O primeiro quartel do Séc.
XX foi tremendo para a Europa e pior para Portugal, porque se inicia
praticamente com o regicídio, assiste-se à mudança de regime e a frágil
República, carente de reconhecimento internacional, teme pela independência
nacional e vê-se a braços para conservar o Império Colonial Português. Em 1914
estoira a I Guerra Mundial e Portugal vai entrar nela para conservar o seu
império ultramarino, enquanto outros lutam em primeira instância pela
conservação e expansão dos seus impérios continentais.
O exército português irá
sofrer em África, em Angola e particularmente em Moçambique a sua pior derrota
depois de Alcácer-Quibir, obra de um general alemão, Paul Emil Lettow-Vorbeck
(1870-1964), que adoptando uma guerra de guerrilha e servindo-se de milícias
africanas, causou mais baixas aos portugueses que as havidas na Batalha de La
Lys. Curiosamente, este militar teutónico foi obrigado a render-se aos ingleses
em África sem nunca ter sido derrotado. As guerras travadas pelos portugueses em
solo africano durante a I Grande Guerra não foram objecto de grande estudo e
divulgação, provavelmente por não serem elogiosas para o Exército Português.
Outro general alemão que
nos causou uma derrota estrondosa e que rebentou de vez com a 2ª Divisão do
Corpo Expedicionário Português foi Erich Friedrich Wilhelm Ludendorff
(1865-1937), o estratega da Batalha de La Lys, em Ypres na Bélgica, ofensiva
que foi baptizada de “Georgette” e que visava conquistar Calais e
Boulogne-sur-Mer. Este general com poderes praticamente ditatoriais nos últimos
meses da Guerra, herói na Alemanha e homem de muitos feitos, foi também o
principal defensor da guerra submarina, o que provocou a entrada imediata dos
Estados Unidos na Guerra.
Se Ludendorff foi o mentor
da ofensiva vitoriosa em La Lys, o seu executor foi o General Ferdinand Von
Quast (1850-1939), que à frente de oito divisões do 6º Exército Alemão, num
total de 55 000 homens, venceu a oposição portuguesa no dia 9 de Abril de 1918
em apenas quatro horas, abatendo cerca de 300 portugueses e fazendo 6 000 prisioneiros,
havendo quem contraponha a estes números outros bem diferentes: 1341 mortos,
4626 feridos, 1932 desaparecidos e 7440 prisioneiros.
Segundo o parecer unânime
de vários historiadores, a estrondosa derrota da 2ª Divisão do Corpo Expedicionário
Português, ficou a dever-se naquela circunstância aos seguintes factores: à
Revolução de Dezembro de 1917, ocorrida em Lisboa e que colocou na Presidência
da República o Major Doutor Sidónio Pais, o qual alterou profundamente a
política da Guerra preconizada pelo Partido Democrata; ao retorno a Lisboa de
muitos oficiais, por perseguição ou favor político; as tropas portuguesas nunca
vieram a ser rendidas pelas britânicas por ausência de transporte, o que veio a
provocar um grande desânimo nas hostes lusas.
Também os oficiais mais
endinheirados e com alguma influência conseguiram regressar a Portugal não retornando aos seus postos nas trincheiras; o moral das tropas era
baixíssimo, ao ponto de haver deserções e suicídios; também a disparidade do
número de homens influiu decididamente na sorte da batalha (55 000 alemães
contra 15 000 portugueses); o armamento alemão era melhor em qualidade e
quantidade; o ataque alemão deu-se no dia em que finalmente as tropas
portuguesas tiveram ordem para retirar para posições mais à retaguarda. E, para
ajudar à festa, as tropas britânicas fizeram recuar as suas posições, deixando
expostos os flancos do Corpo Expedicionário Português, o que facilitou de
sobremaneira o seu cerco e aniquilação.
Caso os aliados não
tivessem vencido a Guerra, a situação de Portugal e dos portugueses seria ainda
mais complicada. Para a história ficam 3 generais alemães que puseram o País de
luto e também o sangue derramado pela nossa gente que nos garantiu a
independência e o império de que mais tarde abriríamos mão. Há uma imagem do
Corpo Expedicionário Português que queremos dividir com os nossos leitores, a
relativa a um desfile desse Corpo na Rua de Belém em Lisboa, a mesma onde os
turistas continuam a procurar pelos célebres “Pastéis de Belém” (as diferenças
daquele tempo para a actualidade são nulas ou quase nulas! Ao fundo pode ver-se o Mosteiro dos Jerónimos).
Combateu-se pelos
impérios, depois pelas nações e hoje combate-se pela paz, sendo o combate actual
o mais justo e o único por quem vale a pena lutar! Falámos deste assunto por
estarmos a comemorar o 1º Centenário da I Grande Guerra, conflito que gerou 9
milhões de mortos e um número infindável de incapacitados e de feridos. Oxalá guerras destas não voltem a repetir-se.
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