quarta-feira, 14 de março de 2018

DESMATAMENTO, OVELHAS, PUMAS E CÃES

Se os ovinicultores norte-americanos têm sérios problemas com coiotes, lobos e ursos pardos, que não dão descanso ao gado e que sempre matam algum, os seus congéneres brasileiros, que não têm ursos pardos e o Lobo-Guará não os afecta, são obrigados a defender os seus rebanhos dos ataques da onça-parda (Puma concolor), também conhecida como suçuarana e leão baio, que devido ao desmatamento responsável pelo desaparecimento das suas presas tradicionais, avança agora e em força para cima os rebanhos, como acontece na Serra Gaúcha, onde o esfomeado leão baio insiste em causar estragos.
O Puma é um mamífero carnívoro, da família dos felinos, que é um extraordinário predador anfíbio e predominantemente noctívago, um caçador solitário que se distribui pelas Américas, do Canadá até ao Chile, muito embora esteja extinto nalgumas zonas dos Estado Unidos, da América Central e do Sul. Animal territorial, silencioso, forte e ágil (é capaz de lutar contra um jacaré e matá-lo), ocupa áreas de vida desde os 50 aos 1000 m2 e a sua presa favorita são os cervos. É capaz de atacar o homem quando surpreendido, ameaçado ou faminto, particularmente debaixo de condições favoráveis.
Tal como primeiro aconteceu nos Estados Unidos, para lhe fazer frente até aos dias de hoje, alguns ovinicultores brasileiros têm vindo a optar por cães Maremma e o Kuvasz, animais que carecem de treino para o desempenho das suas funções e que se são mais afeiçoados às pessoas do que aos rebanhos, para além de serem presa fácil para os pumas, graças à endogamia que os transformou em animais de companhia e arredou para sempre das suas características originais, conforme ficou provado nos Estados Unidos, onde grande número deles morreu à boca dos lobos.
Os brasileiros e os norte-americanos também, quiçá por serem em parte descendentes de emigrantes europeus, vêem a Europa como uma verdadeira Shangri-la, onde tudo é diferente para melhor, o que nem sempre corresponde à verdade e que lhes perpétua um indesejável estatuto de provincianos, complexo de inferioridade e castigo auto-infligido que é simultaneamente fratricida e perigoso. E como tudo na Europa é bom, logo os cães europeus também são, vamos lá mandar vir cães da Europa, mesmo que os autóctones sejam de invejável qualidade!
Pois bem, os cães indicados para a solução dos problemas dos ovinicultores brasileiros do Estado do Rio Grande do Sul encontram-se bem perto, nas suas fronteiras Oeste e Sul, respectivamente na Argentina e no Uruguai, onde os gaúchos do lado de lá criam o Dogo Argentino e o Cimarrón Uruguayo, animais autóctones que se prestam excelente como protectores de rebanhos, porque tendem a considerar as ovelhas como parte da sua matilha (quando criados junto delas desde tenra idade) e são cães territoriais, característica que rapidamente os fará defender os prados dos pumas invasores.
O Dogo Argentino tem até linhas de cães testados para o efeito, que obtiveram a sua aprovação em combates directos contra pumas. Apesar de ser um cão “fabricado” e de ter um pouco de tudo, talvez por causa disso, é por norma um cão valente, um caçador insaciável e um amigo em quem se pode confiar, que jamais desistirá por pior que seja a peleja, por ser dedicado e resistente à dor. Como as ovelhas aqui já não têm praticamente predadores naturais, não se justifica o uso de cães protectores de gado, acabando o Dogo Argentino na caça ao javali, onde o seu trabalho é muito apreciado. Contudo, antes da aquisição destes cães, convém verificar se são surdos ou não, problema comum a quase todos os cães de cor branca uniforme.
O Cimarrón Uruguayo pode também constituir-se num excelente guarda de rebanhos, porque é um verdadeiro landrace, com uma submissão ao dono pouco vista e uma disponibilidade inesgotável, para além de ser rústico e valente como poucos, suportar bem a dor e as intempéries e não ser muito exigente na alimentação, um cão que a si mesmo se fez e que é de certa forma um desconhecido para quem o cria, enquanto segmento de cães europeus há muito conhecidos. Porém, poderá exigir uma liderança inquestionável e algum cuidado quando a trabalhar com outros cães, porque é “unha com carne” em relação ao dono e um exclusivista, detestando que entre ele e o seu líder alguém se intrometa.
Mas se apesar daquilo que aqui dissemos, ainda houver alguém interessado em importar cães, então que mande vir um ou mais Kangals (Pastores da Anatólia), cães turcos protectores com créditos firmados por todos os Continentes, muito embora possam vir da Ásia, porque o território turco não se remete apenas à Europa!
Afinal também há bons cães protectores de gado abaixo do Equador e nas margens do Atlântico Sul, numas planícies a quem deram o nome de Pampas. Escrevemos este sucinto artigo a pedido de um ovinicultor brasileiro nosso amigo e comprometemo-nos desde já a prestar maiores esclarecimentos sobre o tema a quem nos pedir. E porque falámos sobre o Rio Grande do Sul, sinto falta do Chimarrão, que beberia até ficar de língua verde, de vestir umas bombachas, de aparelhar um cavalo e sair a galope até onde a linha do horizonte me levasse, mesmo sem botas e tudo! Tchê barbaridade!

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