Certa vez, no
Jardim da Praça do Império em Belém/Lisboa, vi uma cadela tão grande e robusta
que duvidei do seu género. Como era peluda e o pelo tapava-lhe a área genital,
perguntei à sua dona se o animal era macho ou fêmea, ao que ela me respondeu
ser uma “menina”. A partir dali fiquei atento e descobri que muitos cães e
cadelas são agora “meninos” e ”meninas”, ainda que grande número deles não seja
uma coisa nem outra por ter sido objecto de castração. Quem vier para o
adestramento à espera de encontrar uma vida calma e isenta de problemas vai ter
uma terrível desilusão, porque irá ser confrontado com um sem número de
situações irrisórias e até doentias, produto da imaginação de alguns donos que
vêem o que ninguém vê e não enxergam o que têm diante dos olhos, persistindo em
viver num mundo aparte onde os seus cãezinhos, para além de serem gente, são
heróis, principezinhos e até deuses, só nos procurando quando eles se tornam demónios.
Educar cães seria fácil se os donos não nos criassem barreiras ao seu ensino.
Não nos restando outra alternativa, teremos que tirar com todo o cuidado os
seus “macacos do sótão”, extracção demorada e de difícil sucesso, pois se no
passado o especismo foi uma praga, no presente o antropomorfismo é uma panzootia
(os donos tratam doentiamente os cães como pessoas e estes tratam-nos
abusivamente com cães).
Esta semana, Em San
Diego, na Califórnia/USA, um casal que se encontrava deitado na cama a ver
televisão com o seu filho de três anos e com um cão de dois (um cruzado de raça
de briga), acabou por perder a criança devido ao cão a ter atacado, reacção atribuída
ao facto do animal se ter assustado com a tosse da dona. Aqueles descuidados
pais, outra coisa não seria de esperar, atribuíram a morte do bebé à demora na
chegada do serviço de emergência médica (911) e não à ausência do seu cuidado e
clarividência. Se calhar ainda vão reclamar uma indeminização, quando na nossa
opinião deveriam ser condenados por “homicídio por negligência”, porque contribuíram
decididamente para a morte do seu filho, ao colocarem o cão perto dele e se
encontrarem distraídos a ver televisão, quando deveriam ter retirado o cão
daquele quarto e estar atentos à criança. Nem todos os cães se sociabilizam
facilmente e respeitam as crianças, particularmente as mais novas cujo senso de
responsabilidade é diminuto ou inexistente. Ter um criança de tenra idade e um
cão em simultâneo é uma tarefa que exige vigilância e regras, especialmente
quando o cão é tratado como um igual, é territorial, ciumento pelos donos e
portador de fortes impulsos à luta e ao poder.
É sabido que os
cães são animais socais, que em grupo estabelecem entre si uma hierarquia,
normalmente dominada pelos mais fortes e suportada pelos mais fracos, o que
torna os mais dominantes competitivos. Quando inusitadamente se promove um cão
à categoria de filho e havendo um autêntico, é natural que o cão intente
dominá-lo por resistir à relação de paridade, movido pela natureza dos seus
impulsos inatos, ainda que a princípio o faça de forma dissimulada e
aproveitando a ausência dos pais. Mesmo que um cão não seja objecto desta
desajustada promoção social e havendo uma criança de tenra idade em casa, os
seus donos ver-se-ão obrigados a liderá-lo de modo inequívoco, para que o
animal saiba quem manda ali e que deve respeitar a criança. Sempre será mais seguro
ter primeiro um filho e adquirir depois um cão, situação hoje infelizmente
pouco comum por se verificar o contrário. Quando um cachorro chega a casa e
nela já existe uma criança, com mais facilidade a aceitará por não ser intrusa
e ser mais antiga naquele território. Aconselhamos os nossos leitores que
pretendem adquirir um cão agora e ter filhos mais tarde a optarem por uma
cadela, já que as fêmeas são mais protectoras, mais dadas à defesa do que à
luta.
Quem tem um cão e
espera um filho, não tem tempo a perder, deverá de imediato proceder à educação
do animal para salvaguarda da criança vindoura, mesmo que o cão não seja de
raça ou natureza agressiva, porque os acidentes acontecem e um cão
indisciplinado é um foco de disparates. Não estamos cá para proteger os nossos
filhos? Sobre este assunto aconselhamos a leitura complementar do artigo “E QUANDO O BEBÉ CHEGAR, O QUE FAZER COM O CÃO”, editado neste
blogue em 31/08/2009. Aqueles pais da Califórnia que perderam o seu filho de
modo tão estúpido só se podem queixar de si mesmos, do seu descuido, ignorância
e irresponsabilidade. Evite passar pelo mesmo e acautele-se.
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