Tudo é política e o que
ainda não é virá a ser! Eu nasci num tempo em que havia, para além dos “bimbos”
(provincianos do interior norte da Metrópole), os “bumbos”, nome com que eram
tratados os negros das províncias ultramarinas menos assimilados e mais
primitivos, cuja forma no singular poderia ser sinónimo do termo racial “kaffir”,
outrora tão em uso na África do Sul do Apartheid. Naquela época contava-se à
guisa de piada que se um autocarro de bumbos se despistasse e todos os passageiros
morressem tal seria um acidente; mas se os passageiros fossem todos brancos
isso seria uma tragédia! Quase meio-século passado e continua-se a dar mais
importância a algumas mortes do que outras, como se umas fossem muito importantes
e outras não tivessem importância nenhuma, o que sempre facilitou as matanças
indiscriminadas e os genocídios.
Quantas dezenas de
favelados brasileiros será preciso matar para merecerem o mesmo tempo de antena
que dois feridos de um atentado terrorista? Quantas crianças curdas e sírias
terão ainda que morrer para merecerem o mesmo destaque das vítimas dos
tiroteios escolares nos Estados Unidos? As suas mortes não importam? E não
importam porquê? Porque estão longe e não nos dizem respeito? Se todos
pensarmos assim, quem quererá saber de nós e donde nos virá o socorro?
Dificilmente virá de quem não se identifica connosco, de quem se julga
diferente e é indiferente à nossa sorte! Não estaremos obrigados a mudar de
política?
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