quinta-feira, 22 de março de 2018

GERALDINE ROCKEFELLER DODGE: UMA ILUSTRE ESQUECIDA

Ethel Geraldine Rockefeller Dodge (3 de Abril de 1882 - 13 de Agosto de 1973), nasceu em Nova Iorque, filha de William Avery Rockefeller Jr. (um dos dois irmãos magnatas da Standard Oil) e de Almira Geraldine Goodsell Rockefeller. A 18 de Abri de 1907, em Manhattan, trazendo consigo uma fortuna avaliada em 101 milhões de dólares, casou-se com Marcellus Hartley Dodge Sr., o Presidente da Remington Arms Company, ainda hoje a maior produtora de armas do país. O casal teve um único filho, Marcellus Hartley Dodge Jr., que morreu num acidente automobilístico em Mogesca, França, em 29 de Agosto de 1930. Filantropa, Geraldine dedicou-se também aos cães, actividade sobre a qual recairá o nosso enfoque.
Estamos a falar de uma senhora milionária que se dedicou à selecção das raças caninas sem desprezar aqueles que sem pedigree eram abandonados. Ela foi a primeira mulher a julgar no Westminster Kennel Club, onde foi juíza convidada para a atribuição do “Best in Show”, julgando paralelamente nos principais concursos da Alemanha, Canadá, Irlanda e Inglaterra, escrevendo ainda dois livros, um dedicado ao Cocker Spaniel e outro ao Cão de Pastor Alemão.
Geraldine manteve mais de 100 cães de várias raças nos seus luxuosos canis de Madison, Nova Jérsia, criou o afixo “Giralda Farms”, foi membro do American Pointer Club e com o Pointer Nancolleth Markable, que havia sido Campeão Britânico e que importou, ganhou em 1932 perto de 30 “Best in Show”. Entre 1927 e 1957 realizou as famosas exposições caninas “Morris & Essex” (imagem abaixo), que se realizaram no Campo de Pólo da sua propriedade com o nome de “Giralda Farms”. A partir de 1957 dedicou a maior parte das suas energias a ajudar activamente cães e outros animais indesejados que vagueavam pelas ruas e pelos campos, criando o canil “St. Hubert’s Giralda”.
Depois da sua morte, o seu património de 85 milhões de dólares foi destinado à Fundação Geraldine R. Dodge, que tem dois objectivos: encorajar as artes e prevenir a crueldade contra os animais. A cada dois anos, nos anos ares, a fundação patrocina o “Festival de Poesia Geraldine R. Dodge”, que é considerado o maior evento da poesia nos Estados Unidos.
Esta entusiasta criadora e juíza de cães ficou também conhecida pelos seus “Dog Wagons”, que usava para transportar os seus cães para as exposições, genuínas limousines da Cadillac construídas com chassis especiais, onde fazia transportar os seus Pastores Alemães e Cockers, quando requisitados para esses eventos, conforme podemos ver na imagem seguinte, carros bem equipados e com pessoal esmerado.
A canicultura Mundial e a americana em particular devem muito a Geraldine R. Dodge pelo forte incremento que lhes deu, tendo o Cão de Pastor Alemão idêntica dívida, porque foi também graças a ela que a raça se expandiu vertiginosamente pelo Velho e Novo Mundo, tornando visíveis os seus méritos um pouco por toda a parte. E para quem tiver dúvidas, basta conferir quantos CPA’s havia na Inglaterra por alturas da I Guerra Mundial e quantos foram mobilizados para a II pelos ingleses. Na foto abaixo podemos ver Geraldine a exercitar um Pastor Alemão Lobeiro.
Desde cedo esta americana se apaixonou pelo Cão de Pastor Alemão, não sendo de estranhar vê-la nos concursos mais significativos para a raça, primeiro como corrente e depois como juíza. Na foto seguinte vemo-la concorrer num concurso por si organizado na América, concurso que teve como juiz nada menos nada mais que o Capitão Max Von Stephanitz e onde concorreu contra Maria Leary e John Gans (em nenhum dos três cães é visível algum cão-sapo).
A foto seguinte mostra-a na companhia dos seus Pastores, sendo que 3 deles brancos, cor que mais tarde o III Reich arredaria arbitrariamente da raça até aos dias de hoje, Pastores Alemães a quem indevidamente chamamos de “suíços” ou de “canadianos” (canadenses), apelido que jamais usarei por respeito ao Criador da raça e por desprezo a quem primeiro a estragou. Quando acabará este preconceito? Esperaremos a ressurreição dos mortos para pedir aos nazis que retirem tal excomunhão?
Foram muitos e vários os Pastores Alemães que Geraldine teve, numa altura em que a raça gozava de saúde e tinha a multivariedade necessária para mantê-la e perpetuá-la. Seguidamente deparamo-nos com esta criadora de Pastores Alemães com um exemplar negro, por sinal nada pequeno, bem aprumado, forte de espáduas e de peito largo, no que contrasta com os descodilhados de agora, que são plantígrados, apresentam o peito demasiado estreito e profundo e o chanfro do externo deveras evidente (servirá para cabide?).
Falar de Geraldine Rockefeller Dodge e do seu tempo, é sentir necessidade de retornar ao passado e de devolver ao Cão de Pastor Alemão o que lhe têm vindo a roubar, como a saúde, o bem-estar, a longevidade, o bom-nome e a utilidade. E se isto não parar, quando menos se esperar, acabarão também por tirar-lhe a vida. Agora que o último macho da espécie já morreu, será ele o próximo rinoceronte branco? Sê-lo-á se todos consentirmos, doutro modo não, e é por isso que não me calo.

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