Quando
o Cesar Millan andava na berra e a cada passo caía nas nossas casas pela
televisão como o grande “encantador de cães”, eu divertia-me imenso com os seus
diagnósticos e ainda mais com as suas soluções. Mas quem eu mais estranhava
eram os donos dos cães, na sua maioria “trouxas”, deslocados emocionalmente,
desprovidos de bom senso e ignorantes, primeiros responsáveis pelos problemas
dos seus cães. E a máxima do mexicano, que lhe deu credibilidade, foi sempre a
mesma e dizia o contrário - os donos estão inocentes, os cães é que são
culpados – o que era muito conveniente atendendo a quem lhe pagava as contas.
Nos States e em toda a parte, também por conveniência, quando uma pessoa morre
em consequência dos seus erros e há um cão envolvido, logo as culpas recaem
sobre o animal, porque o que mais importa é respeitar o bom-nome do falecido.
Em
Houston, cidade mais populosa do Estado do Texas e 4ª dos Estados Unidos, na
passada sexta-feira, dia 19 de novembro, dois cães de uma senhora entraram em
confronto com os de um vizinho no quintal. Quando a senhora (na foto seguinte) tentou
sanar o conflito, os seus próprios cães atacaram-na mortalmente, derrubando-a e
mordendo-lhe no pescoço, o que a levou a sangrar até à morte. A polícia espera
os resultados da autópsia para confirmar a causa da morte da senhora de 48 anos
de idade. Contudo, o médico-legista anunciou já com antecedência que a sua
morte foi um acidente e outras entidades confirmam que foi morta pelos seus
próprios cães. O marido da falecida já os levou para um abrigo, onde serão
abatidos na próxima segunda-feira. Há unanimidade quanto ao carinho que a
senhora dedicava aos seus cães, sendo descrita como uma “guardiã amorosa”. Toda
a gente se interroga perante o sucedido, como se fosse obra do demo ou coisa do
outro mundo!
Um
dos cãezinhos da senhora (na foto seguinte) é um menino capaz de parar um
javali adulto ou de se montar nele até o cansar, graças à sua força física e
potente mordedura, não sendo por isso um cão para toda a gente, por exigir
controlo absoluto e cumprimento pronto e imediato das ordens, pormenores que a
senhora teria desconsiderado em função do amor que lhe tinha. Por outro lado,
os dois cães estavam amatilhados (o segundo penso que era uma cadela) sendo o
cão o seu líder ao invés da sua dona. Quando os cães são valentes podem
entender os mimos dos donos como uma manifestação de submissão, o que os torna
ainda mais confiantes e mais agrava os problemas. Debaixo deste cenário, o
cão-alpha sente-se livre para tomar as suas decisões e em casos extremos não se
sente obrigado a respeitar a autoridade da dona, sendo até capaz de atacá-la
para a meter na ordem. Convém dizer que o cão implicado já tinha atingido a
maturidade emocional, o que o torna ainda mais seguro na sua tomada de decisões.
Há ainda a acrescentar uma rivalidade histórica e uma razão territorial, porque
a inimizade entre os cães não se iniciou naquele momento, foi-se agravando e a
defesa do território tornou ainda mas violenta a disputa, o que foi fatal para
a senhora, que foi entendida como aliada dos cães invasores.
A confirmar-se que foram os seus cães que a mataram, a morte da vítima ficou a dever-se à sua reacção simultaneamente instintiva e intempestiva, já que não tinha autoridade suficiente sobre os cães, devendo ir procurar ajuda ao invés de tentar sanar aquela contenda canina. A ausência de liderança objectiva sobre os cães, possivelmente também de qualquer tipo de treino de obediência digno desse nome, contribuíram decisivamente para este desfecho. A senhora foi igualmente vítima da sociedade em que vive, que insiste numa mentira - a criminosa que diz que os cães são todos iguais. Se assim fosse, eu caçaria javalis com Yorkshires e lebres com Bulldogs Ingleses. E que tal ter um esquadrão policial para a Ordem Pública constituído exclusivamente por Cães de Água? A única maneira de evitar tragédias destas é obrigar todos os donos a frequentar um curso básico de obediência canina e a obter nele o aproveitamento recomendado. O ocorrido em Houston não foi obra de um anjo que virou demónio, mas de um cão que não podia ser anjo e que agora sim, vai fazer-lhes companhia. Nestes casos, combater a ignorância é garantir a vida.
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