sábado, 31 de março de 2018

NÓS POR CÁ: O PEIXE DA SEXTA-FEIRA SANTA

Antes de tudo mais gostava de saber, se alguém me souber explicar, porque é que o peixe é mais caro do que a carne em Portugal, quando temos uma “Zona Económica Exclusiva” (ZEE) tão grande e os pescadores ganham tão pouco. Não merecerão eles maior respeito por arriscarem as suas vidas para nos darem de comer? Estaremos de costas voltadas para o mar? Hoje, no mercado mais perto de mim, por sinal um dos melhor abastecidos de peixe em Portugal, tanto em quantidade como em qualidade, o peixe acabou cedo, sucedendo o mesmo nas peixarias ao seu redor, de tal maneira que ao meio-dia, só havia gelo sobre as pedras de venda.
O “fenómeno” repete-se todos os anos por alturas da “Semana Santa” e raros são aqueles que comem carne na Sexta-Feira desta semana, como se todos fossem católicos devotos e não faltassem às igrejas 365 dias por ano e durante anos a fio, só nelas entrando por ocasião de um raro baptizado, casamento ou funeral. Os funerais são ainda os que congregam mais “fiéis”, apesar de já não serem o que eram, porque em muitos deles a figura do padre é hoje dispensada. Quem comerá carne nesta ocasião? Quem não tem dinheiro para comprar peixe, os desenraizados, os estrangeiros, os evangélicos e outros sectários como testemunho da sua fé, para publicitarem a sua desobediência à tradição católica.
Agora, que não parece nem bem nem mal comer carne ou não, porque longe vai o tempo em que quem o fizesse era apontado e objecto de alguma reprimenda ou dissabor, é chique comer peixe e “fatela” comer carne. Os ricos de antigamente, porque podiam pagar a bula, gabavam-se de poder comer carne e os de hoje mostram-se a comer peixe, porque apesar da austeridade, estão acima dela e conseguem manter a tradição. Desconheço se isto é “carneirada” ou não, mas tenho a certeza que nada tem a ver com a verdadeira Fé, quando muito será vaidade e/ou superstição, que estribadas num sincretismo religioso viraram tradição.
Não sei por que carga de água, se influenciado ou não, ontem acabei também por comer peixe, e o mais engraçado é que nem dei por isso! Há que gabar a esperteza dos saloios, mormente os de Sintra e de Mafra, que desde sempre nesta ocasião, perante a antiga proibição de comer carne, partem à cata do polvo e do marisco, nada perdendo com a permuta, o que prova mais uma vez que as tradições em Portugal obedecem mais conveniência do que a outra razão qualquer. Será por causa de isso que sempre ouvi dizer que “taran tan tan não enche barriga”?  

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