sábado, 4 de novembro de 2017

QUANDO OS CÃES EMPREGAM, SALVAM NEGÓCIOS RUINOSOS E PAGAM AS HIPOTECAS DAS CASAS

Longe vai o tempo em que dizer para alguém “vai dar banho ao cão” era uma ofensa para o visado, hoje as coisas são bem diferentes e “dar banho ao cão” emprega muita gente! A reboque do que acontece nas democracias americana e europeias, muitos portugueses estão a tirar partido do crescente número de cães nos lares lusos, absorvendo conceitos e abraçando serviços até aqui pouco vistos, tais como “Dog Sitting”, “Dog Walker”, “Doggie Daycare”, “Dog Nursery”, “Paradise Pet Resort” e “Backyard Dog Daycare”, actividades que combatem o desemprego, salvam negócios ruinosos, que garantem o pagamento das rendas aos senhorios e também o relativo às hipotecas das casas. Se ter cães hoje pode ser ruinoso, cuidar dos alheios pode trazer fortuna!
Os que abraçam o “Dog Sitting” como primeira ou única ocupação são geralmente pessoas já maduras sem filhos ou com eles já criados, maioritariamente do género feminino, proprietárias de um ou mais cães que funcionam como a melhor das publicidades, conhecidas da comunidade onde se encontram inseridas, já antes ligadas aos cães (podem ter sido proprietários de uma pet shop ou haver trabalhado nalguma), cujo trajecto de vida é a melhor das suas credenciais, começando por valer aos cães dos vizinhos e estendendo depois a sua actividade para além deles. Normalmente começam por ficar com o cão de um vizinho ou do mesmo condomínio durante umas férias e acabam por cuidar dele o resto do ano e nos anos seguintes.
São por norma pessoas novas demais para serem reformadas e já “velhas” para alguém lhes oferecer trabalho, que se mexem relativamente bem e que têm casa e carro próprio, que se furtam assim ao exercício da vidência e da charlatanice, ao deitar cartas de Tarô ou a vender intercessões de Reiki, ao lavar de escadas e aos trabalhos mal pagos de limpeza. Poderão vir a constituir-se em empresa ou serem empresários em nome individual, muito embora a maioria ande constantemente a furtar-se aos impostos e a fintar as finanças. Tendencialmente são os mais jovens que formam empresas com outros e os mais velhos que as evitam. 
Tratam e cuidam dos cães a maior parte do dia, quando os seus donos se encontram ausentes, quer na casa destes quer na sua própria casa, levando também os animais ao veterinário e a passear, colidindo assim com o raio de acção dos Dog WalkersMais tarde, caso sejam bem-sucedidos e ainda não o tenham, acabarão por alugar um espaço para este efeito (é vulgar assistir-se à transformação de uma arruinada Pet Shop num promissor Doggie Daycare). É evidente que um veterinário empreendedor sempre arranjará maneira de ter o seu próprio serviço de Dog Sitting.
Perguntar-se-á: quem é que normalmente engrossa às fileiras dos “Dog Walkers”? Principalmente jovens estudantes ou desempregados, biólogos e etólogos sem trabalho, tosquiadores sem clientela, adestradores pouco renomados ou mal sucedidos, uns tantos reformados por invalidez e também algumas “super-avózinhas”. 
Esta actividade que consiste em passear os cães, própria das grandes cidades, torna-se a ideal para se fugir ao óleo de fritura no McDonald’s, não criar raízes atrás duma caixa registadora, acabar deprimido num Call Center, a contar estrelas como segurança ou ir para a polícia há falta de melhor. Como em todos os negócios, a actividade de um Dog Walker será mais rentável quanto maior for o leque dos seus clientes. Graças a esta gente, que não trabalha só por vocação ainda que o diga, os cães acabam por sair, ter alguma actividades e sociabilizar-se, o que lhes traz saúde e bem-estar e evita que enveredem pela “ansiedade da separação”.
