sexta-feira, 10 de novembro de 2017

UMA LUTA SEM TRÉGUAS

Sabia que o forte impulso canino ao alimento e o despreparo dos donos contribuem em partes iguais para o montante de cães que anualmente é ferido, envenenado e até assassinado? É verdade! Na mesma medida em que aumentam os cuidados com os cães, aumentam também os artifícios dos seus inimigos para eliminá-los. E ainda não estamos a falar daqueles cobardes que, querendo fazer mal aos donos, não hesitam em liquidar-lhes os animais. Há muito que abriu “a caça ao cão”, que pode acontecer dentro da sua casa, no seu quintal, nos arredores da sua habitação, nos parques públicos e noutros locais inesperados. E porque importa abordar o tema com a maior seriedade possível, somos obrigados a dizer que os cães só são feridos, intoxicados ou mortos desta maneira quando os donos se encontram ausentes ou são desleixados (irresponsáveis).
Todos os anos somos obrigados a falar deste assunto, da recusa de engodos, porque o número de cães envenenados e eliminados vai aumentando a cada ano que passa. O assunto é por vezes pouco badalado para não se ferir as susceptibilidades daqueles que de modo tão estúpido perderam os seus cães, gente que ao manter as mesmas práticas irresponsáveis, jamais deveria adoptar outro cão, por vir a sujeitá-lo à mesma roleta russa que vitimou o anterior. E diante desta lamentável situação, que estranhamente se repete, vemo-nos na contingência de reconhecer que nem todos os homens aprendem com os seus erros.
A guerra contra os aliciadores e envenenadores é uma guerra sem tréguas que os proprietários caninos são obrigados a ganhar, porque doutro modo arriscam-se a perder os seus cães como tantos outros, guerra que se pode catalogar de “guerrilha urbana”, atendendo ao seu carácter subversivo e acontecer com maior frequências nas cidades. As armadilhas mais comuns usadas pelos inimigos dos cães reportam-se ao uso de carne com osso ou desossada (de vaca, porco, borrego, frango, etc.), que tanto poderá apresentar-se crua como cozinhada, previamente envenenada ou saturada de alfinetes, pregos ou de vidro partido.
Ainda antes de adiantarmos os procedimentos que uma vez cumpridos poderão salvar a vida ao seu cão, adiantamos-lhe de imediato que eles sempre necessitarão de recapitulação e aprimoramento, porquanto geram respostas artificiais que com o passar do tempo tendem a ser abandonadas pelos cães. Como é óbvio, a luta pela sobrevivência do seu cão começa em casa e vence-se na rua, através de regras preventivas e dissuasoras a observar por pessoas e cães, que respeitadas no exterior pelo animal, garantirão o seu retorno ao lar incólume e sadio.
A primeira regra preventiva doméstica consiste no animal só comer depois de ordem expressa. O seu comedouro e bebedouro deverão ter um sítio fixo na habitação e encontrarem-se à altura certa para o animal: o bordo superior das tigelas deverá encontrar-se 5cm abaixo da altura do cão (medida na cernelha). O animal deverá ver interrompida a sua refeição e deixar que o seu dono lhe abra a boca. A entrega de guloseimas deverá acontecer sempre na tigela do cão. A distribuição da comida deverá restringir-se sempre à mesma pessoa, eventualmente a duas em caso de necessidade.
Não deverá ser permitido às visitas da casa alimentar o animal ou dar-lhe qualquer tipo de guloseima. Ninguém, nem mesmo o dono, estará autorizado a dar-lhe restos de comida. A ração que o animal deixar eventualmente cair no chão deverá ser, depois higienizada, recolocada na sua tigela, pois importa que o cão não se acostume a procurar e a comer comida encontrada no chão. Também a ração dos gatos, se os houver, deverá ser colocada fora do seu alcance, assim como a sua casa de banho, exigindo-se idêntico cuidado com o caixote do lixo, que deverá encontrar-se sempre fechado e inalcançável para o cão.
