Sabia que sonegámos em
média 1/3 da esperança de vida nos cães com pedigree, havendo casos
excepcionais que apontam para uma diminuição de 1/12? Comparativamente, apesar
da escassez de alimento e da invasão dos seus habitats, até os canídeos
selvagens vivem por mais tempo. Por que razão ou razões são os rafeiros mais
saudáveis e longevos que os cães padronizados? Obviamente por causa da
consanguinidade e endogamia desde sempre praticadas pelos criadores das distintas
raças caninas. E se os “cães puros” duram o que duram, devem-no em grande parte
aos bons ofícios dos veterinários, porque doutro modo sucumbiriam mais cedo.
Quer um cão saudável, com maior esperança de vida e não se encanta por mestiços
e híbridos? Então, siga os nossos conselhos, pois escrevemos este artigo para
si.
Na escolha da raça
considere o que tem para oferecer e aquilo que ela exige, porque isso resultará
num casamento perfeito e duradouro, o que implicará em informar-se o mais
possível acerca dela, das suas afecções mais comuns e do seu despiste, assim
como conhecer o maior número de exemplares que lhe pertencem. Se mesmo assim
sente que não consegue fazer uma escolha acertada, contrate (pague) os serviços
de um profissional idóneo e honesto para o ajudar na escolha, a quem poderá e deverá
exigir futuras responsabilidades no caso de logro (veterinário, criador, adestrador,
etc.). Dê preferência às raças que tenham maior biodiversidade (diferentes
tipos de pelo, cores e outras particularidades) e despreze aquelas que apenas
oferecem uma variedade, porque nestas a consanguinidade e a endogamia, sendo
mais acutilantes, condicionarão de sobremaneira a sua saúde e longevidade.
Dê preferência a criadores
que não têm como único meio de subsistência a criação de cães ou actividades dela
decorrentes ou interligadas, porque não olham a despesas, dão aos infantes a
comida apropriada, mantêm as ninhadas mais limpas, não descuidam os serviços
médico-veterinários, observam religiosamente as desparasitações, respeitam a
sua curva de crescimento, nomeadamente o peso (que é de suma importância), cuidam
melhor das matriarcas, são naturalmente mais zelosos dos seus cachorros, mantêm
com eles uma profunda relação afectiva e tratam-nos como verdadeiros príncipes,
o que irá influenciar positivamente no seu salutar crescimento, equilíbrio
psicológico e bem-estar social, pois é mais do que certo que um “imprinting”
descuidado sempre deixará marcas e de alguma forma condenará a futura qualidade
de vida dos cachorros. Assim, fuja dos criadores que criam cachorros à molhada,
entregues à sua sorte e jogados em capoeiras ou em habitáculos desprezíveis, que
andam sempre à bulha, carregados de imundice, fartos em diarreias, esganiçados
e famélicos (há gente que cria cães deste modo e ainda tem a lata de pedir por
eles 600, 800 e mais euros, quando na verdade deveria ser presa por maus-tratos
aos animais).
Um cachorro saudável é o
melhor dos garantes para um cão igualmente saudável, porque o peso genético e o
imprinting irão estabelecer a diferença dos pontos de vista físico,
psicológico, cognitivo e social. Recebendo um cachorro saudável, cabe-lhe a si
acompanhar o seu crescimento de igual modo, o que não é barato, exige especial
acompanhamento e rara disponibilidade. E sobre disponibilidade importa dizer
que a aquisição dum cão deve ser um projecto familiar e não uma acção isolada
de um dos seus membros, porque todos serão importantes para o crescimento
global do animal, que irá exigir de todos algum tipo de cuidado e atenção por
ser de índole social. Apesar de naturalmente só vir a reconhecer como líder um
dos membros do agregado familiar que o adoptou, considerará os restantes como
membros do seu grupo, interagirá com eles e chegará até a defendê-los, se para
tanto se prestar e se tornar premente (a gratidão é uma das qualidades há muito
reconhecidas nos cães).
Manter um cão saudável é
ser-se incomodado, pois há que dar-lhe boas condições de habitação ou de
coabitação, laborar continuamente pela sua inserção familiar e social
objectivas, proceder à sua higiene diária, distribuir-lhe o penso certo (valor
nutricional e grau de digestibilidade adequados), garantir-lhe o exercício
recomendado, levá-lo ao veterinário, proceder à sua desparasitação interna e
externa, respeitar o calendário de vacinações, implementar o hábito de lhe
fazer um check-up anual completo e estar atento a alguma alteração que afecte o
seu bem-estar físico e psicológico, preocupação que vai dos tratamentos
preventivos, à verificação do seu apetite até à medição da temperatura e à observação
das suas fezes, assim como ao controlo do seu peso e ritmos vitais.
Ainda que saúde do cão
deva ser objecto de atenção permanente enquanto viver, ela joga-se
maioritariamente nos primeiros 18 meses da sua vida (nalguns cães até mais
tarde), altura que já se encontra formado e alcança a sua maturidade emocional,
período da sua existência que é por norma mais dispendioso e que pode atingir
alguns milhares de euros. Julgo e penso não estar enganado, que uma das causas
por detrás do abandono dos cães e da sua morte precoce por ausência de
tratamento fica a dever-se ao facto de se tornaram incomportáveis para o
orçamento de muitas famílias, já que um cão é uma despesa extra e penosa para
quem não a pode suportar e anda à brocha com outras que não pode adiar.
Contudo, enquanto houver pobreza encoberta, é difícil prová-lo. Caso os cães
falassem, tudo seria deslindado facilmente!
Uma das obrigações que
mais castiga os proprietários caninos e que é essencial para a saúde dos cães é
a prática do exercício diário que reclamam, todo um conjunto de actividades
bipartidas que devem ser do agrado do animal e não sujeitas uma experiência
repetitiva e pobre, o que a acontecer tornará o animal menos solícito e
gradualmente menos curioso, mais desinteressado, stressado e enfadado, podendo
resultar disso um conjunto de taras de maior ou menor gravidade, inclusive
aquela que identificamos como “o virar do pau contra o feiticeiro”. Para que se
saiba e sirva de aviso, o número de cães afectados pela ansiedade cresce assustadoramente
porque os seus donos não têm tempo para eles, o que equivale a dizer que os
estão a matar aos poucos! Ao invés de brincadeiras artificiais que põem os cães
a correr sozinhos, devem os donos procurar actividades que desenvolvam em ambos
a melhoria dos seus índices atléticos, o fortalecimento dos laços binomiais e o
desenvolvimento cognitivo dos animais, que vivem em constante aprendizado e que
sempre carecem de adaptação. A melhor forma de manter um cão psicologicamente
saudável é promover-lhe a repartição de tarefas que são do seu agrado e estão
ao seu alcance. Enquanto ser social, o cão nasceu para ser treinado e melhora
substancialmente as suas prestações com o tempo e o treino.
Ter e manter um cão
saudável não é só pôr-lhe a comidinha a horas, é torná-lo útil e participativo,
compartir a nossa vida com ele e fazê-lo feliz. Tendo esse cuidado, a sua perca
de aptidão será menos sentida e o número dos seus dias virá a ser aumentado.
Pergunta-se: quem definhará primeiro, um cão eternamente jogado num canil ou
outro que sempre seguiu o seu dono por toda a parte? A saúde e longevidade dos
cães está na nossa mão, passa pela sua escolha acertada e pelas condições que
lhe dermos. Diante disto brada aos céus, haver gente que deseja ver o seu cão
velho para ter maior descanso! Quer ter um cão saudável por mais tempo? Faça
por isso!
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