, respeitando
a regra dourada das transacções comerciais e considerando a austeridade que
teima em nos largar, muito embora sejam nisto reincidentes, mesmo nos momentos
de menor aperto. A esta manigância concorrem os criadores com menos poder
económico, os mais somíticos e os afogados na endogamia, condições que podem
reunir-se num só indivíduo.
Cães destes, por mais
magníficos que se apresentem, serão sempre animais de “laboratório” e não
transmitirão às suas proles a robustez neles visível, porque é-lhes artificial por
via das injecções que tomaram, acabando por transmitir as mazelas que carregam
e que os esteróides anabolizantes encobriram. À parte disto, porque 3 injecções
de 15 em 15 dias podem não bastar, alguns cachorros vêem-se sujeitos a mais
duas ou três, abuso e sobrecarga que poderá ter como consequência insuficiência
renal, problemas hepáticos, intestinais e coronários, alterações de
comportamento e contribuir de modo eficaz para vários tipos de câncer. Resta
saber como esta gentalha toma posse destas nefastas injecções, porque não
acredito que nenhum veterinário as aplique ou ceda. Será que vão mendigá-las
para as portas dos ginásios ou traficá-las-ão? Não faço a mínima ideia!
E eu a pensar que a época
dos alquimistas já pertencia à história, apesar de ver crescer o número de
iluminados, curandeiros e charlatães. O Homem não tem emenda e tal qual o
porco, sempre volta ao seu chiqueiro. Feliz é o cão que o dono traz no coração,
desgraçado é aquele cujo dono só pensa na carteira. A Oeste nada de novo, assim
vamos desandando!
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