Segundo a Associated Press, cientistas federais dos Estados Unidos
decidiram avaliar 120 cães protectores de gado pertencentes a 3 raças
aperfeiçoadas para esse efeito durante séculos na Europa e na Ásia: o
Karakachan (Bulgária), o Kangal (Turquia) e o Cão de Gado Transmontano
(Portugal), para saberem como reagiriam frente aos lobos do continente
americano e se é ou não chegada a hora de os pôr ao serviço sem qualquer
restrição, uma vez que terão como opositores coiotes, lobos e ursos pardos.
Estes cães chegaram aos Estados Unidos ainda cachorros, custaram 500
dólares cada um (incluído o transporte), são propriedade do Departamento de
Agricultura dos Estados Unidos e foram enviados para o Oeste, onde 65 rebanhos
aguardavam pela sua protecção, nos Estados de Idaho, Montana, Wyoming,
Washington e Oregon, trabalhando ali durante 4 anos.
Apesar dos cientistas ainda estarem a analisar alguns relatórios, câmeras
remotas e alguns dados de GPS, que provavelmente darão ainda origem a 4 ou 5
artigos científicos no próximo ano, estes cães no geral conseguiram manter os
lobos afastados e melhor do que fizeram os ali tradicionais cães de guarda na dissuasão
dos coiotes (durante o estudo um cão morreu atropelado enquanto as ovelhas
atravessavam uma estrada).
Durante décadas, os produtores de ovinos norte-americanos usaram para a
guarda dos rebanhos grandes cães brancos dos Pirinéus, Akbash e Maremma, também
Pastores da Anatólia castanhos. Mas a reintrodução do lobo no Oeste, ocorrida
na década de 90, colocou em causa a validade destes cães para a tarefa, já que em
Idaho, desde 1995 até agora, os lobos já mataram 50 cães guardiões e feriram
cerca de 40, despropósito que obrigou ao abate de 56 lobos por parte de
funcionários federais.
Apesar de alguns cães não cumprirem o seu papel, a chegada dos rebanhos,
dos novos cães e dos pastores levou ao abandono daquelas áreas pelos lobos,
desaparecimento que teve como consequência o encorajamento de predadores
menores, como foi o caso dos coiotes.
Para Jill Swannack, Presidente dos Produtores de Ovelhas do Estado de
Washington, uma veterinária que também possui uma fazenda com de 800 ovelhas em
terras privadas no leste deste Estado, os cães que funcionam melhor no seu
rancho são os Pastores da Anatólia (Kangal), muito embora os lobos tenham
matado um em 2014.
Como os funcionários federais têm ordem para abater todos os lobos que
atacam o gado, os ambientalistas tem reduzir a zero essas mortes e vêem os cães
protectores de rebanhos como a melhor das soluções. Opinião idêntica tem Suzanne
Stone dos Defenders of Wildlife (na foto seguinte), muito embora reconheça que na Primavera a
situação seja mais complicada, quando os lobos espreitam covardemente os
rebanhos na companhia dos seus filhotes.
Comparativamente e de
acordo com o parecer dos cientistas de presente estudo, os Karakachans tendem a
ser mais vigilantes, os Kangals são mais curiosos e o Cão de Gado trasmontano é
melhor na avaliação das ameaças, pormenores que justificam a produção de
híbridos de cães de pastoreio com outros territoriais, conclusão há muito
conhecida pelos guardas antigas fábricas, que sem qualquer prurido cruzavam
Pastores Alemães com Cães da Serra da Estrela, sem dúvida umas ricas prendas!
Quanto ao nosso Cão de
Gado Transmontano, deseja-se que os seus criadores não embalem nos mesmos erros
em que caíram os criadores dos Serra da Estrela, que tão preocupados com
minúcias estruturais acabaram por alcançar exemplares pastoris de méritos ainda
por reconhecer. O mercado dos molossos em Portugal, atendendo à nossa realidade
socioeconómica e ao seu número, terá que ser o externo e viver da exportação, o
que à partida é mais exigente do que parece, considerando a desalmada
concorrência com cães do mesmo grupo somático e com idênticas características.
Ora, se a raça se apelidou
de “Cão de Gado Transmontano” e começou por ser uma landrace, então deverá ser
escolhida e aprovada nesse trabalho, ter uma prova de aptidão cuja aprovação
seja soberana e indispensável para a atribuição do seu registo, pois estamos a
falar de um cão de trabalho com uma tarefa específica. E isto deverá ser feito
quanto antes, porque depois pode ser tarde de mais, quando os méritos dos cães
percursores já não se estenderem à “sua” descendência pelo antagonismo das selecções
operadas.
Quantos Cães de Gado
Transmontanos venderíamos para os Estados Unidos e para outros países caso
fossem verdadeiros guardiões de rebanhos? Quantos iremos vender? A resposta a
estas perguntas só poderá ser encontrada junto dos seus criadores!
Sem comentários:
Enviar um comentário