quinta-feira, 15 de março de 2018

SABIA QUE…

Sabia que a morte de um cão esteve na origem de um dos maiores massacres ocorridos no Ultramar Português e que o dito cão pertencia ao Administrador António Carreira, pai do também falecido Henrique Medina Carreira, advogado, Ministro das Finanças do Primeiro Governo Constitucional, comentador televisivo e homem sem papas na língua?

O massacre que ficou para a história como “O Massacre de Pidjiguiti”, que aconteceu a 3 de Agosto de 1959, cujo número de mortos nunca chegou a ser contabilizado ao certo, se 40 ou 70, teve lugar na então Província da Guiné Portuguesa, onde os marinheiros e estivadores do Porto de Bissau, naquele tempo ao serviço da poderosa Casa Gouveia, amotinaram-se para exigirem o aumento da jorna e melhores condições de trabalho. O edifício da Casa Gouveia é hoje o Tribunal Regional de Bafatá, conforme se pode ver na foto baixo.
Apesar das reivindicações dos trabalhadores guineenses já terem sido aceites pelo sua entidade empregadora (Casa Gouveia), o Administrador achou que só iria dar seguimento a essa ordem quando lhe apetecesse, porquanto queria vingar-se da morte de um dos dois cães que tinha, animais enormes que largava naquele Porto por volta das 6 horas da tarde, para não deixar ninguém andar por lá. Um marinheiro acabou apanhado pelos cães e, ao defender-se, matou um. A vingança do Administrador aqueceu ainda mais os ânimos e o ambiente estava ao rubro.
O cabo de mar Nicolau assustou-se ao ver o marinheiro Augusto pegar num barrote para se sentar, julgando que o ia atirar contra ele, disparou. A partir daí, o Cabo do Mar, os polícias e outras forças que se armaram no momento dispararam sobre aqueles guineenses que apenas reclamavam por um pouco mais de dignidade. O Massacre começou às 15h45 e durou até às 18 horas, nascendo no mês seguinte o PAIGC.
Todos os anos, no dia 3 de Agosto, os sobreviventes do Massacre de Pidjiguiti vão ao lugar onde tudo se passou para honrar os mortos, local onde existe hoje uma escultura em forma de mão fechada feita de blocos, alcunhada de “Mão de Timba” (mão de caloteiro), com o propósito de relembrar o sacrifício dos percursores da independência guineense.
Mais cedo ou mais tarde, quer António Carreira tivesse cães ou não, outro conflito estalaria e nada conseguiria travar a independência da Guiné-Bissau, como veio a acontecer. Parece pouco provável mas um simples cão pode dar azo a uma revolução!  

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