O
CCOO junto com a Associação Pepos (uma associação sem fins lucrativos que
oferece ajuda a vítimas de género através de um cão especialmente treinado para
protecção) solicitaram junto das instituições locais e provinciais, que
considerem os cães-acompanhantes de vítimas de violência de género como
cães-guia, um passo decisivo para facilitar o seu acompanhamento às mulheres abusadas
em todos os momentos. Clara Castarnado, primeira responsável pelos Assuntos da
Mulher do CCOO de Granada, diz que este tipo de acção representa mais uma forma
de luta contra a violência de género e soma-se ao trabalho realizado
diariamente para melhorar os direitos e a protecção das vítimas.
Sem
nada contra a Andaluzia e sem preconceitos contra qualquer andaluz, julgo que a
presente exigência é perigosa, não deve e não pode ser posta em prática e
pretende legalizar uma actividade marginal, que desta forma viria a ser
infelizmente respeitada, para além de vulgarizar o excelente trabalho por
detrás dos cães-guia, que não abrem caminho para os invisuais à dentada. A
somar a isto há que considerar que a segurança fornecida por um cão não é
absoluta perante o uso pernicioso e surpreendente de uma arma de fogo. Entendo
esta exigência também perigosa porque se assim fosse estaríamos a passar uma
arma (o cão) para as mãos de qualquer um, nomeadamente para gente afectada,
dominada pelo medo e pela insegurança, o que mais cedo ou mais tarde, por
múltiplas razões, poderia causar vítimas inocentes. E depois, o que
justificaria a requisição de um cão destes? Estamos perante um estratagema que
visa a venda camuflada de cães e de serviços.
Se
cada um de nós tiver um cão para se defender ou fazer justiça, para que
servirão a polícia e os tribunais? Ao agir assim não estamos a passar-lhes um
certificado de incompetência e até de inutilidade? Certamente ninguém gostará
de viver num país onde cada um é juiz em causa própria. Será que um namorado,
um marido ou um ex-companheiro ciumento ou acometido de patologia grave
preferirá agredir uma mulher num espaço muito movimentado onde será facilmente
denunciado e manietado? Sejamos sinceros, agride-se e mata-se em casa, à sua
entrada e saída, em locais previamente combinados ou noutros que reúnam
condições para isso, onde cães e agressores têm livre acesso (infelizmente não
há cães para combater a incúria e a burrice).
Sentir-me
ia seguro num voo, se de um momento para o outro me deparasse com um cão a
rosnar, a mostrar-me os dentes e a intimidar-me? E se porventura num centro
comercial o animal me tomar por agressor, será a sua portadora capaz de cessar
automaticamente o seu ataque? Poderá qualquer um ou uma ter um cão destes? Os
senhorios temem os prejuízos causados por cães e não a sua especialidade ou
função. O facto de um cão ser um acompanhante de uma vítima de violência de
género, não garante que não roa rodapés, pés de armários ou incomode os
vizinhos. Será totalmente impossível que a portadora de um cão assim não o use
para outros fins e contra outras pessoas? Teremos todos condições para termos
uma arma assim? Peremptoriamente digo que não!
Em síntese, o facto dos cães acompanhantes de vítimas de género poderem ter livre acesso a todos os locais públicos e privados não garante em absoluto a protecção objectiva das vítimas, podendo inclusive aumentar a confusão e proceder a novas vítimas. Por outro lado, não podemos dar um cunho legal a cães preparados para causar dolo e até a morte de outrem, pois vivemos em democracia e como tal num estado de direito. Para que um serviço destes fosse reconhecido e gozasse das regalias dos cães-guias, era preciso atribuir responsabilidades, regulamentar a actividade e certificar formadores e cães para a função. Neste momento as companhias aéreas internacionais estão a limitar drasticamente o número dos animais nos seus voos, pelo que os cães da traulitada dificilmente seriam aceites, pois ninguém quer correr riscos (a queda é grande!). Considero, portanto, esta exigência andaluza um tremendo disparate.
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