Considerando o trabalho
que desenvolvemos ontem pela manhã, com justiça podemos introduzi-lo com uma
citação do Canto X dos Lusíadas: “Olhai que ledos vão, por várias vias, Quais
rompentes leões e bravos touros…”, como também o poderíamos intitular como “A
Nana foi prà recruta”, porque as tarefas não foram fáceis, o sol escaldava (que
Novembro mais estranho!) e a ucraniano-georgiana parecia ter dado entrada numa
recruta, já que apresentou manifestas e inesperadas dificuldades nos trabalhos,
tanto físicas quanto psicológicas, limitações que explicam em absoluto o
controlo precário que tem sobre o seu cão, que sentindo as fragilidades da dona
e entendendo-as como um pedido de auxílio, acaba por descarregar no primeiro
que estiver à mão, seja gente ou seja cão! Quando se sentenciou que “quem tem
medo, compra um cão”, alguém se esqueceu de avisar dos perigos resultantes
dessa opção, porque sempre será mau passar uma arma para a mão de um medroso ou
de um cobarde (os outros que se cuidem!).
Os trabalhos iniciaram-se
sobre o “Espelho-de-Solo”, onde apenas os binómios Nuno Falé/Ginja e João
Graça/Hope conseguiram executar o “Tri-comando” básico segundo o expectável.
Depois passámos directamente para a transposição duma vertical de alvenaria com
100 cm de altura, obstáculo onde os molossos mostraram alguma resistência
(Maggie e Slinky), obrigando à intervenção do adestrador.
Já o mesmo não se passou
com os 3 Pastores Alemães presentes (Bor, Ginja e Matisse), que transpuseram
confiantes aquela barreira, indiciando ser capazes de ultrapassar outras com
maior altura. Como o Paulo se encontrava de canadianas, o Bor executou esta
barreira a partir de uma trela extensível.
Dando continuidade ao
trabalho iniciado na semana anterior, voltámos ao tronco sobre a vala, onde a
Nana teve que treinar sem cão por lhe faltar alguma valentia e equilíbrio.
Depois de várias tentativas periclitantes, lá conseguiu levar o Matisse com
ela, cão que se encolheu que nem uma concertina para não desequilibrar a sua
dona. Na foto seguinte vale a pena reparar o que fez o animal às suas patas de
trás nesse sentido.
Estranhamente, quem
apresentou maiores dificuldades nesta travessia foi o binómio Tomás/Slinky, o
que teve como resultado várias quedas distribuídas entre o condutor e o cão. A
foto abaixo é esclarecedora sobre o assunto. Nela podemos ver o Tomás a largar
o Rottweiler e a desequilibrar-se.
Uma vez a tarefa vencida,
aumentámos as dificuldades na sua transposição, colocando algumas pedras sobre
o estreito tronco, novidade que obrigou os binómios a um maior equilíbrio. A Ginja,
a Hope e a Maggie mostraram segurança e não acusaram a dificuldade.
Em termos de concentração,
a Hope é de qualidade superior, mas quando o assunto exige disponibilidade ou
maior aplicação física, a SRD delega nos outros esse esforço, chegando ao ponto
de se fazer importunada por qualquer mal e solicitar a misericórdia do dono.
Porém, venceu todos os obstáculos colocados à sua frente.
A Carla Leitão, com um impedido
sempre à mão (João Pedro Leitão), passou pelo tronco tal qual modelo em
passerelle, elegância também enriquecida pelo cuidado que a sua exótica cadela
demonstrou naquele obstáculo.
Quando se pensa nos
cidadãos do Leste Europeu, pensa-se que são todos ginastas e atletas, gente de
brio e ambição, mas a nossa Nana lembra a excepção que confirma a regra, porque
é frágil e temerosa, menos valias que obrigaram o João Graça a introduzir o
Matisse no salto em extensão, binómio que brilhou em tudo o que fez.
Para facilitar a prática
do salto em extensão aos cães, servimo-nos dum elemento central mais elevado
que os restantes, dentro da curvatura natural de salto para induzirmos os
animais à suspensão. Na foto abaixo podemos ver a Ginja a fazer um salto
rasgado e em grande esforço.
A Maggie apresenta uma
disposição atlética notável e uma velocidade estonteante em tudo o que faz, particularmente
nas perseguições com o Tomás à frente. No salto em extensão não apresentou
dificuldades e quem a conduziu também não (o João Pedro está a tomar-lhe o
gosto!).
Mas quando se fala em
potência não se pode ignorar o Slinky, um cão que começa a destacar-se dos
demais pela força, entrega e resistência, qualidades muito bem aproveitadas
pelo seu dono e condutor que por vezes não consegue acompanhar a para e passo a
evolução do excelente cão que conduz. Temos cão, queremos condutor!
Depois do João Graça ter
suado a camisa, finalmente a Nana lá conseguiu saltar com o seu magnífico cão,
animal cuja biomecânica acrescenta rara beleza a tudo o que faz. Apesar deste
CPA, originário do Leste, ter mais de 70 cm de altura, o seu peso não excede os
38 kg.
Depois de termos
ultrapassado as metas relativas ao salto em extensão, convidámos todos os
binómios presentes para a transposição do rotineiro muro de 150 cm, hoje ultrapassado
por todos os binómios escolares. O Slinky é literalmente um “papa-muros”,
apesar de apresentar angulações traseiras quase rectas. Falta ainda ao “Careca-Smith”,
nome escolar atribuído ao Tomás pelo corte radical de cabelo que apresenta,
maior destreza técnica para transportar o Rottweiler para patamares mais altos.
Mas o que falta ao Tomás
em técnica sobra-lhe em valentia e foi graças à sua participação como cobaia
que o Matisse conseguiu transpor o muro, já que a fragilidade da Nana era de
pouco préstimo para o animal. A Acendura sempre foi e continuará a ser um grupo
familiar, uma família que se ajuda mutuamente e que não deixa ninguém para
trás. Ontem a Nana experimentou isso quando o João e o Tomás vieram em seu
auxílio.
E porque importava
robustecer a Nana e melhorar-lhe a corrida, optámos por “baptizá-la”, rito
iniciático em que teve como padrinho o Slinky, dever a que o Rottweiler não se
escusou e ao qual dedicou grande afinco (o Tomás que o diga!).
Treinámos ainda obediência
no Círculo de 36 metros e os binómios cumpriram com o esperado, evoluindo nos
diversos subsídios direccionais e obedecendo às distintas figuras de obediência
pelo tempo que lhes foi solicitado.
No final da aula
tiraram-se algumas fotos de grupo para a história, onde a boa disposição dos
binómios em todos é visível. Infelizmente há sempre uns que ficam melhor do que
outros, o que nem sempre tem a ver com a beleza individual de cada um deles.
Participaram nos trabalhos
os seguintes binómios: Carla/Maggie, João Graça/Hope; João Graça/Matisse; João
Pedro/Bor; João Pedro/Maggie; Paulo/Bor; Nana/Hope; Nana/Matisse; Nuno Falé/Ginja
e Tomás/Slinky. As reportagens fotográficas ficaram a cargo da Carla, do Paulo
e da esposa do Nuno Falé, condutor que, com as devidas cautelas, trouxe para o
treino a sua filha Maria, agora com 2 meses de idade. Para a semana há mais,
oxalá haja chuva também!
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