terça-feira, 3 de março de 2020

OS CÃES PODEM “CHEIRAR” A RADIAÇÃO DE CALOR

Os cães podem “cheirar” a radiação de calor, quem o diz é uma equipa de pesquisadores da Universidade de Lund (Suécia) e da Universidade Eötvös Loránd (Hungria), que publicaram os seus estudos e conclusões na revista “Scientific Reports". O nariz molhado e frio é o órgão sensorial mais importante de um cão. A sua membrana mucosa abriga até 300 milhões de células olfactivas e transforma o cão num animal macrosmático, nome dado aos animais cujo sentido do olfacto é particularmente bem desenvolvido e desempenha um papel central na percepção. O nariz humano é bem mais pobre em células olfactivas, tendo apenas cinco milhões de células delas, o que nos coloca entre os animais microsmáticos.
O desempenho olfactivo extraordinário dos cães não pode ser só determinado a partir do número dessas células específicas, porque também têm uma área enorme no cérebro responsável pelo processamento de sinais de odor. Os pesquisadores estimam que os cães podem cheirar um milhão de vezes melhor do que nós, mas isso não é tudo: de acordo com estes investigadores, os cães conseguem registar a fraca radiação de calor com seus órgãos olfactivos, não tocando apenas neles, mas a uma distância de 1 metro e meio!
Os biólogos liderados por Anna Bálint, da Universidade Eötvös-Loránd, em Budapeste, e Ronald Kröger, da Universidade de Lund, decidiram testar o nariz frio dos cães para comprovarem esse particular, o chamado espelho nasal (rinário), ou seja, a área preta e sem pelos em torno das narinas, que é muito mais frio em cães e noutros predadores que em herbívoros como os ungulados. A partir deste facto, os pesquisadores esperavam que o nariz do cão fosse particularmente sensível à radiação de calor devido ao frio". Para testar essa suposição, os cientistas realizaram experimentos com três cães, ensinando-os a distinguir dois objectos idênticos em aparência e cheiro.
No entanto, os objectos não eram exactamente os mesmos: graças às fontes de calor neles embutidas, uma era de 20 graus Celsius (correspondente à temperatura ambiente) e a outra era onze graus mais quente, correspondendo à temperatura da superfície corporal de um mamífero peludo. Os pesquisadores só foram capazes de determinar a diferença de temperatura pelo toque, mas os três cães foram capazes de identificar o objecto mais quente a 1,6m de distância, escrevem os cientistas.
Numa segunda experiência, a actividade cerebral em cães foi examinada através ressonância magnética funcional. Este procedimento de imagem possibilita observar alterações no fluxo sanguíneo nas diferentes áreas do cérebro, a partir das quais é possível tirar conclusões sobre a actividade neuronal nessas áreas. Concretamente, Bálint e os colegas examinaram 13 cães de raças diferentes, apresentando-lhes objectos que estavam à temperatura ambiente e outros elevados de 31 graus Celsius. Ficou demonstrado que nos cães, a área do córtex cerebral centralmente envolvida no processamento de estímulos de percepção foi activada muito mais fortemente pelos objectos de teste mais quentes. Os cientistas envolvidos neste estudo suspeitam que os cães herdaram esta habilidade do Lobo cinzento, seu ancestral, que podem usá-la durante as suas caçadas.
Obviamente que carecemos de mais estudos sobre o assunto, porque estamos apenas a assistir “ao levantar do pano”, o que não nos permite extrapolar as conclusões desta pesquisa ou usá-las como absolutas para o nosso trabalho. Porém, parece provado que os cães conseguem detectar o calor em objectos e animais, graças aos seus narizes ricamente doados de nervos, húmidos e mais frios que a temperatura ambiente. Diante disto, que tal usar objectos levemente aquecidos nas aulas de introdução à pistagem? Vale a pena testar!

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