sexta-feira, 5 de novembro de 2021

PERDOO, MAS NÃO ESQUEÇO!

 

A frase que encima este texto oiço-a constantemente entre o povo menos letrado, o mesmo que à falta de outros argumentos não hesita em dizer “não tenho palavras” e que se vale de outros chavões. “Perdoo, mas não esqueço”, não é perdoar de maneira alguma, mas uma forma dissimulada de esconder a dor, a raiva e o ódio, é deixar uma ferida aberta e “ficar de pé atrás”. Apesar de só trazer infelicidade, o ódio tem uma força brutal e de tal maneira a tem, que é preciso quase um milagre ou renascer para o levarmos de vencida, quiçá até de uma ajuda sobrenatural. E quando falamos de ódio racial, que nalguns é verdadeiramente visceral, vencê-lo ainda é mais difícil, porque por mais escondido que esteja e quando menos se espera ele volta à tona e toma conta dos seus hospedeiros. É e ódio racial que vamos tratar, de um crime ocorrido na cidade alemã de Neubrandenburg (brasão acima), no sudeste do estado de Mecklenburg-Vorpommern (o brasão de armas abaixo é da cidade russa Petrozavodsk, capital da Carélia).


Tudo se passou na manhã da passada terça-feira, dia 26 de outubro, no leste da cidade, onde dois alemães cercaram um cidadão russo de 18 anos, atacando-o com um spray de gás pimenta e mandando-lhe um cão para cima, insultando-o para que voltasse para a terra donde veio. Com a ajuda de outro jovem, rapaz de 17 anos, a vítima conseguiu escapar-se e a sua perna recebeu tratamento médico. Ontem à tarde, a polícia criminal de Neubrandenburg conseguiu encontrar e identificar o dono do cão, um homem de 40 anos, já conhecido várias vezes da polícia, que admitiu parcialmente o incidente. Por causa de um possível histórico político, a segurança do estado assumiu a investigação.

Algo me diz que os cidadãos russos não serão muito bem-vindos em Neubrandenburg, pelo menos por enquanto, apesar da cidade se encontrar geminada desde 1984 com a cidade russa de Petrozavodsk desde 1983, porque é difícil esquecer que o Exército Vermelho tenha incendiado 80% da cidade no final de 1945, poucos dias antes da assinatura do armistício da II Guerra Mundial. Alemães e russos estão hoje em paz uns com os outros, mas haverá sempre alguém pronto “a ajustar contas”, alguém que ainda não esqueceu as brutalidades cometidas no passado, o mesmo que eventualmente perdoou mas que ainda não esqueceu, porque este tipo de ódio teima em passar de geração em geração e como tal é avesso à paz entre as nações. Do mesmo modo, também haverá lugares na Rússia onde os alemães não serão nada bem-vindos. Quando é que as nações e os homens aprenderão a amar-se uns aos outros? Conseguirão por si mesmos fazê-lo? Seria bom, muito bom, mas sinceramente duvido!

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