É natural para quem passa
a vida sentado, depois de dar alguns passos, deitar a mão à cadeira mais
próxima, mau-hábito enraizado entre nós que afecta também quem ocupa a cadeira
do poder, que tende a configurar e a compreender o País do lugar onde senta
comodamente o traseiro, o que normalmente tem como consequência a tomada de
medidas desajustadas que a todos afecta ou prejudica, como é o caso das actuais
leis relativas à limpeza das florestas.
Em função do seu atraso não
se põe em causa a necessidade e a urgência de tais leis, mas sim o seu
cumprimento, não porque o povo queira deliberadamente desobedecer-lhes, mas
porque tem dificuldades em compreendê-las a lei ao pé da letra, incompreensão
que está a resultar em grave asneira, quando os depauperados proprietários
rurais, com medo das pesadas coimas e das tragédias do passado-recente (os
incêndios), deitam tudo abaixo para não apanharem por tabela, num “excesso de
zelo” que nem as espécies protegidas poupa, chegando a cortar o que não devem e
a deixar ficar o que era para abater.
Esta trapalhada deve-se ao
Governo por desinformação, que da “cadeirinha dos ministérios” não considerou
devidamente os destinatários dos seus diplomas legais, gente mais idosa, de
baixa escolaridade (alguma ainda analfabeta)1, com pouca capacidade de apreensão e
avessa às novas tecnologias, que ontem como hoje continua a ser a vítima
preferencial das indústrias madeireira e dos incêndios.
Costuma dizer-se, e este blogue
reporta-se aos proprietários caninos, que “às cadelas com a mania das pressas
nascem-lhes os filhos cegos”, o que neste caso bem se pode aplicar a quem nos
governa por ter sido apressado.
Nem o Primeiro-ministro,
nem o Governo e nem o Ministro da Agricultura levaram a cabo uma verdadeira
campanha de esclarecimento sobre o assunto, apesar de terem ao seu dispor o
tempo e os meios necessários, nomeadamente uma televisão pública que cobre
praticamente todo o território nacional. Bastava para evitar os disparates e as
dúvidas que ainda persistem por aí, que alguém ligado à tutela e com poder para
isso, levasse a cabo uma campanha televisiva de esclarecimento capaz, extensiva
a todos os canais e plena de exemplos práticos, a passar em horário nobre e
durante o tempo julgado necessário. Até me admira como o Sr. Presidente da
República não se lembrou disso, ele que representa todos os portugueses,
provavelmente estaria muito atarefado a distribuir copiosos óculos por aí!
Agora só falta penalizar
quem não foi devidamente esclarecido, o que volta não volta acontece, não fora
a ignorância um dos melhores negócios do mundo, quando deveria ser o governo a
correr atrás do prejuízo. A propósito, teria a oposição algum tabu em exigir
atempadamente uma medida assim? Será que a Assunção Cristas, que foi Ministra
da Agricultura dos Governos anteriores, os Constitucionais XIX e XX, não lhe passou semelhante
ideia pela cabeça? Estará ela mais interessada em governar do que em fazer
política? Se assim for, espero que não se esqueça do famoso epíteto confucionista que diz: "Pode-se conquistar um império na sela de um cavalo, mas não se pode governá-lo em cima dela".
Depois
disto, duas perguntas ainda pairam no ar, são elas: porque fazem os governantes
invariavelmente maus negócios e o que os isenta de pagar pelos seus erros?
Decididamente somos mais sádicos do que à partida julgávamos!
1 Segundo
dados divulgados pelo Instituto Nacional de estatísticas (INE), de acordo com
os censos de 2011, existe meio milhão de analfabetos em Portugal, tendo 130.000
idades compreendidas entre os 15 e os 65 anos de idade, o que é uma vergonha
para todos nós.
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