terça-feira, 13 de março de 2018

NÓS POR CÁ: DO TOLAN AO BETANZOS NADA MUDOU!

Fez precisamente 38 anos, no passado dia 16 de Fevereiro, que o “MV Tollan”, um porta-contentores inglês, se afundou no Rio Tejo em frente ao Terreiro do Paço, depois de ter colidido com o cargueiro sueco “Barranduna”, que o fez rodar 180º. Do embate resultou a morte de 4 dos seus 16 tripulantes. Por apropriação popular, de Tollan passou a Tolan e tornou-se atracção turística pelo tempo que ali ficou, sendo alcunhado de “aquele que ninguém vira” e de “o encalhado”, estendendo o seu nome a cafés e restaurantes. Depois de várias tentativas frustradas para o remover do local, remoção a cargo da Marinha Portuguesa, foi finalmente voltado e levado a 2 de Dezembro de 1983, mais de 3 anos depois!
Desta vez o encalhado é o cargueiro espanhol de 118 metros “Betanzos”(1), que se destinava a Casablanca, Marrocos, carregado de areia para fabricação de vidro, com 160 toneladas de fuel nos seus tanques, que há já 7 dias se encontra encalhado num banco de areia, na foz do Tejo e perto do Forte do Bugio, ao que parece por ter sofrido uma falha total de energia que o deixou à deriva e que depois de várias tentativas fracassadas para o ancorar, foi levado pela maré e acabou assente num banco de areia. O ocorrido aconteceu em paralelo com a chegada da tempestade “Emma”, depois secundada pela tempestade “Félix”, que agitaram o mar de sobremaneira, dificultando o resgate do cargueiro e obrigando à vinda de um rebocador de Gibraltar. A remoção do cargueiro está a cargo da Marinha Portuguesa. 
Os anos passam e continuamos sem meios capazes para acudir prontamente a situações destas, que podem inclusive resultar em graves desastres ecológicos, comprometer o Rio Tejo por tempo indeterminado, a saúde dos lisboetas e afastar os turistas, para já não se falar no número das vítimas que se poderiam evitar. E tudo isto, segundo se diz, num País de marinheiros! Quase sempre, quando acontecem acidentes destes, somos obrigados a estender a mão à caridade, e quando não temos essa hipótese, confiamos que Deus seja português e lançamos a mão ao improviso, ao já célebre e histórico “luso-desenrascanço”. Se a maior riqueza que temos é o mar e o nosso futuro dele irá depender maioritariamente (Portugal possui a 3ª maior zona económica exclusiva da União Europeia e a 11ª do mundo com 1 727 408 km², 14,9 vezes a área de Portugal Continental), porque continuamos tão mal apetrechados e investimos tão pouco no mar?
Estarão os políticos de hoje à espera de um terramoto seguido de um maremoto igual ao de 1755, que dispensará e invalidará qualquer empenho e investimento? É bem possível que sim num País messiânico como o nosso, onde até os judeus que aqui passaram e os que ainda cá estão são messiânicos, não diferindo nisso dos mouros que já se foram e dos cristãos esperançados em milagres, sincretismo que espera a desgraça e que se contenta com esse fado, o que nos transforma nuns pobres coitados cumprindo o seu destino. E como do fatalismo nunca nos afastámos, convém, ao passar por debaixo da Ponte sobre o Tejo, quer se vá a nado, à vela, de canoa ou de iate, ir munido de um capacete, porque o diabo sempre nos apoquenta e a dita ponte está a soltar peças! Já ontem deveríamos ter pensado no amanhã e se hoje não o fizermos, ficaremos presos ao passado e sem futuro.
PS: (1) Betanzos é também uma cidade e município espanhol da província de La Coruña, também conhecida como "Betanzos de los Caballeros", na comunidade autónoma da Galiza e capital da região homónima, que é o centro de logística de algumas das maiores empresas de transporte. Desconhecemos se existe alguma relação entre o nome do cargueiro e esta cidade galega, muito embora tal seja possível. 

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