quinta-feira, 14 de abril de 2016

QUAL SERIA A RAÇA DO “CÃO DOS BASKERVILLE”?

Ao relembrar-me da minha juventude, quase sempre sem livros próprios para ela, sobrando muita propaganda de soldados, santos e heróis, deixando de parte os clássicos da nossa literatura e aqueles livros que se encontravam à média luz em bibliotecas soturnas, guardadas por funcionários barrigudos, de palito nos dentes e de farda gasta, tinha em casa as Selecções do Reader’s Digest, a Colecção Morcego de policiais, um sem número de livros da norte-americana Pearl Buck (que adorava), biografias de beatos e beatas (que detestava) e vários romances de Sir Arthur Conan Doyle relativos à personagem Sherlock Holmes (que devorava). Li vezes sem conta “O Cão dos Baskerville”, relato dramático e impressionante que me punha a divagar sobre qual seria a raça daquele animal, revestido a pó de fósforo para se tornar mais fantasmagórico. Os anos foram passando e as edições desta obra foram trazendo na capa cães de raças diferentes, algumas bastante improváveis, contudo mais conhecidas do público ao tempo.
Apesar de saber de cor todos os finais dos romances relativos a Mr. Holmes e ao seu companheiro Dr. Watson, ainda hoje me encanta vê-los transformados em episódios televisivos, apesar de me desgostar de alguns actores que interpretam a personagem. Mas se há um que me agrada particularmente e que julgo estar mais próximo da descrição de Conan Doyle, ele é Jeremy Brett (já falecido) na série “O Regresso de Sherlock Holmes”, recentemente repetida e passada na RTP Memória, produzida por Michael Cox e June Wyndham Davies em 1984. E se gosto da obra do criador de Sherlock, gosto igualmente da personagem “Poirot” de Agatha Christie, um pouco mais do que da “Miss Marple”, que me parece cheirar a naftalina, ser snob e metediça.
Passados tantos anos, decidi ir investigar qual a raça do “Cão dos Baskerville” pelos indícios adiantados no romance, que não são muitos e que se encontram condensados no Capítulo 14 do livro, onde se pode ler: “It was not a pure bloodhound and it was not a pure mastiff; but it appeared to be a combination of the two -- gaunt, savage, and as large as a small lioness." Ora, se não era um bloodhound nem um mastiff puro, mas parecia-se com a mistura dos dois, sendo magro, selvagem e tão grande como uma pequena leoa, ainda que improvável devido ao comportamento oposto das raças, seria certamente uma mistura de ambos, um cão ficcionado e parecido com o Cão de Fila Brasileiro. Apostado em saber qual seria o seu aspecto de acordo com o relato, decidi ir ao Google procurar fotografias de híbridos resultantes das duas raças. Na verdade não há muitos e acabei por encontrar o “Kash”, um cão já falecido que tinha 155 lbs de peso, um pouco mais de 70 kg. Dele é a imagem que se segue.
Eu não sei se o livro influenciou a minha opção pelos cães, certo é que nunca me esqueci da sua história, porque obriga ao uso da “massa cinzenta”, como dizia Poirot referindo-se à psicologia humana. No final a solução é tão lógica que justifica a célebre e repetida frase de Holmes para o seu amigo: “ Elementar, caro Watson!”   

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