terça-feira, 12 de abril de 2016

REFLEXIONS ABOUT NICKY’S FUNERAL

Vamos aos factos. Nicky, um Pastor Belga Malinois de oito anos, nascido na Holanda e incorporado na Unidade K9 do Departamento de Polícia de Las Vegas/USA, que já havia sido brutalmente esfaqueado na cabeça em serviço, acabou abatido a tiro, no dia 31 de Março deste ano, ao que parece por fogo amigo, durante a perseguição empreendida por 4 polícias a um presumível duplo homicida. Na última Quarta-feira, dia 06 de Abril, no Cemitério de Craig, local destinado ao sepultamento de cães-policia, onde já descansam 50, realizou-se o seu funeral e sepultamento, que contou com a presença de todos os binómios disponíveis daquele corpo policial, para além de muitos outros elementos do Departamento de Polícia de Las Vegas, numa cerimónia oficial que para além da evocação do falecido, teve direito aguarda de honra e a uma salva de tiros protocolar, culminando com a entrega da bandeira americana ao Sargento Eric Kerns, que proferiu o seu elogio fúnebre e que foi seu parceiro nos últimos 3 anos. A notícia chegou-nos através de agências noticiosas inglesas e norte-americanas.
Diante da solenidade do acto realizado pergunta-se: não terá sido exagerado? Não creio que tenha sido. E não creio porque um cão-polícia é para todos os efeitos, tanto no papel como na vida, um agente igual aos seus parceiros humanos, merecendo o mesmo respeito, admiração e honras, por dividir com eles idênticas missões e o próprio destino, salvando-lhes muitas vezes a pele ao alertá-los, ajudá-los e socorrê-los, chegando a dar a vida por eles, muito embora não saiba ao que vai e responda segundo a preparação que recebeu, engano que jamais será reparado e que obriga os seus parceiros a louvá-lo pelo sacrifício da sua vida. E assim sucedeu no cerimonial fúnebre do Nicky: um polícia que morreu no cumprimento do dever.
Será justo tornar cães inocentes em “carne para canhão”? Justo não será certamente, contudo conveniente, face ao especismo que justifica o seu uso, porque são recrutados e morrem para poupar vidas humanas (os cães de guarda encontram-se sujeitos ao mesmo fado). Como usamos os cães para este fim há milhares de anos e a humanidade se encontra em constante evolução, é possível que no futuro tal deixe de suceder e venham a ser substituídos por máquinas ou por outros meios igualmente pouco dispendiosos, porque é um contra-senso dizer que gostamos deles e industriá-los depois para a morte. Sim, chegará o dia em que deixaremos de malbaratar a vida dos outros animais nas nossas guerras, como ainda há pouco tempo aconteceu com os cavalos.
Ainda que a perca dum cão destes seja para a restante comunidade uma baixa se somenos importância (alguns relativizá-la-ão de imediato e outros até a ridicularizarão), para os seus parceiros não o é, porque não existem dois cães iguais e quando morre um cão destes, desaparece também e para sempre parte da vida dos seus companheiros. E isto é tão verdade que já chorei e ainda choro a perca de alguns cães que me acompanharam ao longo do meu trajecto, animais únicos que jamais vi reencarnados e que deixaram profunda saudade, por vezes até remorsos, por ter sido com eles pouco condescendente face à sua finidade. E se há coisas ainda por explicar, o amor pelos cães é uma delas, porque não há termo nem conceito capaz de explicá-lo cabalmente.
Quem foi militar profissional, quer queira quer não, sê-lo-á para sempre, porque até sem dar por isso, aqui e ali, nisto e naquilo, as marcas da sua formação virão ao de cima e levá-lo-ão a ver o mundo com outros olhos, numa primeira fase a necessitar de disciplina e na derradeira carenciado de amor (é nesta em que me encontro). Ao olhar para a apresentação dos membros do Corpo Cinotécnico do Departamento de Polícia de Las Vegas presentes naquele funeral, que contrastava com a dos restantes polícias ali presentes, lamentei-os pela falta de brio militar, má uniformização e parco espírito de corpo, lembrando-me em tudo uma polícia dum país meridional da CEE, que com fardas da cor de “fato-de macaco”, por vezes até gastas, desbotadas e russas, vem para a rua no cumprimento do seu dever, julgando com isso ter-se tornado mais operacional.
O Nicky morreu e já foi sepultado, breve outros cães-polícia terão o mesmo destino e repetir-se-á a mesma homenagem. Chorará quem tiver de chorar mas os cães não chorarão certamente!

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