Remetendo-me só a
Portugal, eu não sei quantas pessoas morreram sem falta de assistência, quantos
gostariam de ser eutanasiados e pôr fim ao seu sofrimento, quantos se
suicidaram, quantas crianças foram para a escola em jejum, quantos nada têm em
casa para comer e quantos idosos estão sem medicamentos, mas sei pelos números
oficiais divulgados pelo Ministério da Agricultura, através da Direcção-Geral
de Alimentação e Veterinária (DGAV) e hoje badalados pelos meios de comunicação
social, que no ano passado foram abatidos 12.000 cães e gatos, numa média de 33
por dia, número que as associações dedicadas aos animais refutam, apontando
para um total de 100.000 (não devem estar muito enganadas).
Mais depressa resolveremos
os problemas de cães e gatos que os dramas humanos e, se o problema dos animais
ainda não teve a solução esperada, é porque também ainda não encontrámos
solução para os dos homens. Penso e espero não estar enganado, que dentro em
breve os cães deixarão de ser abatidos nos canis terminais e que finalmente os
cães errantes desaparecerão, atendendo às campanhas de castração, a uma maior sensibilização
das populações, ao que já se passa na vizinha Espanha e à nova Lei que ontem entrou
em vigor na Região Autónoma da Madeira, que proíbe e considera como crime o
abate destes animais. Lei que a Sociedade Protectora dos Animais Domésticos do
Funchal acusa de ser prematura, pouco pensada e populista, porque prevê que os
animais, depois recolhidos e esterilizados, caso ninguém os adopte, voltem para
as ruas! Não obstante, estão a Madeira e os madeirenses de parabéns, porque
deram um passo em frente em prol dos animais, quiçá também pela influência dos
turistas, porque onde há “camones” não se vende pichelim.
Neste combate diário e
constante contra o abandono e morte dos animais, há que tirar o chapéu ao
trabalho desenvolvido pelas muitas associações que se dedicam à recolha de cães
e gatos, porque contrariamente ao que sucedia há algumas décadas atrás, hoje é
raro ver-se um cão abandonado a deambular pela via pública, realidade
inversamente proporcional ao número de animais adoptados (seria igualmente
muito bom se houvessem associações para a recolha de sem-abrigos, muito embora
saiba que muitos não se agradariam da ideia). Afortunadamente não tardará o dia
em que cães e gatos deixarão de ser abatidos, infelizmente mais demorará aquele
em que os homens deixarão de abandoná-los.
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