Se os ovinicultores
norte-americanos têm sérios problemas com coiotes, lobos e ursos pardos, que
não dão descanso ao gado e que sempre matam algum, os seus congéneres
brasileiros, que não têm ursos pardos e o Lobo-Guará não os afecta, são
obrigados a defender os seus rebanhos dos ataques da onça-parda (Puma concolor),
também conhecida como suçuarana e leão baio, que devido ao desmatamento
responsável pelo desaparecimento das suas presas tradicionais, avança agora e
em força para cima os rebanhos, como acontece na Serra Gaúcha, onde o esfomeado
leão baio insiste em causar estragos.
O Puma é um mamífero
carnívoro, da família dos felinos, que é um extraordinário predador anfíbio e predominantemente
noctívago, um caçador solitário que se distribui pelas Américas, do Canadá até
ao Chile, muito embora esteja extinto nalgumas zonas dos Estado Unidos, da
América Central e do Sul. Animal territorial, silencioso, forte e ágil (é capaz
de lutar contra um jacaré e matá-lo), ocupa áreas de vida desde os 50 aos 1000
m2 e a sua presa favorita são os cervos. É capaz de atacar o homem quando surpreendido,
ameaçado ou faminto, particularmente debaixo de condições favoráveis.
Tal como primeiro
aconteceu nos Estados Unidos, para lhe fazer frente até aos dias de hoje, alguns
ovinicultores brasileiros têm vindo a optar por cães Maremma e o Kuvasz,
animais que carecem de treino para o desempenho das suas funções e que se são
mais afeiçoados às pessoas do que aos rebanhos, para além de serem presa fácil
para os pumas, graças à endogamia que os transformou em animais de companhia e
arredou para sempre das suas características originais, conforme ficou provado
nos Estados Unidos, onde grande número deles morreu à boca dos lobos.
Os brasileiros e os
norte-americanos também, quiçá por serem em parte descendentes de emigrantes
europeus, vêem a Europa como uma verdadeira Shangri-la, onde tudo é diferente
para melhor, o que nem sempre corresponde à verdade e que lhes perpétua um indesejável
estatuto de provincianos, complexo de inferioridade e castigo auto-infligido
que é simultaneamente fratricida e perigoso. E como tudo na Europa é bom, logo
os cães europeus também são, vamos lá mandar vir cães da Europa, mesmo que os
autóctones sejam de invejável qualidade!
Pois bem, os cães
indicados para a solução dos problemas dos ovinicultores brasileiros do Estado
do Rio Grande do Sul encontram-se bem perto, nas suas fronteiras Oeste e Sul, respectivamente
na Argentina e no Uruguai, onde os gaúchos do lado de lá criam o Dogo Argentino
e o Cimarrón Uruguayo, animais autóctones que se prestam excelente como
protectores de rebanhos, porque tendem a considerar as ovelhas como parte da
sua matilha (quando criados junto delas desde tenra idade) e são cães
territoriais, característica que rapidamente os fará defender os prados dos
pumas invasores.
O Dogo Argentino tem até
linhas de cães testados para o efeito, que obtiveram a sua aprovação em combates
directos contra pumas. Apesar de ser um cão “fabricado” e de ter um pouco de
tudo, talvez por causa disso, é por norma um cão valente, um caçador insaciável
e um amigo em quem se pode confiar, que jamais desistirá por pior que seja a
peleja, por ser dedicado e resistente à dor. Como as ovelhas aqui já não têm
praticamente predadores naturais, não se justifica o uso de cães protectores de
gado, acabando o Dogo Argentino na caça ao javali, onde o seu trabalho é muito
apreciado. Contudo, antes da aquisição destes cães, convém verificar se são
surdos ou não, problema comum a quase todos os cães de cor branca uniforme.
O Cimarrón Uruguayo pode também
constituir-se num excelente guarda de rebanhos, porque é um verdadeiro landrace, com uma submissão ao dono
pouco vista e uma disponibilidade inesgotável, para além de ser rústico e
valente como poucos, suportar bem a dor e as intempéries e não ser muito
exigente na alimentação, um cão que a si mesmo se fez e que é de certa forma um
desconhecido para quem o cria, enquanto segmento de cães europeus há muito
conhecidos. Porém, poderá exigir uma liderança inquestionável e algum cuidado
quando a trabalhar com outros cães, porque é “unha com carne” em relação ao
dono e um exclusivista, detestando que entre ele e o seu líder alguém se intrometa.
Mas se apesar daquilo que
aqui dissemos, ainda houver alguém interessado em importar cães, então que
mande vir um ou mais Kangals (Pastores da Anatólia), cães turcos protectores com
créditos firmados por todos os Continentes, muito embora possam vir da Ásia,
porque o território turco não se remete apenas à Europa!
Afinal também há bons cães
protectores de gado abaixo do Equador e nas margens do Atlântico Sul, numas
planícies a quem deram o nome de Pampas. Escrevemos este sucinto artigo a
pedido de um ovinicultor brasileiro nosso amigo e comprometemo-nos desde já a prestar
maiores esclarecimentos sobre o tema a quem nos pedir. E porque falámos sobre o
Rio Grande do Sul, sinto falta do Chimarrão, que beberia até ficar de língua
verde, de vestir umas bombachas, de aparelhar um cavalo e sair a galope até
onde a linha do horizonte me levasse, mesmo sem botas e tudo! Tchê barbaridade!
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