quarta-feira, 6 de abril de 2016

QUER UM CÃO SAUDÁVEL E POR MAIS TEMPO?

Sabia que sonegámos em média 1/3 da esperança de vida nos cães com pedigree, havendo casos excepcionais que apontam para uma diminuição de 1/12? Comparativamente, apesar da escassez de alimento e da invasão dos seus habitats, até os canídeos selvagens vivem por mais tempo. Por que razão ou razões são os rafeiros mais saudáveis e longevos que os cães padronizados? Obviamente por causa da consanguinidade e endogamia desde sempre praticadas pelos criadores das distintas raças caninas. E se os “cães puros” duram o que duram, devem-no em grande parte aos bons ofícios dos veterinários, porque doutro modo sucumbiriam mais cedo. Quer um cão saudável, com maior esperança de vida e não se encanta por mestiços e híbridos? Então, siga os nossos conselhos, pois escrevemos este artigo para si.
Na escolha da raça considere o que tem para oferecer e aquilo que ela exige, porque isso resultará num casamento perfeito e duradouro, o que implicará em informar-se o mais possível acerca dela, das suas afecções mais comuns e do seu despiste, assim como conhecer o maior número de exemplares que lhe pertencem. Se mesmo assim sente que não consegue fazer uma escolha acertada, contrate (pague) os serviços de um profissional idóneo e honesto para o ajudar na escolha, a quem poderá e deverá exigir futuras responsabilidades no caso de logro (veterinário, criador, adestrador, etc.). Dê preferência às raças que tenham maior biodiversidade (diferentes tipos de pelo, cores e outras particularidades) e despreze aquelas que apenas oferecem uma variedade, porque nestas a consanguinidade e a endogamia, sendo mais acutilantes, condicionarão de sobremaneira a sua saúde e longevidade.
Dê preferência a criadores que não têm como único meio de subsistência a criação de cães ou actividades dela decorrentes ou interligadas, porque não olham a despesas, dão aos infantes a comida apropriada, mantêm as ninhadas mais limpas, não descuidam os serviços médico-veterinários, observam religiosamente as desparasitações, respeitam a sua curva de crescimento, nomeadamente o peso (que é de suma importância), cuidam melhor das matriarcas, são naturalmente mais zelosos dos seus cachorros, mantêm com eles uma profunda relação afectiva e tratam-nos como verdadeiros príncipes, o que irá influenciar positivamente no seu salutar crescimento, equilíbrio psicológico e bem-estar social, pois é mais do que certo que um “imprinting” descuidado sempre deixará marcas e de alguma forma condenará a futura qualidade de vida dos cachorros. Assim, fuja dos criadores que criam cachorros à molhada, entregues à sua sorte e jogados em capoeiras ou em habitáculos desprezíveis, que andam sempre à bulha, carregados de imundice, fartos em diarreias, esganiçados e famélicos (há gente que cria cães deste modo e ainda tem a lata de pedir por eles 600, 800 e mais euros, quando na verdade deveria ser presa por maus-tratos aos animais).
Um cachorro saudável é o melhor dos garantes para um cão igualmente saudável, porque o peso genético e o imprinting irão estabelecer a diferença dos pontos de vista físico, psicológico, cognitivo e social. Recebendo um cachorro saudável, cabe-lhe a si acompanhar o seu crescimento de igual modo, o que não é barato, exige especial acompanhamento e rara disponibilidade. E sobre disponibilidade importa dizer que a aquisição dum cão deve ser um projecto familiar e não uma acção isolada de um dos seus membros, porque todos serão importantes para o crescimento global do animal, que irá exigir de todos algum tipo de cuidado e atenção por ser de índole social. Apesar de naturalmente só vir a reconhecer como líder um dos membros do agregado familiar que o adoptou, considerará os restantes como membros do seu grupo, interagirá com eles e chegará até a defendê-los, se para tanto se prestar e se tornar premente (a gratidão é uma das qualidades há muito reconhecidas nos cães).
Manter um cão saudável é ser-se incomodado, pois há que dar-lhe boas condições de habitação ou de coabitação, laborar continuamente pela sua inserção familiar e social objectivas, proceder à sua higiene diária, distribuir-lhe o penso certo (valor nutricional e grau de digestibilidade adequados), garantir-lhe o exercício recomendado, levá-lo ao veterinário, proceder à sua desparasitação interna e externa, respeitar o calendário de vacinações, implementar o hábito de lhe fazer um check-up anual completo e estar atento a alguma alteração que afecte o seu bem-estar físico e psicológico, preocupação que vai dos tratamentos preventivos, à verificação do seu apetite até à medição da temperatura e à observação das suas fezes, assim como ao controlo do seu peso e ritmos vitais.
Ainda que saúde do cão deva ser objecto de atenção permanente enquanto viver, ela joga-se maioritariamente nos primeiros 18 meses da sua vida (nalguns cães até mais tarde), altura que já se encontra formado e alcança a sua maturidade emocional, período da sua existência que é por norma mais dispendioso e que pode atingir alguns milhares de euros. Julgo e penso não estar enganado, que uma das causas por detrás do abandono dos cães e da sua morte precoce por ausência de tratamento fica a dever-se ao facto de se tornaram incomportáveis para o orçamento de muitas famílias, já que um cão é uma despesa extra e penosa para quem não a pode suportar e anda à brocha com outras que não pode adiar. Contudo, enquanto houver pobreza encoberta, é difícil prová-lo. Caso os cães falassem, tudo seria deslindado facilmente!
Uma das obrigações que mais castiga os proprietários caninos e que é essencial para a saúde dos cães é a prática do exercício diário que reclamam, todo um conjunto de actividades bipartidas que devem ser do agrado do animal e não sujeitas uma experiência repetitiva e pobre, o que a acontecer tornará o animal menos solícito e gradualmente menos curioso, mais desinteressado, stressado e enfadado, podendo resultar disso um conjunto de taras de maior ou menor gravidade, inclusive aquela que identificamos como “o virar do pau contra o feiticeiro”. Para que se saiba e sirva de aviso, o número de cães afectados pela ansiedade cresce assustadoramente porque os seus donos não têm tempo para eles, o que equivale a dizer que os estão a matar aos poucos! Ao invés de brincadeiras artificiais que põem os cães a correr sozinhos, devem os donos procurar actividades que desenvolvam em ambos a melhoria dos seus índices atléticos, o fortalecimento dos laços binomiais e o desenvolvimento cognitivo dos animais, que vivem em constante aprendizado e que sempre carecem de adaptação. A melhor forma de manter um cão psicologicamente saudável é promover-lhe a repartição de tarefas que são do seu agrado e estão ao seu alcance. Enquanto ser social, o cão nasceu para ser treinado e melhora substancialmente as suas prestações com o tempo e o treino.
Ter e manter um cão saudável não é só pôr-lhe a comidinha a horas, é torná-lo útil e participativo, compartir a nossa vida com ele e fazê-lo feliz. Tendo esse cuidado, a sua perca de aptidão será menos sentida e o número dos seus dias virá a ser aumentado. Pergunta-se: quem definhará primeiro, um cão eternamente jogado num canil ou outro que sempre seguiu o seu dono por toda a parte? A saúde e longevidade dos cães está na nossa mão, passa pela sua escolha acertada e pelas condições que lhe dermos. Diante disto brada aos céus, haver gente que deseja ver o seu cão velho para ter maior descanso! Quer ter um cão saudável por mais tempo? Faça por isso! 

Sem comentários:

Enviar um comentário