Fez precisamente 38 anos, no
passado dia 16 de Fevereiro, que o “MV Tollan”, um porta-contentores inglês, se
afundou no Rio Tejo em frente ao Terreiro do Paço, depois de ter colidido com o
cargueiro sueco “Barranduna”, que o fez rodar 180º. Do embate resultou a morte
de 4 dos seus 16 tripulantes. Por apropriação popular, de Tollan passou a Tolan
e tornou-se atracção turística pelo tempo que ali ficou, sendo alcunhado de “aquele
que ninguém vira” e de “o encalhado”, estendendo o seu nome a cafés e
restaurantes. Depois de várias tentativas frustradas para o remover do local,
remoção a cargo da Marinha Portuguesa, foi finalmente voltado e levado a 2 de
Dezembro de 1983, mais de 3 anos depois!
Desta vez o encalhado é o
cargueiro espanhol de 118 metros “Betanzos”(1), que
se destinava a Casablanca, Marrocos, carregado de areia para fabricação de
vidro, com 160 toneladas de fuel nos seus tanques, que há já 7 dias se encontra
encalhado num banco de areia, na foz do Tejo e perto do Forte do Bugio, ao que
parece por ter sofrido uma falha total de energia que o deixou à deriva e que depois
de várias tentativas fracassadas para o ancorar, foi levado pela maré e acabou
assente num banco de areia. O ocorrido aconteceu em paralelo com a chegada da
tempestade “Emma”, depois secundada pela tempestade “Félix”, que agitaram o mar
de sobremaneira, dificultando o resgate do cargueiro e obrigando à vinda de um
rebocador de Gibraltar. A remoção do cargueiro está a cargo da Marinha
Portuguesa.
Os anos passam e
continuamos sem meios capazes para acudir prontamente a situações destas, que
podem inclusive resultar em graves desastres ecológicos, comprometer o Rio Tejo
por tempo indeterminado, a saúde dos lisboetas e afastar os turistas, para já
não se falar no número das vítimas que se poderiam evitar. E tudo isto, segundo
se diz, num País de marinheiros! Quase sempre, quando acontecem acidentes
destes, somos obrigados a estender a mão à caridade, e quando não temos essa
hipótese, confiamos que Deus seja português e lançamos a mão ao improviso, ao
já célebre e histórico “luso-desenrascanço”. Se a maior riqueza que temos é o
mar e o nosso futuro dele irá depender maioritariamente (Portugal possui a 3ª
maior zona económica exclusiva da União Europeia e a 11ª do mundo com 1 727 408
km², 14,9
vezes a área de Portugal Continental), porque continuamos tão mal apetrechados
e investimos tão pouco no mar?
Estarão os políticos de hoje à espera
de um terramoto seguido de um maremoto igual ao de 1755, que dispensará e
invalidará qualquer empenho e investimento? É bem possível que sim num País
messiânico como o nosso, onde até os judeus que aqui passaram e os que ainda cá
estão são messiânicos, não diferindo nisso dos mouros que já se foram e dos cristãos
esperançados em milagres, sincretismo que espera a desgraça e que se contenta
com esse fado, o que nos transforma nuns pobres coitados cumprindo o seu destino.
E como do fatalismo nunca nos afastámos, convém, ao passar por debaixo da Ponte
sobre o Tejo, quer se vá a nado, à vela, de canoa ou de iate, ir munido de um
capacete, porque o diabo sempre nos apoquenta e a dita ponte está a soltar
peças! Já ontem deveríamos ter pensado no amanhã e se hoje não o fizermos,
ficaremos presos ao passado e sem futuro.
PS: (1) Betanzos é também uma cidade e município
espanhol da província de La Coruña, também conhecida como "Betanzos de los
Caballeros", na comunidade autónoma da Galiza e capital da região homónima,
que é o centro de logística de algumas das maiores empresas de transporte.
Desconhecemos se existe alguma relação entre o nome do cargueiro e esta cidade
galega, muito embora tal seja possível.
Sem comentários:
Enviar um comentário