Ao
olharmos para os propósitos por detrás das distintas raças caninas, quase todos
cativos ao tempo e aos valores contemporâneos à sua formação, compreendemos os erros cometidos
diante dos cães que temos hoje, que na sua maioria não espelham as expectativas
procuradas na sua origem. Já houve quem procurasse fazer cães grandes com a agressividade
dos pequenos e alcançasse animais incontroláveis e medrosos, cães de morfologia
díspar ao ponto de comprometer o seu bem-estar, reprodução e longevidade, cães
com tal carga instintiva que tornaram impraticável o seu uso e parceria,
animais irascíveis que vivem para lutar até à morte, e assim por diante.
Grassa
agora, nos centros caninos destinados à guarda desportiva, a moda dos Pastores
Alemães pequenos e famélicos, tendência que ressuscita os ultrapassados “alsacianos”,
há muito desaparecidos por razões morfológicas e funcionais. Por detrás desta
opção que se tem vindo a generalizar nos chamados “centros de trabalho”,
agradável a criadores, donos e adestradores, esconde-se a vã tentativa de os
fazer ou aproximar o mais possível do Pastor Belga Malinois, havendo quem não
hesite e lhe pareça bem cruzar as duas raças entre si, ainda que os rebentos da
trapaça possam aparecer registados como genuínos pastores alemães, até porque a
cor preta-afogueada também se faz presente nalguns Malinois.
Pretende-se com
isto alcançar “cães-relâmpago”, quadrúpedes voadores e predadores insaciáveis,
animais que partem para as acções defensivas e ofensivas dispensando qualquer ordem
ou estímulo externo, próprios para exibições, para caçar jihadistas e para
aqueles que não são obrigados a reparar o dolo que os seus cães cometem. Pastores
alemães assim são tudo menos isso, enquanto portadores de uma biomecânica
estranha, de uma máquina sensorial desajustada e dum equilíbrio cognitivo-funcional
periclitante e carente de condições extraordinárias para o seu bom uso, menos
valias directamente associadas à alteração forçada da sua morfologia, tantas
vezes alcançada pela escolha de lamentáveis progenitores e pela precariedade
das dietas, na procura de maior agilidade e celeridade, o que tem trazido para
a ribalta e perpetuado machos entre os 26 e os 30 kg, como se a raça não
ostentasse dimorfismo sexual e não fosse produzida para maior número de missões
e funções para além das rudimentares que hoje lhe pedem.
Fazê-los assim
pequenos, que leva também à alteração das suas “vozes” e mimetismo, é partir em
desvantagem, desvantagem em relação ao que a raça tem para oferecer e desvantagem
perante um modelo de cão que não é o seu e contra o qual será obrigado a
concorrer. Se por um lado se ganha velocidade e prontidão, por outro, perde-se
a personalidade que garante o controlo, a curiosidade e a observação que levam
à escolha certa dos alvos na relação entre a morfologia e o desempenho. É
possível que o Cão de Pastor Alemão careça de se actualizar para os desafios
actuais, já que foi feito para o trabalho e este não tem presidido à sua
selecção como seria de esperar. Não obstante, fazê-lo anão é atentar contra o
seu equilíbrio emocional e desprezar a sua excepcional capacidade de
aprendizagem normalmente cativas à sua morfologia secular.
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