quinta-feira, 16 de novembro de 2017

NEM VERDES NEM VERMELHOS

Cientistas do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade italiana de Bari, chefiados por Marcello Siniscalchi, testaram 16 cães e descobriram que eles não distinguiam a cor vermelha da verde, uma deficiência conhecida por “deuteranopia”, deficiência que também afecta os humanos com ascendência no Norte da Europa (8% dos homens e 0,5% das mulheres).
Esta pesquisa mostrou que os olhos dos cães têm apenas dois tipos de cones, células fotorreceptoras responsáveis pela visão colorida, enquanto a esmagadora maioria dos humanos tem três. A falta de um tipo de cones nos nossos fiéis amigos torna-os insensíveis aos comprimentos de onda vermelhos e verdes. A comprovação desta verdade científica foi alcançada através de um teste de visão colorida Ishihara (Ishihara Color Vision Test), a quem Siniscalchi deu um toque divertido ao trocar os números pela animação de um gato. A maioria dos cães testados detectou imediatamente um gato vermelho brilhante num fundo verde, mas foram incapazes de vê-lo quando se apresentava escuro ou vermelho escuro sobre um fundo verde.
Esta insensibilidade às cores vermelha e verde deve ser entendida, segundo Siniscalchi, de acordo com a perspectiva evolutiva, quando os cães eram ainda animais crepusculares (mais activos ao amanhecer e no crepúsculo), a quem a visão colorida não era e não é crucial para a caça e sobrevivência nessas ocasiões.
Como a maioria dos cães são hoje mais activos durante o dia, Siniscalchi aconselha que não se usem objectos de cor vermelha e verde quando a segurança dos animais estiver em causa, pelo que interruptores e demais mecanismos mecânicos e electrónicos accionados pelos cães deverão ser de cor azul ou amarela.
Também os brinquedos utilizados para ensinar os cães deverão ser azuis ou amarelos, particularmente quando usados sobre pisos de relva, porque caso sejam vermelhos obrigarão os cães a uma maior acuidade visual e não serão para eles visíveis a grandes distâncias, muito embora o olfacto tenda a compensar aquilo que a vista não alcança.
Obedecendo ao mesmo cuidado, os obstáculos de uma pista quando dispostos sobre relva, não deverão ser de cor vermelha, porque os cães verão o piso e os obstáculos da mesma cor: em tons de amarelo, o que poderá resultar em indesejáveis acidentes e lesões.
O estudo destes cientistas italianos incidiu sobre 3 Pastores Australianos, 1 Épagneul Breton, 1 Weimaraner, 1 Labrador e 10 cães sem raça definida, pelo que os seus autores sugerem, para confirmação do que fizeram saber, um experimento com maior número de cães.
Este trabalho do Dr. Siniscalchi e dos seus colegas foi publicado em 8 de Novembro na Revista on-line de livre acesso “Royal Open Science”, que publica pesquisas de alta qualidade abrangendo todas as ciências, dando especial enfoque à engenharia e à matemática.
Talvez por causa da deuteranopia que os apoquenta, os cães que enviamos para os distintos concursos internacionais, que levam estampadas nos seus arneses as cores nacionais, ao não distingui-las, se sintam fascinados por outras mais apelativas, deslumbre que eventualmente tem obstado ao seu patriotismo e impedido que ganhem algo para Portugal. Os cães até podem ser cegos, os seus condutores é que não! 

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