Há que haver também um cuidado especial com as crianças, com as da casa e com as que a visitam, porque a comida que transportam está mais à mão dos cães, tendem a repartir os seus petiscos com eles e, dependendo da idade, deixam comida por todo o lado (casa e quintal). Nas horas em que o cão se encontra sozinho em casa não convém deixar comida em cima do lava-loiças da cozinha ou noutros locais ao alcance do cão. Quando abrir frigoríficos, micro-ondas e armários onde guarda comida, tente fazê-lo longe da presença dele, para que não aprenda a abri-los e a saciar-se, como já tem acontecido.
Nas horas das refeições é importante não consentir no incómodo do seu pedinchar, dar-lhe de comida ou chamá-lo para debaixo da mesa. Para os mais gulosos e só para estes, o recurso a um açaime que o impeça de comer é o melhor dos antídotos para afastá-los da confecção da alimentação e da mesa familiar pelo incómodo que representa, incómodo que os fará afastar-se sempre que lhes cheirar a comida e a família se sente à mesa. Caso abocanhe acidentalmente um pedaço de comida em qualquer divisão da casa, não o deixe comê-lo, retire-o imediatamente da sua boca e repreenda-o vivamente, para que não volte tão depressa a repetir a “proeza”. E quanto ao seu penso diário, quando ele come pouca ração e para estimulá-lo é necessário adicionar-lhe uma “latinha”, mais vale procurar uma ração que lhe agrade do que dar-lhe comida fresca ou cozinhada misturada na ração, pressuposto que poderá ser-lhe fatal (também não lhe faz nada bem à saúde).
Para cúmulo das suas penas caninas, os seus donos só podem passear com eles de manhãzinha e ao final da tarde, ao alvorecer e ao anoitecer, ocasiões mais propícias para serem picados pelos mosquitos transportadores da leishmaniose, pelo que a vacina contra a leishmaniose torna-se obrigatória para todos os cães, tanto para os que saem à rua como para aqueles que acabam pendurados e esquecidos em varandas.
Nas saídas com o seu cão à rua, caso demonstre em casa ser por demais guloso, aconselha-se que saia com ele açaimado, o que de imediato carrega duas vantagens: o animal não poderá comer o que encontrar no chão e os sedutores não poderão dar-lhe comida. Escusado será dizer que não deverá consentir que lhe dêem comida na rua.
Evite percursos ou jardins muito frequentados por cães, porque os envenenadores costumam fazer deles o seu terreno de caça preferido. Se o seu cão ladra em demasia ou demonstra uma profunda antipatia com alguém em particular, mude constantemente de percursos e evite confrontações indesejáveis, porque um cão que não chateia tem mais chances de sobreviver. Dê-lhe de comer antes de sair à rua e evite ir com ele aos parques na hora do almoço.
Na via pública e nos jardins aconselha-se que circule com ele à trela, até porque a Lei assim o exige, evitando nos trajectos os caixotes dos lixo, a proximidade dos parques infantis e os locais mais recônditos e menos iluminados, porque os caixotes do lixo são uma tentação para os cães, as crianças andam sempre com comida às costas e os locais mais escuros são próprios para a camuflagem de armadilhas.
Quando pensar em soltar o seu cão na rua, nunca o faça sem antes reconhecer o local e “batê-lo a pente fino”. O local deverá possibilitar a observação constante do cão e este só deverá ser solto se responder prontamente ao comando de “Aqui”, porque doutro modo jamais evitará que coma o que não deve por ter chegado tarde demais.
Muito mais haveria a dizer sobre esta matéria, que sendo recorrente voltará a ser abordada. Adiantámos aqui uma série de medidas preventivas que poderão salvar a vida do seu cão e evitar que venha a morrer envenenado. O cumprimento destas medidas irá facilitar de sobremaneira o futuro e indispensável treino da recusa de engodos, currículo obrigatório de toda e qualquer escola canina digna desse nome. Como se comporta o seu cão: come comida do chão e da mão de toda a gente ou não? Se a sua resposta for afirmativa, o futuro do seu cão poderá estar comprometido. Ensine-o enquanto é tempo, ontem já era tarde!

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