domingo, 19 de novembro de 2017

“OLHAI QUE LEDOS VÃO, POR VÁRIAS VIAS, QUAIS ROMPENTES LEÕES E BRAVOS TOUROS”

Considerando o trabalho que desenvolvemos ontem pela manhã, com justiça podemos introduzi-lo com uma citação do Canto X dos Lusíadas: “Olhai que ledos vão, por várias vias, Quais rompentes leões e bravos touros…”, como também o poderíamos intitular como “A Nana foi prà recruta”, porque as tarefas não foram fáceis, o sol escaldava (que Novembro mais estranho!) e a ucraniano-georgiana parecia ter dado entrada numa recruta, já que apresentou manifestas e inesperadas dificuldades nos trabalhos, tanto físicas quanto psicológicas, limitações que explicam em absoluto o controlo precário que tem sobre o seu cão, que sentindo as fragilidades da dona e entendendo-as como um pedido de auxílio, acaba por descarregar no primeiro que estiver à mão, seja gente ou seja cão! Quando se sentenciou que “quem tem medo, compra um cão”, alguém se esqueceu de avisar dos perigos resultantes dessa opção, porque sempre será mau passar uma arma para a mão de um medroso ou de um cobarde (os outros que se cuidem!).
Os trabalhos iniciaram-se sobre o “Espelho-de-Solo”, onde apenas os binómios Nuno Falé/Ginja e João Graça/Hope conseguiram executar o “Tri-comando” básico segundo o expectável. Depois passámos directamente para a transposição duma vertical de alvenaria com 100 cm de altura, obstáculo onde os molossos mostraram alguma resistência (Maggie e Slinky), obrigando à intervenção do adestrador.
Já o mesmo não se passou com os 3 Pastores Alemães presentes (Bor, Ginja e Matisse), que transpuseram confiantes aquela barreira, indiciando ser capazes de ultrapassar outras com maior altura. Como o Paulo se encontrava de canadianas, o Bor executou esta barreira a partir de uma trela extensível.
Dando continuidade ao trabalho iniciado na semana anterior, voltámos ao tronco sobre a vala, onde a Nana teve que treinar sem cão por lhe faltar alguma valentia e equilíbrio. Depois de várias tentativas periclitantes, lá conseguiu levar o Matisse com ela, cão que se encolheu que nem uma concertina para não desequilibrar a sua dona. Na foto seguinte vale a pena reparar o que fez o animal às suas patas de trás nesse sentido.
Estranhamente, quem apresentou maiores dificuldades nesta travessia foi o binómio Tomás/Slinky, o que teve como resultado várias quedas distribuídas entre o condutor e o cão. A foto abaixo é esclarecedora sobre o assunto. Nela podemos ver o Tomás a largar o Rottweiler e a desequilibrar-se.
Uma vez a tarefa vencida, aumentámos as dificuldades na sua transposição, colocando algumas pedras sobre o estreito tronco, novidade que obrigou os binómios a um maior equilíbrio. A Ginja, a Hope e a Maggie mostraram segurança e não acusaram a dificuldade.
Em termos de concentração, a Hope é de qualidade superior, mas quando o assunto exige disponibilidade ou maior aplicação física, a SRD delega nos outros esse esforço, chegando ao ponto de se fazer importunada por qualquer mal e solicitar a misericórdia do dono. Porém, venceu todos os obstáculos colocados à sua frente.
A Carla Leitão, com um impedido sempre à mão (João Pedro Leitão), passou pelo tronco tal qual modelo em passerelle, elegância também enriquecida pelo cuidado que a sua exótica cadela demonstrou naquele obstáculo.
Quando se pensa nos cidadãos do Leste Europeu, pensa-se que são todos ginastas e atletas, gente de brio e ambição, mas a nossa Nana lembra a excepção que confirma a regra, porque é frágil e temerosa, menos valias que obrigaram o João Graça a introduzir o Matisse no salto em extensão, binómio que brilhou em tudo o que fez.
Para facilitar a prática do salto em extensão aos cães, servimo-nos dum elemento central mais elevado que os restantes, dentro da curvatura natural de salto para induzirmos os animais à suspensão. Na foto abaixo podemos ver a Ginja a fazer um salto rasgado e em grande esforço.
A Maggie apresenta uma disposição atlética notável e uma velocidade estonteante em tudo o que faz, particularmente nas perseguições com o Tomás à frente. No salto em extensão não apresentou dificuldades e quem a conduziu também não (o João Pedro está a tomar-lhe o gosto!).
Mas quando se fala em potência não se pode ignorar o Slinky, um cão que começa a destacar-se dos demais pela força, entrega e resistência, qualidades muito bem aproveitadas pelo seu dono e condutor que por vezes não consegue acompanhar a para e passo a evolução do excelente cão que conduz. Temos cão, queremos condutor!
Depois do João Graça ter suado a camisa, finalmente a Nana lá conseguiu saltar com o seu magnífico cão, animal cuja biomecânica acrescenta rara beleza a tudo o que faz. Apesar deste CPA, originário do Leste, ter mais de 70 cm de altura, o seu peso não excede os 38 kg.
Depois de termos ultrapassado as metas relativas ao salto em extensão, convidámos todos os binómios presentes para a transposição do rotineiro muro de 150 cm, hoje ultrapassado por todos os binómios escolares. O Slinky é literalmente um “papa-muros”, apesar de apresentar angulações traseiras quase rectas. Falta ainda ao “Careca-Smith”, nome escolar atribuído ao Tomás pelo corte radical de cabelo que apresenta, maior destreza técnica para transportar o Rottweiler para patamares mais altos.
Mas o que falta ao Tomás em técnica sobra-lhe em valentia e foi graças à sua participação como cobaia que o Matisse conseguiu transpor o muro, já que a fragilidade da Nana era de pouco préstimo para o animal. A Acendura sempre foi e continuará a ser um grupo familiar, uma família que se ajuda mutuamente e que não deixa ninguém para trás. Ontem a Nana experimentou isso quando o João e o Tomás vieram em seu auxílio.
E porque importava robustecer a Nana e melhorar-lhe a corrida, optámos por “baptizá-la”, rito iniciático em que teve como padrinho o Slinky, dever a que o Rottweiler não se escusou e ao qual dedicou grande afinco (o Tomás que o diga!).
Treinámos ainda obediência no Círculo de 36 metros e os binómios cumpriram com o esperado, evoluindo nos diversos subsídios direccionais e obedecendo às distintas figuras de obediência pelo tempo que lhes foi solicitado.
No final da aula tiraram-se algumas fotos de grupo para a história, onde a boa disposição dos binómios em todos é visível. Infelizmente há sempre uns que ficam melhor do que outros, o que nem sempre tem a ver com a beleza individual de cada um deles.
Participaram nos trabalhos os seguintes binómios: Carla/Maggie, João Graça/Hope; João Graça/Matisse; João Pedro/Bor; João Pedro/Maggie; Paulo/Bor; Nana/Hope; Nana/Matisse; Nuno Falé/Ginja e Tomás/Slinky. As reportagens fotográficas ficaram a cargo da Carla, do Paulo e da esposa do Nuno Falé, condutor que, com as devidas cautelas, trouxe para o treino a sua filha Maria, agora com 2 meses de idade. Para a semana há mais, oxalá haja chuva também!

Sem comentários:

Enviar um comentário