Aqueles que possuem um Doggie Daycare ou um Dog Nursery, é tudo uma questão de terminologia e nada mais, com alguma dificuldade fugirão aos impostos e terão que ter e ser bons vizinhos para exercerem a sua actividade, porque vão concentrar nalgumas divisões de um espaço comercial ou de um piso térreo uma ou várias dezenas de diferentes cães, que normalmente agrupam por idades, tamanho e comportamento (social e sexual), animais que nem sempre são ordeiros e silenciosos. Esta gente oferece aos animais, para descanso dos seus donos e descargo de consciência, simultaneamente um infantário e um ATL (Actividades dos Tempos Livres), um espaço educativo com actividades lúdicas próprias para a canzoada, que abre as portas antes do horário laboral geral e que as fecha depois do seu término, o que permite aos donos entregar os cães logo de manhãzinha e só ir buscá-los ao início da noite.
A tendência desta actividade é para o aumento, porque é rentável e os clientes depressa se multiplicam. Com o aumento da clientela sempre haverá necessidade de subcontratar pessoas para este serviço, normalmente com alguma experiência como Dog Walker ou em Dog Sitting, que não querendo correr riscos por conta própria e sujeitar-se às condições climatéricas, acabam por abrigar-se num salário mais baixo mas seguro, combatendo dessa forma o desemprego e arranjando proventos para sustentar outras actividades e formações. 
Graças ao sucesso encontrado nesta actividade como empresários, os proprietários de um Doggie Daycare depressa transitarão de uma casa alugada para outra que comprarão, menos sujeita às queixas dos vizinhos, mais perto da sua clientela, melhor servida de transportes públicos e com facilidade de parqueamento.
Eis-nos chegados aos ditos Paradise Pet Resorts e Backyards Dog Daycare, que outra coisa não são que quintais vedados, mais ou menos artilhados para cães, parques de aventuras coloridos onde os animais têm obstáculos para vencer, mais espaço e podem correr à vontade enquanto os seus donos trabalham. 
Os melhores têm piscina e alguns funcionam dentro de quintas também destinadas a casamentos e baptizados. O conceito adveio primeiro da NET, foi seguido nos recintos camarários destinados aos cães e as pistas caninas (tácticas e de agility) serviram-lhes de inspiração. Alguns hotéis caninos têm para oferecer aos seus hóspedes um recinto destes que disponibilizam também como Dog Daycare.
Esta opção, por ser extremamente válida para o bem-estar dos cães, carece de menos iniciativa pública e mais privada, considerando as necessárias manutenção, limpeza e fiscalização dos recintos, o que obrigará à contratação de funcionários, funcionários cujos salários mais agravariam, caso fossem contratados por uma entidade pública, as já frágeis finanças autárquicas e estatais. Não têm sido poucos aqueles que têm conseguido pagar as hipotecas das suas moradias à conta dos seus quintais e disponibilidade. Outros há que, vivendo em moradias alugadas, vieram finalmente a adquirir aquela que desejavam e tudo graças aos cães. Sim os cães estão neste momento a dar emprego, a pagar muitas hipotecas e a evitar que mais vão parar “ao olho da rua”!
Se foi a NET a primeira responsável pelo estoiro das pet shops, foi também ela que indicou como transformá-las nas actuais e rentáveis Dog Daycare. Resta dizer que as pessoas hoje dedicadas aos cães, independentemente do montante dos seus proventos, reinserem-se na sociedade sem grandes dificuldades e alcançam o respeito generalizado pela sua actividade. Com o esperado “desenrascanço”, que nem sempre induz a uma melhor prestação de serviços, os cinófilos portugueses adoptaram sem maiores dificuldades os conceitos anglo-saxónicos que hoje os sustentam. 
E tudo isto porquê? Porque os donos dos cães, à imitação do que sucede com os seus filhos, não têm tempo para eles! Seria injusto e até faltar à verdade não reconhecer a importância que as campanhas de adopção tiveram para o aumento destes negócios, uma vez que nunca se viu tanto cão por toda a parte!

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