Sabia que a morte de um
cão esteve na origem de um dos maiores massacres ocorridos no Ultramar
Português e que o dito cão pertencia ao Administrador António Carreira, pai do
também falecido Henrique Medina Carreira, advogado, Ministro das Finanças do
Primeiro Governo Constitucional, comentador televisivo e homem sem papas na
língua?
O massacre que ficou para
a história como “O Massacre de Pidjiguiti”, que aconteceu a 3 de Agosto de
1959, cujo número de mortos nunca chegou a ser contabilizado ao certo, se 40 ou
70, teve lugar na então Província da Guiné Portuguesa, onde os marinheiros e
estivadores do Porto de Bissau, naquele tempo ao serviço da poderosa Casa
Gouveia, amotinaram-se para exigirem o aumento da jorna e melhores condições de
trabalho. O edifício da Casa Gouveia é hoje o Tribunal Regional de Bafatá,
conforme se pode ver na foto baixo.
Apesar das reivindicações
dos trabalhadores guineenses já terem sido aceites pelo sua entidade
empregadora (Casa Gouveia), o Administrador achou que só iria dar seguimento a
essa ordem quando lhe apetecesse, porquanto queria vingar-se da morte de um dos
dois cães que tinha, animais enormes que largava naquele Porto por volta das 6
horas da tarde, para não deixar ninguém andar por lá. Um marinheiro acabou apanhado
pelos cães e, ao defender-se, matou um. A vingança do Administrador aqueceu ainda
mais os ânimos e o ambiente estava ao rubro.
O cabo de mar Nicolau
assustou-se ao ver o marinheiro Augusto pegar num barrote para se sentar,
julgando que o ia atirar contra ele, disparou. A partir daí, o Cabo do Mar, os
polícias e outras forças que se armaram no momento dispararam sobre aqueles
guineenses que apenas reclamavam por um pouco mais de dignidade. O Massacre
começou às 15h45 e durou até às 18 horas, nascendo no mês seguinte o PAIGC.
Todos os anos, no dia 3 de
Agosto, os sobreviventes do Massacre de Pidjiguiti vão ao lugar onde tudo se
passou para honrar os mortos, local onde existe hoje uma escultura em forma de
mão fechada feita de blocos, alcunhada de “Mão de Timba” (mão de caloteiro),
com o propósito de relembrar o sacrifício dos percursores da independência
guineense.
Mais cedo ou mais tarde,
quer António Carreira tivesse cães ou não, outro conflito estalaria e nada
conseguiria travar a independência da Guiné-Bissau, como veio a acontecer.
Parece pouco provável mas um simples cão pode dar azo a uma revolução!
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